.........Eu estava junto ao balcão. Tomava gasosa
do HERMES MACCARI e comia “mandolato” da BOA VISTA. Foram longos domingos de
amizade e paz. Até que um dia, um jogador de cartas, de origem italiana,
cometeu um ato de desonestidade ... “Tiavou não sei o quê!” Começou uma
“discutissão” das brabas! Espalhou-se pelas quatro mesas do Bar. Todos ficaram
de pé. Foram discutindo e saindo do Bar. Na esquina da Avenida EXPEDICIONÁRIO
com a Rua JÚLIO MAILHOS, não passava nenhum auto! Havia mais de duzentas
pessoas discutindo ou apartando a briga! O boné de um Italiano voou longe.
Graças a DEUS, não chegou haver luta corporal. Eram Pais de Família, honestos,
trabalhadores ... Alguns deles receberam a honraria máxima do Município:
“Cidadão Sarandiense” ...
.........Aquela turma de boné e suspensório, no
jogo de cartas ou na vida, cultuava a Honestidade. Sem esta, o mundo perdia o
brilho! Eram felizes com pouco. Eu me emociono, quando me lembro daquele
episódio: a briga não começou em respeito à presença de uma criança ... As
ondas sonoras da ZYU 36 atendiam o pedido de uma loira de blusa amarela:
“PROFESSOR APAIXONADO”, com NILTON CÉSAR ... Havia coisas bem mais
importantes... Palavras são como flexas: podem ferir! Brigas são como portas:
podem fechar ... para sempre!
.........Numa noite de verão, eu me deslocava pela
Rua TIRADENTES. Queria comprar pastel na Rodoviária do senhor ALVES. Estava
havendo uma grande confusão. Informei ao Pai, amigo de brincadeiras e perigos
... Ele me disse para não apartar a briga: os que apartam, às vezes, acabam
morrendo. Alguns homens estavam tentando segurar o Motorista da Patrola. Movido
pela curiosidade, cheguei mais perto. O furioso homem, seguro pelos braços,
jogou os pés contra o rosto do cidadão que havia lhe magoado. Uma multidão era
testemunha de mais um escândalo daquele competente profissional. Dependente
químico sem nenhum tratamento, já não escondia o tremor das mãos ... Não havia
a cultura de internar nem de tratar. Numa época em que não havia prontuários, nem
esperança. Eu ainda era pequeno, mas assisti, com tristeza, o naufrágio de uma
família inteira... provocado por um “hábito” que parecia inofensivo. O BRASIL
salva, apenas, 30% dos alcoólatras! Ser inteligente é não começar ...
.........Quando o doutor JONES ZANCHET, filho do
MASSIMO, era o Presidente do HARMONIA, fui ao Clube, à noite, para comprar
sonhos. O PAULO ROBERTO BLANK, locutor da Rádio SARANDI, fazia brincadeiras,
junto ao balcão. Começou uma briga entre dois torcedores. Com caipirinha nas
veias, um queria acabar com o outro. No auge da fúria, faltou luz na Cidade. Ninguém
via nada! Havia o risco de alguém ser atingido por uma cadeirada perdida.
Ciente do perigo, fui me proteger na sala do Presidente. Fiquei na porta
aguardando os fatos. O ecônomo não tinha nem lanterna. Contar com a sorte fazia
parte da nossa cultura. Seguiram-se
momentos de suspense... O brigão, que se achava mais esperto, cometeu um erro
estratégico: acendeu um fósforo! Tomou uma bofetada cinematográfica! Os palitos
de fósforo voaram! A situação piorou: sem luz, sem fósforo, sem lanterna, com
um ferido ... Quando a luz voltou, o Clube já era outro. Os homens também! O
senhor ILDO MANFRO colocou na Eletrola um novo "Long Play" (LP): “ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA
OS BEATLES E OS ROLING STONES” ... Ao chegar em meu lar sagrado, a Mãe (
JOVILDE ) me perguntou sobre os sonhos... A causa do conflito foi a personalidade forte
dos envolvidos. O orgulho provoca discórdia. A humildade é marca dos grandes
homens!
.........Nos anos 50 e 60, não havia briga de
torcidas em SARANDI. Fato elogiável! Futebol é arte e alegria. Violência nunca
foi Futebol. A briga mais longa ocorreu
na época do Ginásio. Durante um jogo de futebol, realizado num gramado que
havia do lado de cima do Ginásio Sarandi, um zagueiro marcava com rigor um
centroavante. Começaram discutir. Trocaram socos e pontapés, por mais de meia
hora. Não houve perdedor. Nenhum deles caiu. Não cansaram. Não aceitaram ser
apartados. Os colegas de aula ficaram admirados pela coragem e resistência dos
contendores. Na verdade, a gente pensa que conhece os irmãos ... As camisas
ficaram imprestáveis! Ainda hoje, é difícil ensinar aos estudantes “SABER
PERDER”. Um queria, apenas, fazer gol. O outro não queria deixar. Ambos estavam
certos. Mas a deslealdade não deveria ter entrado em campo! O homem de caráter
joga limpo!
.........Num baile realizado no antigo Salão do
Ipiranga, o Soldado PAIANI foi atingido por um tiro de revólver nas costelas.
Ele era um Brigadiano muito benquisto na Cidade. Ainda na mesma noite, fui, com
alguns amigos, ao Hospital Santo Antônio, do doutor MÁRIO AZAMBUJA. Estávamos
muito preocupados. Entrei na Sala de Cirurgia. O bravo Militar me recebeu
sorridente. Estava feliz por estar vivo. Inclinado numa cama, sem camisa,
mostrando, no lado direito do peito, o furo da bala ... Passou entre as
costelas. O projetil atravessou “fora e fora”, mas, segundo a Enfermeira, não
atingiu nada importante ... O ADEMAR ( “GAUCHINHO” ), filho de um outro
Brigadiano, disse que o amigo PAIANI estava fora de perigo ... Já tinha tomado
uma aspirina! A camisa do sobrevivente não dava mais para usar. Mas seria
guardada de lembrança... Bons tempos! Se um Carioca toma um balaço desses,
desmorona na hora! (Uma causa importante daquele episódio: falta de uma Cultura
de Segurança. As autoridades têm o dever de impedir que os cidadãos entrem
armados nos bailes! Por quê entrar com armas nos bailes, nos estádios, nos
cinemas ...?). Se beber, não dirija, não atire! A bebida alcoólica contribuiu
... para estragar a noite ...
.........Meus jovens! O Povo Sarandiense sempre
foi religioso e pacífico. Minha terra natal nunca foi “SARANDI DO OESTE!” Era
um lugar de fraternidade sincera. Guris pobres brincavam junto com guris ricos.
Os médicos sabiam os nomes dos pobres. Atendiam e curavam, sem cobrar, sem
papelada ... Tudo era para todos.
.........Quando fui estudar na Academia Militar das Agulhas Negras ( AMAN ), em 1974, nos primeiros dias, dois cadetes brigaram. Eram de regiões e culturas diferentes. O então Capitão CUPERTINO, Comandante da 2ª Companhia, fez uma formatura para explorar o episódio. Transmitiu orientação e experiência. Concluiu sua eloquente fala, dizendo: “A MELHOR BRIGA NÃO VALE A CAMISA!” ( A PAZ é um Objetivo Nacional Permanente ).
.........Quando fui estudar na Academia Militar das Agulhas Negras ( AMAN ), em 1974, nos primeiros dias, dois cadetes brigaram. Eram de regiões e culturas diferentes. O então Capitão CUPERTINO, Comandante da 2ª Companhia, fez uma formatura para explorar o episódio. Transmitiu orientação e experiência. Concluiu sua eloquente fala, dizendo: “A MELHOR BRIGA NÃO VALE A CAMISA!” ( A PAZ é um Objetivo Nacional Permanente ).
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