quinta-feira, 30 de maio de 2019

QUEDAS PERIGOSAS

.........O objetivo desta crônica é colaborar para que não ocorram quedas e suas consequências indesejáveis. Recentemente, alguns jovens estavam jogando volibol, numa quadra de areia.  A bola ficou presa nos galhos de uma árvore. Um deles subiu, em condições desfavoráveis. Convenci-o a descer. Conversei com eles sobre os riscos. Com algumas pedras, resgatamos a bola. Um tombo daquela altura poderia ser fatal!

.........Alguns casos são engraçados; outros, trágicos. O importante é conhecermos as causas de cada um deles para que não se repitam. As quedas podem deixar sequelas! No Brasil, ocorrem milhares por ano, principalmente na construção civil. Para exemplificar, citarei  algumas que presenciei ou tomei conhecimento.

.........Quando eu tinha 3 anos de idade, caí da área da casa velha (de madeira), sobre uma galinha. Foi um tombo de, mais ou menos, 2 metros de altura. A ave não sobreviveu. Eu perdi alguns dentes da frente. Há indícios de que fui empurrado... para visitar o galinheiro!

.........No pátio dos fundos da casa nova, havia um pessegueiro com uma corda pendurada. Imitando o cinema, cada guri fazia acrobacias. O Carlos Luiz (Ítio) não teve sorte. Caiu com o pescosço no chão! Ficou, momentaneamente, sem conseguiir respirar. Voltou para casa gemendo. Ficamos com pena dele.

.........A minha irmã (Lorena), quando criança,  caiu da escada dos fundos da casa. Deve ter se distraído. Bateu a cabeça. Ficou inconsciente. O Pai (Fridolino) socorreu-a, levando-a nos braços, correndo, até o Hospital Santo Antônio de  Sarandi.

.........A minha Mãe (Jovilde), ao descer para a Loja, pela escada interna (de madeira), caiu junto com a escada. Esta, desengatou-se. Ela não se machucou. A escada era móvel. Ficava, apenas, apoiada. A Mãe foi salva pelo Santo Antônio ou Anjo da Guarda.

.........O meu Pai,  quando jovem, participava de corridas na colônia alemã. Ao pular uma cerca de pedras, tropeçou e caiu. Ficou com um pedaço de  pedra dentro do peito do pé! Quando idoso (84), caiu dentro de casa e quebrou o fêmur!

.........No 27 GAC (Ijuí-RS), o Soldado Paulo Roberto caiu de um abacateiro. Um Sargento havia lhe ordenado a colher frutas. No meio da tarefa,  sofreu um ataque epiléptico. Caiu sobre a grama alta. A doença era ignorada. Um Recruta caiu, ao executar a pista de cordas. Lesionou a coluna. A carreira militar foi interrompida! Braços insuficientes!

.........O caso do Negro Saul é conhecido na Cidade. Num domingo de clássico, quando o Harmonia entrou em campo (que saudade!), houve um foguetório emocionante. O fiel torcedor, alcoolizado, caiu de costas dentro do túnel do Estádio Pedro Demarco. O álcool é inimigo da segurança. Sempre foi!

.........Na AMAN, o meu Colega de Turma, então Cadete Serrano, caiu do  rapel. Os braços foram vencidos pelos exercícios exaustivos. Avisou: “vou me largar!” Um outro Cadete caiu de uma corda, dentro do Ginásio, no final da subida, com equipamentos. Quebrou o pescoço! O então Cadete Amauri, ao atravessar um rio, por uma corda (comando crow), caiu com o corpo sobre uma perna. Houve uma fratura. Esta, provocou sofrimento e transtornos. O Companheiro estava com sobrepeso!

.........Aqui em Porto Alegre, um Operário caiu do telhado de uma casa. Ele não estava usando a corda de segurança. Caiu de pé, mas, mesmo assim, foi levado ao Hospital. Um trapezista treinado caiu do  trapézio (problema de saúde). No Parque Farroupilha, um Professor já caiu duas vezes, durante as corridas. Em ambas, bateu com o rosto no solo. Está traumatizado! Um idoso, que andava com bengala, caiu na escada de um shopping. Poderia ter usado o elevador!

.........Quando eu servia em Brasília, durante uma corrida, tropecei e caí sobre o solo seco e duro. Quebrei a mão esquerda. Sofri muita dor e perda de tempo.

.........O que fazer para evitar quedas nas corridas e caminhadas? O atleta não pode se distrair! Com as pedras, buracos e raízes, todo o cuidado é pouco. Treinar em pistas de atletismo e gramados. Sempre que possível, usar equipamento de segurança.

.........As crianças devem ser vigiadas. Os idosos  merecem cuidados especiais. Dentro dos lares, devem ser instaladas barras de apoio. Todas as normas de segurança são bem-vindas. As quedas provocam prejuízos e dores! Vale mais prevenir do que remediar!

.........E o Anjo da Guarda? Ninguém está só. Cada um de nós tem a proteção de um Anjo da Guarda!

sexta-feira, 17 de maio de 2019

A Nevasca de 65


.........Bom dia, Amigo Leitor! O objetivo deste trabalho é deixar aos Sarandienses uma lembrança do fenômeno que encantou a todos. Estou encontrando dificuldade. Faz muito tempo! Mais de 50 anos! Eu e as palavras temos limitações. Como descrever o Mecânico Domingos Zancanella trabalhando, no meio da neve, em caminhões com panes?


Como traduzir a alegria dos namorados Nilza e Jairo, próximos a um boneco de neve? Espero que as belas imagens falem por nós!



.........Nestes últimos dias, estive me perguntando: como estava a noite de  19 Ago 1965? O locutor da Emissora Sarandiense (ZYU 36) deve ter informado as condições do  clima. Devia estar garoando, muito frio, temperatura em declínio... A Mãe (Jovilde) não gostava. Ela tinha que lavar roupa na água gelada!

.........Eu era admirador da Rádio Sarandi. Ela  e eu tínhamos, apenas, 11 anos. Fui dormir no horário normal. Na manhã seguinte (sexta-feira), eu teria aula na 1ª série do Ginásio Sarandi. Ao clarear do dia, a Mãe me acordou: “Vem! Venha ver!” Levou-me até à cozinha. Apontou para janela. Flocos grandes de neve caiam lentamente. Fiquei eufórico. Inesquecível!


.........Tomei café e subi para o terreno do casal Vitório e Angelina Piccini. Os filhos (Hélio, Carlos Luiz e Carmem Lúcia) já haviam feito um boneco de neve. Estavam fazendo “guerra de neve”. As minhas mãos ficaram geladas e doloridas. Senti frio. Voltei para me esquentar. A neve integrou os vizinhos, num clima  de alegria. Este fato aconteceu na frente de outras casas.




........Fiquei um pouco sentado na caixa de lenha (móvel com tampa), ao lado do fogão, na cozinha. Após, acompanhei a situação dos telhados. Estes não haviam sido feitos para a neve deslizar. O telhado da nossa casa era alto. Seria perigoso alguém subir para tirar a neve.

.........A casa do Arduino e Gema Giovanini era de madeira. Em volta, umas 10 pessoas avaliavam as condições. Havia o risco de o telhado cair, com o peso da neve. Foi um gesto bonito de união. Em dado momento, decidiram retirar a neve. Vários amigos colaboraram! Foi emocionante! Este gesto bonito de fraternidade aconteceu em dezenas de lares. O Sarandiense não estava só!



.........Os fotógrafos foram verdadeiros herois. Percorreram a Cidade. Arriscaram-se sob frio intenso. Subiram nas partes mais altas. Eles sabiam que a missão era muito nobre! Quantas fotos bateram?



.........As casas possuíam fogão à lenha. Preparava alimentos e esquentava a cozinha. Os chaminés trabalhavam sem parar. O Pai (Fridolino) vendia fogões (de vários números) e os canos. É provável que algumas famílias ficaram sem lenha  e, até, sem alimentos. Os vizinhos eram a salvação. A dificuldade une as pessoas!

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........Os pobres não tinham luz. O Pai vendia querosene para os lampiões. No dia 21 Ago 65 (sábado), a neve começou a derreter e o frio aumentou. Sentimos muito frio! Os pobres foram os que mais sofreram. Eles são unidos!

.........Na propriedade do Pai, as instalações não caíram. Na colônia, há relato de desabamento de instalações. A Família Gelain, do Pinhalzinho, durante os 4 dias de maior frio, ficou sem lenha para se esquentar. Numa situação dramática, tiveram que queimar rodas de carroça!


.........Na Cidade, a neve atingiu quase meio metro de altura! Perguntei o motivo da nevasca. Responderam: “Foi um fenômeno!” Não fiquei satisfeito. Eu queria saber por que houve o fenômeno. Nem tudo foi beleza. Os animais não conseguiam pastar. As verduras dos canteiros ficaram perdidas. Galhos quebraram. Pássaros morreram. E as pessoas? A reação foi diferente. Algumas foram brincar, outras rezavam, outras choravam...

.........Cada um dos 4.000 Sarandienses tinha uma história para contar. A Cidade demorou alguns dias para voltar à vida  normal. No Ginásio, as redações da neve foram escritas no dia 25 Ago 65. Na Loja do Pai (Fridolino), cada freguês contava um episódio. Alguém deve ter dado a culpa para o Governo!
.........A neve ocorreu nas partes altas do Estado. Não foi parelha. Em Vacaria nevou mais do que Sarandi. Nevou, também, nas serras de Santa Catarina. Era coisa de cinema como a neve se depositava sobre os galhos das árvores, objetos diversos... No pátio da casa, ela fez um pneu de neve sobre um de borracha! O fotógrafo profissional Luiz Donazzolo, entregou-me, pela filha Ana, uma lembrança da neve: a Avenida 7 de Setembro! Que saudade! Obrigado!


.........A beleza e a euforia já se foram. Ficou a saudade dos bonecos, das “guerras” de neve, dos Pais, da Rádio Sarandi e de uma Cidade que não existe mais. A neve integrou as famílias, pela alegria, pelas brincadeiras, pelas dificuldades, pelo medo e pelo frio intenso. E, depois, pela saudade, pelas lembranças e por algumas lágrimas.


P S – Colaboraram: Ana H Berlet de Almeida, Rogério Machado, Artur Fernando Biavatti, Henry A Weingartner e José Leal de Oliveira.

P S 2 – Anexo: fotografias.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

LIÇÕES DO PASSADO

A Loja do Fridolino

.........Bom dia, Amigo Leitor! O objetivo deste trabalho é salvar do esquecimento alguns fatos marcantes da história da Casa Santo Antônio, a “Loja do Fridolino”, líder comercial. Estou longe do arquivo e das fotografias. Tenho algumas lembranças e muita saudade. Uma lembrança puxa a outra. As pessoas que viveram aqueles dias felizes poderão complementar a redação.

.........Oriundos do Empório Mercantil, o Pai e a Dona Irma (Maccari Grapíglia), fundaram, em 02 Mai 57, uma nova empresa. Localizava-se na esquina da Av 7 de Setembro com a Rua Tiradentes. A primeira freguesa foi uma senhora. Comprou dois pinicos. Achou o preço muito bom. A Sócia do Pai era leal, dedicada, compreensiva, discreta...

.........Trabalharam na Loja, dentre outras, as seguintes pessoas: Jovilde (esposa), Lorena (filha), Clóvis (filho), Marlene Bozetti Papini, Ermides Bozetti, Duda Paris, Ivanice Paris, Neli Feil da Rosa Mattei, Sergio Girardi, Claudia Reolon...

.........A Loja vendia de tudo um pouco: armas, munições, roupas, tecidos, ferragens, bolitas, bacalhau, fumo, óleo Palmolive, Q-Suco, alimentos, tintas, canos para chaminé, querosene, pregos, camas, colchões, material de pescaria, brinquedos e artigos mediante encomendas. O Pai, com boa vontade, vendia, fora de hora, foguetes, material de pesca, roupas, colaborando com a economia local.

.........Ao longo dos 31 anos de vida da empresa, aconteceram vários fatos engraçados. Ainda na década de 50, um guri escondeu uma espingarda. Todos procuraram. Ninguém encontrou. O piá, que não quer se identificar, tinha medo do “João Barbudo” e queria enfrentá-lo. Ainda bem que criança não sabe guardar segredo: a arma apareceu.

.........As armas eram belas. Os fregueses experimentavam dando tiros na parede de cima do armazém, espantando a meninada e os gatos (nasciam no armazém).

.........Numa tarde de muito trabalho, uma caminhoneta deu ré na Rua Tiradentes, para descarregar. Entrou no pátio e caiu no “poço negro”! Tiveram que juntar várias pessoas para ajudar. O Pai exclamou:”Quem se viu isto?”

.........Quando foi lançada a campanha dos refrigerantes com prêmios nas tampinhas, um guri perguntava para o outro: “Tu já tomou a tua Pepsi hoje?” Era uma época de fantasia e felicidade. A Loja participou.

.........No temporal de 1960, o Armazém ficou estufado. Inflou, mas não caiu. Era um local de depósito e de brincadeiras diversas. O Pai gostava de dar susto nos cachorros. Ele gritava: “OIALÁ!” Gostava de citar provérvios. Sabia dezenas de cor. “Me dizes com quem andas que eu te direi quem és!”, "Mais vale acender uma vela do que maldizer a escuridão."... Achava bonito o lema da Transportadora Aurora do Lino Hahn: “O Brasil produz. A Aurora conduz”.

.........O Pai e o amigo Lino, quando descarregavam  um caminhão, foram surpreendidos por um enorme ratão. Atrapalharam-se e o rato fugiu para o sistema de esgoto. Aconteciam fatos pitorescos no dia-a-dia, como a queda de uma cobra da bergamoteira. O gaudério não sabe se enfrenta ou foje! A erva-mate nem era tão boa assim!

.........Mas nem todas as pessoas nos dão alegrias. Aconteceram, também, dias tristes. O Pai sofreu um grande desgosto, quando um freguês furtou, de cima do balcão, um revólver calibre 38. A arma foi recuperada com coragem e risco de perder a vida.

.........Dias muito tristes foram aqueles em que uma arma, vendida pela Loja, foi empregada para cometer um crime. A vítima foi uma querida senhora de família tradicional. (A autoridade autoriza. O comerciante vende. O freguês emprega a  arma, para o bem ou  para o mal).

.........Na década de 60, ainda criança, acompanhei uma reunião, cujo objetivo era liquidar a empresa. Havia inflação, prateleiras vazias... Foi uma noite dramática. Graças a Deus, decidiram manter a empresa viva. O dia do mês mais difícil para o meu Pai era aquele da confecção do mapa controle de armas e munições. Era um sofrimento! O Tenente do Exército sempre elogiava o trabalho pela exatidão e capricho!

.........O Pai tinha o apoio de amigos leais: Procópio Silveira, Tobias Bachi, Lino Hahn, Albino Pizatto, Hilário Kern, Helton Klein, Oscar Seriotti, Arduino Giovanini...

.........As janelas da Loja testemunharam lições de vida, paixões juvenis, histórias de amor... Em 1969, a  Ivanice foi eleita Miss Sarandi! A Neli, meiga e leal, era a Caixa. Na década de 80, fazia as inscrições dos atletas das corridas rústicas. Quando Ela voltou do Mato Grosso, disse-me: “Os dias mais felizes das nossas vidas foram aqueles do tempo da Loja do Fridolino!”

.........Dores nas pernas. Caminhões para descarregar. A Loja quase sempre cheia de gente. Quantas chuvaradas. Quantas manhãs frias. O comércio é para fortes! O balanço anual era a semana mais trabalhosa. Num ambiente de união, com o lápis na orelha e trajes simples, tinha que somar tudo.

.........Um homem insatisfeito acusou o Gerente de ladrão. O Pai, devoto de Santo Antônio, ficou furioso. A honestidade era um valor supremo! Outro dia triste foi aquele em que os ladrões mataram, à noite, na hora do jantar, dois fregueses da Loja, o casal Tártaro. Crime bárbaro!

.........Nas noites de outono, quando eu dizia que iria à Loja buscar uma lata de compota, percebia a alegria no rosto dos meus familiares. A nossa vida era abençoada, feita de pequenas coisas... e de outras nem tão pequenas.

.........A melancia das 4 horas, o churrasco dominical de ovelha, o Pai feliz numa ponta da mesa (orando antes da refeição), o olhar atento da Mãe, o sonho e o pastel do Clube Harmonia, os pinhões do fogão à lenha, a visita afetuosa dos parentes, o respeito dos fregueses, a presença do Santo Antônio, a uva madura, o chocolate com bolacha, as caixas de brinquedos vindas da Capital, a colheita dos abacates, as histórias do Nono Gava, o Fusca branco, o Corcel azul, o gato branco e preto, o cachorrinho preto...

.........Ter onde buscar, quando tantos passam fome! Ter como pagar, quando outros tantos morrem de fome! Oh! Grande felicidade! Tu sabes colocar um sorriso no rosto do homem justo! Não permitas que o tempo leve embora as coisas pequenas que amamos! Obrigado, Casa Santo Antônio!