sábado, 23 de dezembro de 2017

Corações Humildes


.........Numa tarde de dezembro, saí por aí sem destino. Eu precisava desabafar, pensar, entender... Por que algumas iniciativas não deram certo? A lenta aproximação de mais um Natal deixava a Capital do Rio Grande com a sensibilidade à flor da pele... Ensinaram-me a confiar. É uma grande lição. Mas confiar em quem? Um Tenente da Academia Militar das  Agulhas Negras me ensinou que, na vida, há pessoas certas e pessoas erradas... Taiguara disse que não queria a juventude assim perdida... Eu não quero a Pátria assim perdida!  Já não estava mais só: caminhava com a tristeza...

.........Numa esquina qualquer, dobrei para a esquerda. Dobrei por dobrar. Seguia uma trilha perigosa: a indiferença. Na calçada, passei por um gaúcho idoso, pilchado, deitado, dependente químico... Ele não quis ser ajudado... Uma bola pequena “foge” de um pátio. Tentava encontrar explicações para episódios e mágoas... Quem controla a falsidade dos corações? Debaixo deste céu azul, parece que nada é igual... ver e não ver, sentir e não sentir, crer e não crer...

.........O Escritor Alemão Johann Wolfgang Von Goethe ensinou que nem todos os caminhos  são para todos os caminhantes. Há homens que nos orgulham. Há homens que nos envergonham. Alguns exaltam o Livro, mas não publicam o trabalho dos escritores. Há soldados e soldados... Todos precisam de medalhas. Todos precisam de perdão...

.........Os medicamentos estão caros. Algumas famílias não conseguem comprar. Chegam até a cancelar o tratamento médico... O numerário para os remédios deve vir do Orçamento da União. O Brasil é um dos países que mais cobra impostos no mundo... Alguns prefeitos fornecem, gratuitamente, os medicamentos ao Povo!

.........Nas minhas caminhadas, encontrei aposentados insatisfeitos... alguns revoltados. Para eles fica claro que a nossa Pátria é duas! Os aposentados brasileiros tiveram seus salários diminuídos nos últimos anos. Desempenham outras atividades profissionais... para não passar fome! Morrem de tristeza, quando o jornal publica aumentos generosos para categorias que já recebem salários polpudos... É justo? O que significa isso? Significa que o Líder não paga os idosos, de acordo com a grandeza do trabalho que  fizeram... para construir o Brasil...

.........Os nossos queridos mestres nunca foram remunerados de acordo com a nobreza da profissão...  Mais do que todos, sabem que a Educação é o caminho... para a felicidade. Eles têm a importante missão de transformar crianças inexperientes ... em cidadãos honestos e felizes...

.........Oh! Que saudade de um BRASIL que não existe mais!  A Palavra era um valor, cultuado com orgulho... Às vezes, penso que a Palavra já não vale mais nada... E a Confiança? Por que trabalham tanto para fortalecer as marcas? Alguns espertos já não cumprem o que foi decidido nas reuniões... Fazem pouco caso da Honestidade. O futuro, porém, vai provar que a corrupção prejudica a todos!

.........E a amizade? Outrora, valor tão belo... Um amigo leal, compreensivo, confiável, presente nas horas amargas... é uma espécie de riqueza... Um Amigo verdadeiro mostra as maravilhas do mundo... É com melancolia que encontro conspiradores da Família... Eles acreditam que podem ser felizes sem ela...

.........A Língua Portuguesa é patrimônio nacional. Orgulho a um tempo, prazer a outro... Ferramenta áurea que o saber lapida... Silente clama  por estudo profundo...

.........Um automóvel de luxo não respeita a faixa de segurança. O egoísmo falou mais alto... Se o motorista afoito tivesse parado, poderia ter visto a beleza dos enfeites de Natal...

.........Decidi entrar na Igreja São Francisco de Assis. Estava fechada. E agora...?... Um Soldado conduz o Menino, de volta para casa, com a bola e o sentido da vida... imitada pelo Cinema: eu estava vivendo “Um Dia de Fúria”...



.........Velha charrete surge. Desloca-se pela Rua São Luiz, no sentido Centro-bairro. Conduzida por homem pobre. Transportando crianças alegres, cães atentos e sacolas de plástico. Não cabe mais nada! O cavalo, ensinado, ao trote, quer voltar para casa...

.........Na frente da Igreja, aquele sofrido chefe de família levanta-se, lentamente, equilibrando-se... correndo o risco de cair... Com elegância,  fé e devoção, faz o Sinal da Cruz... que a saudosa Mãe ensinou, quando pequeno...

.........Os sinos tocam. As portas da Igreja se abrem. Pequeno milagre, escondido na poluição da Cidade grande... Bela orquídea, a brotar por entre as pedras... Aquele gesto nobre, de um coração puro, serenou as águas da minha revolta... A fome não expulsa Deus do coração brasileiro! A miséria não cala a voz de Jesus na alma verde e amarela! Vamos começar de novo, ainda nesta tarde! O Altíssimo e Jesus de Nazaré estão vivos...  nas profundezas dos corações  humildes...


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Tempo de Gratidão


.........Bom dia, Amigo Leitor! Hoje quero tomar chimarrão com o senhor. Falar sobre valores da nossa Terra... Fico triste quando vejo fatos históricos se perdendo. O tempo passa e eles vão sendo esquecidos. É uma punição para quem trabalhou durante uma vida inteira! O que podemos fazer? Guardar as cartas e fotografias, valorizar os historiadores, escrever um livro “Os Prefeitos da Minha Terra”... No futuro, o trabalho terá valor incalculável! Facilitará as pesquisas. 

.........Mas e os demais líderes? Não conquistaram, também, o coração do Povo? Não é justo que os seus nomes honrados constem no “Livro da História da Cidade”? Com objetivo de colaborar, proponho uma página, a ser, mais tarde, aperfeiçoada, sobre uma senhora valorosa: Diva Pedrinha Cóttica!   

.........Oriunda de Família honesta, trabalhadora, educada... filha de Antônio Cóttica e de Júlia Consoli Cóttica. Numa Cidade vocacionada para a fé e a fraternidade, descobriu, ainda pequena, o gosto pelas coisas do Alto... Contemplando a Beleza do manto azul de Nossa Senhora, sonhou restaurar a Gruta...

.........Humilde, trabalhou como Costureira da Família. Capaz e criativa, foi pioneira no comércio de roupas infantis. Produziu bens (confecções para as crianças) para a economia local. Apesar das crises cíclicas, persistiu  com a empresa na Avenida Expedicionário. Colaborou, destarte, para o desenvolvimento da nossa Terra.

.........A personalidade da senhora Diva é uma lição para as jovens de hoje. Dinâmica, elegante, enfática, exigente, determinada, organizada... Gostava da perfeição. Sabia planejar e delegar tarefas... Foi uma “guerreira” inteligente. Criava, naturalmente, vínculos afetivos... Quando os Pais ficaram doentes, cuidou deles com responsabilidade, carinho e amor.

.........Acompanhou, de perto, em outras décadas, o trabalho da própria Mãe, na fundação do Lar da Menina, encorajada por mulheres abnegadas. Não era de se omitir. Publicou dezenas de artigos nos jornais, abordando temas de interesse dos cidadãos. Presidiu o Lar da Menina, durante longos anos. Foram mandatos marcados pelo Amor e pela Doação. Fez da Instituição a segunda casa... de cada menina uma filha. Algumas foram abandonadas pela sorte, mas não pela “Madrinha”.

.........O que é um líder? É um conjunto de qualidades! Dentre elas o Bom Humor. A Diva Pedrinha sabia ser engraçada. Gostava das festas de aniversário das amigas. Comparecia trajada a caráter, imitando personagens cômicos, palhaços... Não era da sua índole ficar pelo caminho... Com cabelos brancos ou não. Com remédios ou não. Seguiu em frente e, com o apoio da Cidade, entregou a Gruta restaurada.

.........Durante décadas, a Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes precisou dela. Presidiu o Apostolado da Oração. Participou, com admirável assiduidade, de acontecimentos religiosos. Organizou cultos, procissões, festas, encontros... Educou pessoas! Trabalhou demais! Trabalhou pelo Povo!

.........O senhor sabe, Amigo Leitor: quem primeiro falou no tempo das coisas foi “O Livro dos Livros”... Há tempo de semear. Há tempo de colher. Se alguma coisa não deu certo... é tempo de perdoar. Se o vento espalha as folhas do “Livro da Vida”... é tempo de agradecer!

.........À DIVA PEDRINHA CÓTTICA
.........A CIDADE AGRADECIDA!

(Só foi possível tornar realidade este trabalho graças ao incentivo e à colaboração das amigas leais da Sra Diva).

domingo, 17 de dezembro de 2017

Lições do Passado - Dr Milton Alves de Souza

(Dr Milton Alves de Souza,
o quarto, da direita para a esquerda.
Foto: Professor Rogério Machado)
.........Nas décadas de 40 e 50, os médicos formados na Capital davam provas de coragem ao decidirem trabalhar no interior. Com poucos colegas, tinham que enfrentar doenças ligadas à ignorância do Povo... Quando um epiléptico desmaiava na calçada, curiosos se juntavam.  Todos emitiam um laudo... Dali a pouco, o infeliz levantava... para espanto geral. Cães doentes, inclusive com Raiva, circulavam pelo Município. O consumo de alimentos salgados provocava derrames...

.........Em 1954, o Dr MILTON foi pioneiro ao empregar um novo e revolucionário anestésico local, recebido naquela semana. Era uma espécie de lança-perfume que, acionado, criava um jato gelado, anestesiando o local, em menos de um minuto... O paciente (cobaia) foi um jovem de 14 anos, dois metros de “altitude”, residente na minha Rua (Tiradentes). Estava sofrendo fortes dores com um furúnculo na coxa direita. O Dr Milton, então, com habilidade e um bisturi limpou e fez o curativo... Os métodos caseiros nem sempre davam resultado. No final, os médicos eram os salvadores...

.........Durante a infância, num Sarandi que já não existe mais, a Religião era valorizada. As famílias compareciam completas aos eventos: Missa do Galo, Festa de Santo Antônio, Coroação de Nossa Senhora, Crisma... Algumas palavras entraram em nossas peles: Fraternidade, Óstia, Jesus, Padre, Seminário, Papa...

.........O ano de 1960 trouxe a Inauguração da nova Capital do Brasil. E a minha Crisma! A Irmã Verônica disse que cada criança deveria ter um Padrinho. Mas eu era um piá sem Padrinho. Fui falar com o Pai (Fridolino): tirou o lápis da orelha, pensou... ainda dava tempo de escolher alguém de valor. A Missa Festiva seria no próximo domingo...

.........Decidi escolher o Médico mais popular: o Dr Milton. Mas havia um problema: tinha que combinar com os russos. Quem disse que o Dr iria aceitar? Uma guria invejosa, tipo tagarela, exclamou, na Loja: “Ele tem mania de grandeza!” É! Pode ser! Mas a minha geração travou uma batalha imensa contra o complexo de inferioridade...

.........A Mãe (Jovilde) me incentivou: “Bote a calça brim coringa, o  congo e a camisa nova, listrada... Não tenha medo! Não deixe a Crisma para o ano que vem!” Com seis anos de idade, sem saber direito o que dizer, lá fui eu... O consultório ficava, em duas salas, na parte frontal do Cinema (Cine Guarany), ainda sem as pastilhas coloridas na parede.  Havia poucos doentes para atender. Uma senhora pobre, com “pontada”, saiu... Fui entrando... Pedi se podia entrar... O Médico largou a caneta, levantou a cabeça e me olhou.  Nada falou, inicialmente. Mas eu consegui captar o pensamento dele: “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece!” Perguntou: “Você está doente? O que está sentindo?” Respondi: “Eu sou filho do Fridolino. Escolhi o senhor para ser o meu Padrinho de Crisma. O senhor aceita?” O Dr Milton me surpreendeu. A decisão dele foi imediata: “Sim! Eu aceito!”

.........Na Missa da Crisma, a Igreja Matriz N S de Lourdes estava lotada. O meu Padrinho compareceu. Deu-me de presente uma caneta Parker 21, verde escura. Era superada, apenas, pela caneta tinteiro Parker 51. Guardo de lembrança, até hoje, as partes dela. O Pai, religioso desde pequeno, levou a Família toda ao fotógrafo para registrar o fato. É a única fotografia em que a Família VOGT de Sarandi aparece reunida. Dentre milhares de imagens, talvez seja a de maior valor histórico...

.........O Dr Milton fazia palestras, educava as pessoas, curava os jovens, tratava os pobres, que nem sempre possuíam dinheiro na algibeira... Numa noite fria, quando estava hospedado no andar de cima do Hospital Santo Antônio, atendeu uma menina que sentia dores no abdômem. Disse à Mãe da guria: “Ela deve ter comido fruta verde!”

.........O Povo Sarandiense costumava organizar rifas. Coube-me a tarefa de vender um número ao Sr Candidato a Vice-Prefeito. Compareci ao consultório e disse, com a educação que me era peculiar: “O senhor pode me comprar um número da rifa? O senhor é rico!” Ele respondeu: “Quem foi que te disse que eu sou rico? Tu já vistes o meu imposto de renda?” Fiquei com cara de guaipeca que fez coisa errada na Igreja... Mas, apesar do susto, o Dr Milton adquiriu uma cartela... O Sarandiense precisava ter dois empregos: um era só para pagar as rifas!

.........O meu Padrinho gostava de Política. Ajudava os cidadãos no dia-a-dia. Desfrutava de grande prestígio. Não podia concorrer ao cargo de Prefeito: a sua vida era centrada na Medicina... Com a Família radicada na Capital, sofria a dor da saudade e da solidão. Viagens cansativas e perigosas levaram o seu sorriso...

.........No relacionamento interpessoal, o Dr Milton era convicto, franco, objetivo, sabia o que queria... Em dezembro de 1971, após passar um ano na Escola Preparatória de Cadetes, nos reunimos. Ele contou que, na Família dele, havia um militar insatisfeito com o soldo baixo. Ele me alertou que outras profissões poderiam me dar uma renda maior... e que, mais tarde, o soldo poderia ser insuficiente. O Padrinho estava preocupado com o futuro. Foi sincero. A minha resposta demorou cinco segundos: “Eu sou feliz no Exército!”

.........Os quatro médicos daquela época e seus familiares eram muito queridos pelo Povo. Todos são merecedores de homenagens. Mesmo aqueles que apresentaram algumas limitações fizeram o que foi possível...

.........O Dr Milton Alves de Souza deixou saudade. Salvou vidas! Para que tão bondoso coração seja lembrado, o Sarandiense batizou, com o seu honrado nome, um Templo do Saber... Talvez não seja o maior. Nem o mais bonito... O importante é que ele paga... uma dívida de amor e gratidão...

( E. M. E. F. Milton Alves de Souza )

domingo, 10 de dezembro de 2017

A Biblioteca é do Povo


.........Bom dia, senhor Leitor! É com alegria que recebo notícias sobre as bibliotecas. A Mário de Andrade, da Capital Paulista, funciona 24 horas por dia. É outra mentalidade. São Paulo, o motor do Brasil, não pode parar...

.........As bibliotecas gaúchas estão crescendo, em quantidade e qualidade. Receberam novas coleções. Organizam eventos educacionais. Estão vivas! Prefeitos compram livros. Empresários fazem doações... Por que não seguir o bom exemplo? Nas cidades de colonização alemã, as bibliotecas são exemplares, como a da FEEVALE (Novo Hamburgo – RS). Oferece 135.000 livros, 150.000 e-books, periódicos, jardim de leitura, salas para grupos, auditório... O cliente pode acessar o acervo de casa (www.feevale.br/biblioteca). NH sempre puxou o RIO GRANDE para o futuro...

.........A nível estadual, a Biblioteca da PUC-RS se destaca. É modelo de planejamento: reserva espaço para o aumento do acervo. Brilhante realização dos Irmãos Maristas... Preserva os rascunhos (método de trabalho) de grandes escritores brasileiros... Quem mora na Grande Porto Alegre, pode consultar as obras do Museu do CMS (EXÉRCITO). Abordam História, Cultura, Valores... Quando recebi a missão de coordenar o Jubileu (200 anos) do Patrono da Instituição, escrevi sobre o Duque de Caxias. Um Sargento me entregou 4 livros, escritos em épocas diferentes... Um melhor do que o outro! Quando encontrei a assinatura do Marechal, vieram algumas lágrimas...

.........Em anos anteriores, divulguei a crônica Questão de Patriotismo, com números sobre bibliotecas brasileiras... A repercussão foi  surpreendente. Hoje, apresentarei sugestões a serem aperfeiçoadas. Nunca é tarde para semear! A Pátria colherá frutos saborosos... O fator decisivo para uma pessoa conseguir emprego é a escolaridade. A leitura de bons livros integra o auto-aperfeiçoamento. Como alguém poderá obter sucesso numa entrevista, se nunca leu um livro? O RH poderá perguntar: “O que o senhor está lendo?”

.........Machado de Assis, Fundador da Academia Brasileira de Letras, beneficiou-se da obra de Shakespeare. No século XIX, em que tudo era mais difícil, o Escritor não foi a Londres... Fez pesquisas nas bibliotecas do Rio De Janeiro, então Capital do Brasil. Citou o Escritor Inglês, em artigos e revistas, mais de 200 vezes. Santos Dumont, realizador de úteis inventos (avião, relógio de pulso...), estudou nas bibliotecas da França... O livro é amigo verdadeiro!

.........O Imperador D PEDRO II era cultíssimo! Nas viagens, não parava de ler. Na cabine da Família Real, havia uma peça na parede, chamada segurador de livro. Permitia a leitura de livros grossos, sem cansar o braço... Em papel ou digital, sempre haverá um livro... No País em que há poucas bibliotecas, há muitas cadeias...

.........Nestes últimos anos, o livro foi ficando caro. Será que vale a pena comprar um de R$ 70,00 para, apenas, uma leitura? E, depois, deixá-lo em casa ocupando espaço? Por que não retirar a obra da Biblioteca? Alguém que nunca tenha entrado numa (como dizem as pesquisas) deve passar algumas horas lá... Terá surpresa agradável, cercado por pessoas educadas, livros eletrônicos, revistas, CD, DVD,  jornais...Ele não paga imposto?  A Biblioteca é do Povo!

.........A casa do livro não é um lugar de obras de papel, apenas. É um lugar onde a tecnologia tem espaço. Tomadas para computadores são importantes. Um programa integra as bibliotecas brasileiras, facilitando a busca... O livro eletrônico tem um longo caminho pela frente. Representa só 1% das vendas! Alguns gestores não investem, preocupados com o retorno. Mas, com o tempo, o investimento se paga.  Um exemplo: se, em São Gabriel, a terra dos marechais, quatro gênios frequentam a Biblioteca, todo o trabalho terá valido a pena! Esses meninos produzirão melhoramentos na qualidade de vida... Criarão milhares de empregos. Trarão divisas para o BRASIL...

.........A lei exige biblioteca pública em todas as cidades. O BRASIL está longe da meta. Mas, bibliotecas particulares têm o seu valor e nunca deixaram de colaborar com a Educação Brasileira. As pesquisas informam que algumas são  pouco frequentadas. A solução depende de mudança cultural... Todos devem colaborar para esta batalha cívica. Os líderes devem incentivar a leitura... de uma obra atrás da outra! Quando um gestor não quer investir em livros infantis, não se lembra do custo mensal do preso!

.........Na Brigada Paraquedista, um general usou tática de motivação interessante: queria que os comandados lessem uma obra escrita na EUROPA. Com bastante energia, proibiu a leitura dela... Sabe o que aconteceu? Os militares ficaram curiosos... Quase todos combatentes leram a obra! Gostaram! Um Capitão das Forças Especiais (FE)  me disse que o “proibido” passou a ser o livro de cabeceira. Por algum motivo, comprei um...

.........Sempre que possível, a Biblioteca deve ser gerida por profissional habilitado, com potencial... Deve ser instalada num local nobre, elevado, com bela paisagem... que convide o visitante a pensar... As grandes obras da humanidade aconteceram duas vezes: primeiro na mente de um pensador... Ela deve ser silenciosa, onde o raciocínio possa fluir... Um local limpo, seguro, com cadeiras confortáveis. Caso o orçamento permita: água potável, suco, café... Uma tática boa de motivação é colocar, sobre as mesas, dezenas de livros com as capas coloridas para cima... Desperta o interesse. A Biblioteca da sua Cidade tem nome? Ela deve ter o nome de um Patriota... que soube ombrear com o livro!

.........Para mim, foi marcante frequentar a Biblioteca do saudoso Ginásio Sarandi. Aprendi muito com a orientação dos padres italianos, professores e colegas de aula, durante trabalhos em grupo. Desbravamos a história da nossa terra. Aos 20 anos, passei a estudar na Biblioteca da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) – Resende – RJ. Investimento milionário do EXÉRCITO! Os cadetes ficavam, durante vários minutos, admirando as obras primas de óleo sobre tela... Arte também é Cultura! A Biblioteca era espaçosa, confortável, limpa, silente, com mesas grandes e bibliotecários educados...

.........Ilmo senhor Prefeito! Ilma senhora Diretora de Escola! Não desistam! Persistam! A causa é nobre... O que é a grandeza, se o homem passa pela vida e não busca o sorriso de um pequeno?... A cultura chega na frente, o progresso vem depois... 


domingo, 3 de dezembro de 2017

A Queda dos Aviões em Sarandi

(Foto: Professor Rogério Machado)

.........Em meados dos Anos 60, numa tarde de sábado, em pleno verão, passou, por sobre a Avenida 7 de Setembro de Sarandi, um avião que puxava outro...O Cine Guarany mostrava aviões nos filmes. De repente, estávamos vendo dois aviões de verdade. O fato despertou o interesse de todos. Aquele momento de alegria era o começo de um capítulo dramático da História da Cidade.

.........Alguns guris jogavam pingue-pongue. Outros nadavam na Curva do Rio Bonito. O Pai tomava chimarrão debaixo da bergamoteira. O que mais havia era tempo. Um mensageiro, vindo da Rua do Favretto, exclamou: “dois aviões pousaram num potreiro!” Continuou pela Cidade informando aos outros moradores... 50 Sarandienses foram para lá. Queriam ajudar, ver os aviões, os pilotos, os uniformes diferentes...Eu fui à pé, para o lado da Barra Funda. Inexperiente, não levei água...

.........Ficamos, em fileira, ao longo de uma estrada de chão, ao lado de uma cerca de pedra, de frente para um potreiro (baixo). Este era separado de um potreiro alto por um barranco inclinado de 100 metros de altura e por uma cerca de arame farpado (no alto). O avião (com motor) e o planador (sem motor) estavam no potreiro alto, sendo consertados por mecânicos sarandienses (Domingos Zancanella...).

.........Eu não consegui confirmar a cidade de origem dos pitotos, apaixonados pela aviação... Não subi até o potreiro alto. Não sabia se era permitido... Era mais uma meia maratona! Alguns cidadãos que voltavam de lá traziam notícias. À medida em que o tempo passava, aumentava o número de curiosos na estrada...

.........Os aviões já estavam prontos para decolar. A dimensão da “pista” era suficiente.  Os pilotos estavam preocupados com a cerca do potreiro alto. Queriam retirar 4 ou 5 postes. Os aviadores eram experientes em decolagens de emergência. Se o avião conseguisse voar por cima da cerca, os pilotos estariam salvos. A saudade de casa já estava batendo...

.........Numa hora destas, faz falta um gaúcho de braço forte. Como o Negro Aristides do Catumbi. Foi Soldado no Alegrete. Em menos de meia hora, teria arrancado a maldita cerca! No potreiro de baixo, disseram que o Dono da criação de gado não autorizou a retirada da cerca. Os pilotos ficaram com poucas alternativas. Estavam cansados. Confiavam na potência do motor. As condições eram desfavoráveis. Decidiram decolar...

.........Eu não era um guri pessimista. Mas tinha dúvida se o avião “subiria” percorrendo um potreiro curto. Os Sarandienses ficaram emocionados. O avião foi subindo... subindo... Parecia um milagre! A torcida de todos era para que as aeronaves passassem por cima da cerca... Estavam passando... mas o pneu direito do avião bateu na ponta de um moirão da cerca. O avião inclinou (30 graus) para o potreiro de baixo. Liberaram o planador, para que fizesse um pouso (de emergência) mais à frente, para o nosso lado esquerdo (lado da Cidade).

.........O Piloto do monomotor não conseguiu mais dominá-lo. Tentou aterrissagem de emergência. Caiu no potreiro de baixo, a 200 metros de onde estavam os moradores de Sarandi. Os Sarandienses que estavam no potreiro alto (Vadis Pelizzari, Jorge Gambeta, Nelson Robin...) desceram correndo. Um deles cortou o pé nos arames farpados da cerca derrubada pela aeronave...

.........Fomos correndo ao local da queda... Fui o primeiro a chegar. Aproximei-me do lado esquerdo do avião. Estava sem a porta. Poderia explodir ou incendiar. O Piloto estava vivo, consciente... Era jovem. Inclinou o rosto à esquerda e me viu. Não pediu nada. Estava abalado, assustado. Gemia de dor. Não tentava sair do assento. Esperava que alguém o salvasse. Do abdômen, vertia sangue... Eu, angustiado, queria ajudar, mas não sabia o que fazer...

.........Os grandes foram chegando aos poucos. Encontraram um caso complicado: um piloto ferido, um piloto muito ferido, um planador avariado, um avião em pedaços, uma ambulância inexistente, um hospital longe demais, um relógio que não sabia esperar... Retardatários continuavam chegando... A Emissora Sarandiense, também na infância, aguardava notícias... Pobre Piloto!

.........Abalado, nem fui ver o responsável pelo planador. Eu estava triste, com sede... sem esperança de que salvariam o Piloto.  Fui até onde poderia ter ido. Abaixei a cabeça. Voltei para casa. Chutei pedras na estrada. Pensei no valor do poste. Pensei no valor da vida.

(Quando o mundo deu mais uma volta, os pilotos, sempre  educados, voltaram ao nosso pequeno Sarandi. Deram aula de gratidão. Agradeceram aos heróis Sarandienses que, em situação totalmente adversa, salvaram duas vidas... Em sinal de agradecimento, batizaram o “avião sem motor” de PLANADOR SARANDI. Não desistiram do sonho de voar... A Pátria precisa de pilotos...). 

domingo, 26 de novembro de 2017

Era um Padre que Amava a Itália


.........Luigi Giovanni Vigna nasceu em 10 de outubro de 1923, no Norte da Itália. Ali fez os estudos iniciais. Em 1934, ingressou no Seminário dos Padres Carlistas. Rezou a Primeira Missa em 1947, aos 24 anos de idade.

.........Ao silenciarem os canhões da 2ª Guerra Mundial, os ponteiros do relógio cobravam decisões... Onde ensinar o Evangelho? Decidiu labutar na América, ensinar no Brasil. “Andare via lontano...” Inicialmente, exerceu o apostolado em Nova Bréscia, Dois Lageados e Guaporé, assistindo aos imigrantes italianos...

.........Os anos 50 trouxeram grandes mudanças. O Bispo o designou, em 1950, para o cargo de Vigário da Paróquia de Rondinha-RS. Naquela Terra religiosa e laboriosa, durante quatro anos, foi feliz, fez amigos e criou vínculos. Líder leal, voltaria mais tarde, em 1966, para criar o Ginásio São Carlos. Na Europa, o livro mais lido falava da fé: “Por quem os sinos dobram?”... Grato, ele voltaria tantas vezes quantas fossem necessárias... para agradecer.

.........Quando se apagaram as luzes de quase um lustro de realizações, iniciou o ano de 1955, exercendo, com entusiasmo, a função de Professor do Ginásio Sarandi. Nascido para educar, dentre uma equipe de docentes ótimos, ele era o melhor!

.........Por mérito, assumiu, em março de 1958, com apenas 35 anos de idade, o cargo de Diretor do Ginásio Sarandi, da Escola Normal Regina Pacis, da Escola São Roque e do Colégio Comercial Monsenhor Scalabrini. Sentiu o peso da responsabilidade: “a economia dá a última palavra!” A Seleção Canarinho, marcada pelo “Jeca Tatu”, tinha pela frente a Copa do Mundo da Suécia... As coisas começaram a dar certo, quando o comando da delegação foi entregue a um empresário devoto de Nossa Senhora! O mundo conheceu, então, Pelé, Garrincha...

.........Mas era preciso ir em frente, entrar no futuro... Os Padres Católicos se posicionavam, com clareza e coragem. Em 1960, um deles subiu no parlatório e criticou os gastos enormes para a construção de Brasília! Em 1962, um sacerdote fez um dos mais brilhantes sermões que a Cidade já viu, por ocasião da morte de uma atriz de cinema... “Ela tinha tudo! Só não tinha DEUS!”

.........O Padre Luiz era versátil. Sabia rezar Missa em Latim, Italiano e Português. Em 1962, quando eu era Aluno da Irmã Anita, na Escola Normal Rural Santa Gema Galgani, ele criou o Ginásio Industrial São José. O clima era de euforia: a Seleção Brasileira voltou vitoriosa do Chile...

.........Em 1965, o dedicado Padre foi meu Professor de Geografia, Inglês, Diretor e Tesoureiro... Era entusiasmado, seguro e coerente. Elogiava os Americanos por trabalharem muito... e, à noite, irem ao Cinema. Após o jantar, quando havia filme bom no Cine Guarany, os Padres embarcavam numa Kombi e iam “crescer em cultura”... A música italiana vivia dias de glória! Os artistas cantavam canções que vinham do fundo do coração... ( “Al di la”... “Muito além das estrelas... está você...” ).

.........Ainda em 1965, obteve recursos do Programa Aliança para o Progresso e instalou a Gráfica Guarany Ltda. Com a auto-estima elevada, conseguiu recursos vultosos com uma Nação Amiga. Construiu o Ginásio Industrial São José, para meninos e meninas. Eu e meus colegas de aula estávamos presentes na solenidade de inauguração. Diante das autoridades regionais, o Padre Líder elogiou a Alemanha: “... foi destruída pela Guerra. Em poucos anos, com união e trabalho, se reconstruiu e, agora, ajuda o Brasil!”
      
.........Ele era um Padre de bom coração. Fazia caridade. Pensava nos pobres... Foi ele quem fundou o Patronato, em 1966! Em nossa Pátria verde e amarela, o Futebol reflete no humor do Povo... Eu reprovei em Álgebra. Fiquei traumatizado! Chorei junto com a “pátria de chuteiras”: sem o Garrincha, a Seleção  fracassou na Inglaterra!

.........Do “Império Romano”, o bom menino trouxe valores morais. Humilde, percorria as salas de aula para cobrar as mensalidades... Nós alunos, esquecidos ou ingratos, quase nunca tínhamos dinheiro. Será que sabíamos a importância da Educação? Hoje, até entendo o valor do “x”. Mas tenho dificuldade para entender: por que fecharam o Colégio Santa Gema? Por que sacrificaram os eucaliptos?

.........Trabalhador, era normal o encontrar suado. Vitórias lhe deram autoconfiança. Dedicado, ele mesmo consertou a antena da Rádio. Sincero, quando olhava por cima dos óculos pretos, o Estudante sabia que ouviria algumas verdades. Era defendido por docentes e discentes. Estudou a Lei. Escreveu o Regimento da Escola Normal Regina Pacis. Empreendedor nato, era um compósito de vontade, fé e orgulho. Trouxe da Itália uma pedra angular: o valor da Educação. Dentre caminhos e descaminhos, escolheu ensinar. Edificou ambiente sadio, juvenil, agradável...

.........Quando entrei, pela primeira vez, na Sala do Diretor, tive uma surpresa: esperava encontrar luxo e privilégio, num local amplo e confortável. Encontrei o retrato da Simplicidade. Mas não era isso que ele ensinava? Alguns cidadãos faziam de tudo para serem vistos nas luzes da ribalta. O Diretor do Ginásio trabalhava nos bastidores. Tinha visão de futuro. Integrou a Pia Sociedade dos Padres Carlistas, mantenedora de Escolas.

.........Por algum motivo, os caminhos se cruzavam. Em 65, após a grande nevasca, no Dia da Pátria, o Padre me viu “batendo um pé meio muito”. Em 66, olhou-me sobre os óculos, vencido pela Matemática. Em 67, por criticar o Ginásio, falou com meu Pai. Em 68, diante de aula monótona, indisposto, apaixonado, pedi para ir embora... Ele quis chamar o Médico. Quando a crise chegou, busquei bolsas de estudo no Palácio Farroupilha, sem falar com o Diretor. Na hora do jantar, o Pai me ensinou: “Mais vale acender uma vela... do que maldizer a escuridão!”

.........Quando 1970 chegou, trouxe lágrimas junto... Fiquei emocionado ao ver os formandos de 69 lutando pela vida. A Turma se espalhou pelo Brasil... Poucos tiveram condições de enfrentar o “Porto”. O Ari, filho do Alemão Albano, não conseguia emprego, nem Colégio. Os Comerciantes, amigos do meu Pai, não me davam trabalho. O Deputado Ivo Sprandel conseguiu uma vaga, num Colégio Público, à noite...

.........Em março, o dinheiro acabou. “Senza soldi!” Quando eu estava escrevendo uma carta para casa, no balcão do Hotel dos Sarandienses, um conterrâneo contou-nos: “O Padre Luiz está baixado no Hospital Beneficência Portuguesa!”

.........Eu e o Colega de Aula Ari Withauper, sem perda tempo, subimos morro acima. “Um bom menino precisa saber agradecer, dividir, perdoar...” Ficamos trancados na portaria. Eu disse que era filho do Fridolino. O Padre Luiz estava sozinho! Num quarto de frente do 2º andar, amplo, silente... Estava lúcido, não sentia dor. Não falou nada sobre a doença. Lembrava-se de cada um dos estudantes. Gostou muito da nossa visita, mas estava desanimado... ( “Giorni senza domani” ).Estava partindo para uma grande batalha. A oração era a arma. O Grande Diretor ainda tinha o terço.

.........Quando junho chegou, a Copa do Mundo no México tinha  sabor amargo. Os exames confirmaram cruel patologia. A medicina dava passos lentos. Naquele inverno, o Minuano assobiava, assustava... até que, no dia 22 de agosto, levou o Grande Padre Luiz, meu querido Diretor, aos 46 anos de idade!

       Alguns homens vivem.
       Outros passam pela vida.
       Alguns caminham para Deus.
       Alguns homens morrem.
       Outros viram lenda.
       Alguns entram no Paraíso...

.........LUIGI GIOVANNI VIGNA era um Padre que amava a Itália, mas que, de tanto sentir orgulho dos Alunos que educou, descobriu que amava o Brasil...

P S: Hoje, a Escola Sarandi é orgulho municipal, patrimônio da Educação. Brilha entre as melhores do Brasil!

Anexo:
(Foto do Governador Walter Peracchi Barcelos inaugurando o Ginásio
Industrial São José - Acervo: Professor Rogério Machado)

domingo, 19 de novembro de 2017

Domingo no Parque


      Ao chegar no Parque mais importante da Capital Gaúcha, parei para ver o trenzinho, cheio de crianças felizes. Embarcado no 2º vagão, havia um cachorro de raças misturadas. Estava adorando o passeio. Não precisaria dizer que a auto-estima dele estava lá nas nuvens... O empresário, um idealista, investiu R$ 300.000,00! Valeu à pena! Há, nesta vida, coisas que não sabemos medir em moedas. Aquele trenzinho musical tem a marca do Parque, que outrora era uma chácara do Dr Borges de Medeiros. Não se vê ninguém triste. Como não tenho tempo para ir à Nova York, aqui é o meu Parque Central...

Sob as primeiras árvores, uma Patrulha da Brigada Militar estava resolvendo um conflito, entre alcoolizados. Um homem magro  queria agredir, com uma faca, uma morena. Um crime passional era iminente. O Cabo apontou uma arma de fogo para o homem furioso e, com energia, declarou: “LARGA A FACA!” O bêbado largou a faca no chão. Os Soldados colocaram algemas nele. Levaram-no para a viatura e para o Palácio da Polícia. Os criminosos são sempre os mesmos. Alguns já tiveram várias passagens pela Polícia. A Brigada Militar perde muito tempo com o retrabalho. A impunidade vigora. O Tenente, para fazer uma operação, tem que ter autorização do Juiz. O bandido atua livremente, em duplas ou trios!

E as armas brancas? Por que, durante as revistas, não são apreendidas? Porque ficam escondidas pelo Parque! São perigosas? Sim! Nem sempre é possível salvar a pessoa ferida. Há situações dramáticas em que o Hospital fica longe...

Passada a tensão inicial, pois poderia ter havido balas perdidas, vivi momentos de emoção e esperança. Parei, sem querer, diante de um evento religioso. Três moças, de pé, na parte alta do gramado, tocavam violão e cantavam músicas sacras. Por volta de 50 moças estavam sentadas no gramado. Assistindo a apresentação e comendo bolo. Duas meninas afáveis percorriam o local com bandejas, servindo pedaços de bolo. Uma delas parou na minha frente: “O senhor quer um pedaço?” A tentação era grande. Respondi: “Não. Obrigado. Na verdade não posso. Bolo engorda. A sogra controla o meu peso...”.

Não basta ver os fatos. Temos que ler nas entrelinhas. Aquelas gurias meigas e disciplinadas provaram que é possível construir um mundo pacífico, alegre e agradável. Elas têm DEUS no coração. A falta de DEUS deixa um grande vazio na vida dos materialistas. Elas confirmam a leitura da Bíblia, feita pelo Sacerdote: “A árvore boa dá bons frutos!” O mundo das drogas produz crime, sangue, solidão, lágrimas, perda da Liberdade...

Surpreso com a descoberta, esqueci-me de perguntar o nome da religião. Mas eu não gosto de ficar parado. Continuei caminhando. Encontrei dois homens caídos. Um deles estava torto, debaixo de um banco. Apagou. Não deu tempo para escolher o local para deitar. Como caiu, ficou. Uma testemunha disse que ele está bebendo todos os dias! São vidas que se apagam ao entardecer...

O outro era o Sr Antônio. Estava com um ferimento no lado direito da  testa. Deve ter havido um pouso forçado. Avisei aos amigos dele. Um vendedor de refrigerantes esclareceu: “Ele está abandonado pelos filhos. Não precisa avisar à Brigada. Daqui a pouco, a cachaça evapora e ele se levanta...!” Para vencer a bebida, o apoio da Família é fundamental. Mas o dependente químico tem que fazer a sua parte... O Sr Antônio não se ajuda!

Um vendedor de alguma coisa parou na minha frente: “Velho, quer comprar um baseado?” Respondi: “Não! Se eu fumar um baseado, o Exército desmorona!” Próximo ao gramado central, uma Voluntária de ONG estava oferecendo 4 filhotes de cães para adoção. Um mais bonito do que o outro! Engraçados, brincalhões... Até escurecer, com certeza, eles terão um novo lar... Tenho destacado-me pelo espírito crítico. Mas, reconheço, que o Gaúcho é um cidadão de boa vontade. É patriota, trata bem os animais, colabora, participa, ajuda, carrega no peito um coração verde e amarelo... O morador da capital, por sua vez, sempre apressado, ao empunhar volantes modernos, esquece a gentileza, em algum lugar do passado... Quem puder, salve-se!

Passei por uma senhora de 94 anos. Caminha todos os dias, sem bengala. Ela é um exemplo para todos nós. Principalmente para quem tem estilo de vida sedentário ( fator de risco ).

Um militar da Reserva me contou que a Brigada Militar enfrentou, na semana passada, dois bandidos, próximo ao lago maior. O que estava desarmado foi preso. Era perigoso. O que estava armado fugiu. Continua solto por aí... É violento! O perigo continua...

Saiu, do meio do bosque, uma jovem bem humorada. Estava estudando para o ENEM. Quer ser Veterinária. Estava sozinha. Não era a única! Ostentava o celular. Conversamos sobre os livros. Ela quer ler o “Coração de Soldado”. Valoriza os animais. Não conhecia algumas regras de segurança... Decidiu convidar alguém para caminhar com ela. Escolher os locais e horários. Esconder o aparelho. Não reagir, em caso de assalto. Os bandidos operam em duplas ou trios. São mais fortes do que os estudantes. Andam sempre armados. Não respeitam as câmeras de segurança... São violentos. Desprezam a vida... Vendem objetos para comprar drogas. Os traficantes dirigem carros importados...

Havia mais de duas mil pessoas no Parque! No meio daquele povo todo, alguém me chamou: “Coronel!”... Era o Cigano. Disse, entristecido: “A Alemoa vai voltar para Santa Catarina: levaram o cachorro dela!” Respondi: “O Thor era como um filho... Ela está sozinha no mundo!”.

Eu parei, pensativo... Por quê? Um Parque de contrastes, num Brasil de contrastes...Havia, perto de mim, duas motos ROCAN, da Brigada Militar. Escutei mensagem pelo sistema de rádio: “Sargento, temos um problema na Avenida João Pessoa!” Com presteza, um grande aparato policial se deslocou para lá... Algumas áreas do Parque já estavam escuras. Envolto pelos colegas, um jovem universitário estava caído, pálido, ferido por arma branca, segurando a mão da Namorada. Um colega de aula disse que o amigo, apenas, segurou a mochila... O drogado entendeu que houve uma reação... Oriundos de uma Cidade da Região Metropolitana, conheceram, numa mesma jornada, o “inferno” e o “paraíso”... Sirenes, luzes, perícias, repórteres, motos, ambulâncias, viaturas, Força Nacional... até os sinos bateram... Os Soldados da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros são merecedores do nosso aplauso. Heróis, 24 horas por dia! Mas, a guerra estará perdida, se não educarmos a criança... se não mudarmos  o coração do homem.