Os Moradores de Rua
.........Está aumentando o número de moradores de rua em Porto Alegre. Nas esquinas, famílias inteiras pedem ajuda. Levantam cartazes de papelão, pedindo ajuda aos motoristas. Em algum lugar do passado, decisões erradas foram tomadas. Dormem sob a marquise das lojas e em pequenas barracas ao longo da avenida Ipiranga e Princesa Isabel. São magros e fumantes. Correm riscos de doenças, drogas, morte. A droga leva à rua. A rua leva à droga. Eles não têm aposentadoria. Passam fome. Falta saúde, moradia, emprego, comida... Passam frio!
.........Eu conheci alguns deles. O “Barbudo” tinha epilepsia. Morreu enquanto fazia um lanche. Teve um ataque e se engasgou. Um deles falava com a bicicleta. Fiquei com pena... Um mundo inteiro a enfrentar... O “Beleza” (Rafael) era o líder na rua Leopoldo Bier. Tinha esquizofrenia. Brigou na frente de um bar na rua Gomes Jardim. Caiu e bateu a cabeça. Teve morte cerebral. O “Pará” (Roberto), alcoolizado, ofendeu outro morador de rua. Bateram na cabeça dele com uma lata. Ficou caído na calçada, agonizando, durante três dias. A ambulância não veio. O Fábio é jovem, mas bebe cachaça todas as tardes. Fica no chão, na calçada. Está sozinho no mundo. Já passou do ponto do não-retorno. O “Filhotinho” também é jovem, mas bebe todos os dias. O “Lobão” passava, todas as tardes, com uma garrafa de cachaça, gesticulando e falando sozinho. Trocava roupa por droga. Ficou com sequelas. As pessoas tinham medo dele. Está desaparecido. O “Cigano” é um bom homem, mas bebe todas as tardes. Morava no parque farroupilha. O Filho dele veio buscá-lo. Está desaparecido. A Cecília passa o dia no parque, mas dorme no albergue. A família dela está no interior de Santa Catarina. Roubaram o cachorro dela. Ficou arrasada! Uma amiga não volta para casa: tem problema! Um ex-soldado do Exército mora em uma barraca, em um canteiro da avenida Princesa Isabel. Não volta para casa por causa da bebida. Um careca não quer trabalhar. Me chamou de miserável! Eu estava sem dinheiro.
.........Conheço um médico que morou vários dias na rua. Foi salvo pelo trabalho! Alguns conseguem dar a volta por cima. É impossível saber quantas lágrimas foram derramadas pelos moradores de rua, quantificar o sofrimento deles. O problema requer solução urgente, multidisciplinar.
C F VOGT
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