Minha bicicleta de
três rodas!
Conquistava o mundo.
A bola de couro
número dois!
Que foi embora
depois...
No Natal de não sei
quando,
a bondosa Mãe me deu um presente:
sapato novo, bonito
...
No meio daquela
gente,
um dia me fez chorar,
por não saber o
cadarço atar.
Às vezes, da valorosa
Mãe apanhando,
por deitar as poucas
melenas.
Não raro, sujo, ao
lar voltando,
num constante
vai-e-vém.
Tantas vezes, minhas
pernas pequenas
foram vencidas...
nos degraus do
armazém.
A Mãe, trabalhadora
exemplar,
fazendo doce novo:
merengue, sagu ou
pudim ...
Quase sempre para
mim!
O Pai, lendo o
Correio do Povo,
citando provérbios
sem fim ...
Quanta honestidade
ele tinha!
Uniu a Família, aos
pés da Capelinha ...
Na parede do Cine
Guarany,
o ninho das
andorinhas ...
livres, alegres, rasantes
...
sempre voltavam para
me ver.
Nos bares da vida,
apaixonados errantes ...
Prêmios nos
refrigerantes ...
Nada é como antes!
Ao tomar chimarrão,
numa tarde fagueira,
o Pai ensinou pérolas
para a vida ...
Versos com beleza,
emoção de primeira ...
Uma cobra verde
constrangida,
atrapalhada, caiu da
bergamoteira ...
Um pouco de tudo eu
queria saber.
Mas para onde correr
nem sempre sabia.
O Gran Ringli Circus
desfilando na Avenida.
O caminhão de
Montenegro carregado de melancia.
Uma briga de facas no
Catumbi ...
Com insensata ferida,
o Sarandiense VERCI
...
tombava sem vida ...
Por que tinha que ser
assim?
O passar dos anos
também levou
aquela manhã eufórica
em que, sorrindo, a
Mãe me chamou ...
para ver a grande
nevasca...
Um rádio de mesa espalhava
canções.
O fogão à lenha
assava pinhões.
Na janela,
apaixonado, um guri canta e chora...
E a neve caindo lá fora ...
Caminhando para
Colégio distante do lar abençoado
com minha pasta de
couro marron,
aprendi que o belo é
limitado ...
Encharcado de mel, o
sanduíche meu
ensinou agradecer as coisas pequenas
que a vida me deu ...
Vivendo perto de
DEUS, descobri a honestidade
e valores sem fim.
Num domingo, na missa
da Matriz,
o admirável Padre
ERVINO
ensinou que o sagrado
sino
sempre batia por mim
...
Meu cachorrinho
preto, manso, engraçado,
pelo Pai, MIPI foi
batizado.
Numa tarde de verão,
distraído pela
distração,
perdi o mimoso
cãozinho sim!
Num mundo sem começo,
num potreiro sem fim
...
O que a Cidade quer
do menino?
Ela quer a felicidade
no caminho ...
O que o menino quer
da Cidade?
Que encontre o
cachorrinho ...
Quando eu não tinha
os dentes da frente,
meu gato era preto e
branco,
de pelo macio,
reluzente,
que a Mãe chamava de
ZEU ...
Na porta do meu
quarto,
de saudade quase
morreu,
quando a Águia me
levou
para um Porto
distante,
que nunca foi meu ...
Lembranças douradas,
de inesquecíveis
jornadas ...
Da sombra do umbu,
na beira do Rio Bonito.
Do guarda-noturno, o
apito ...
Do cheiro das uvas
maduras...
Dos pirilampos das
noites escuras ...
Não aprendi a
esquecer ...
Da tábua da esperança
e do pinheiro,
do tijolo da bondade
e da olaria,
vi crescer uma
Cidade,
vi nascer um novo dia
...
Com as mãos dadas a
amizade,
a paz e a valentia
...
Meu pequeno SARANDI,
ainda ontem, chorei
por ti!
Gramados de
emocionantes torneios ...
Povo religioso e
colaborador,
compra todos números
de sorteios ...
Meninas sinceras e
lindas,
no clarão do luar,
serenatas infindas ...
Meu querido lugar
da esperança, do
trigo, do milho,
do Baile do Harmonia,
do sonho, do brilho ...
Em dia de festa, os
Cometas do JOÃOSITO cantor...
Em noite de estrelas,
um disco-voador ...
Um mundo maravilhoso
me deram os Pais,
os passarinhos, o
bodoque, os animais ...
a bola, as bolitas,
as águas...
Os desonestos me
deram as mágoas ...
Tentando sobreviver a
pequenas partidas,
aprendi cicatrizar as
grandes feridas ...
Não precisavam me
dizer
que a JOVILDE pouco
estudo tinha ...
Ela nunca deixou de
ser...
a nossa Rainha!
Não quero fazer
agouro:
nem moeda de ouro
compra de volta da
vida a aurora...
Mas não chore, nesta
hora,
meninada de outrora:
lembrança é tesouro!
Recordar emociona num
segundo.
Minha bicicleta de
três rodas!
Navegava pela Cidade.
Conquistava o mundo.
A bola de couro
número dois ...
Punhado de dias
felizes!
De uma felicidade
que foi embora depois
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário