.........Luigi Giovanni Vigna nasceu em 10 de outubro de 1923, no Norte da Itália. Ali fez os estudos iniciais. Em 1934, ingressou no Seminário dos Padres Carlistas. Rezou a Primeira Missa em 1947, aos 24 anos de idade.
.........Ao silenciarem os canhões da 2ª Guerra
Mundial, os ponteiros do relógio cobravam decisões... Onde ensinar o Evangelho?
Decidiu labutar na América, ensinar no Brasil. “Andare via lontano...” Inicialmente, exerceu o apostolado em Nova
Bréscia, Dois Lageados e Guaporé, assistindo aos imigrantes italianos...
.........Os anos 50 trouxeram grandes mudanças. O
Bispo o designou, em 1950, para o cargo de Vigário da Paróquia de Rondinha-RS.
Naquela Terra religiosa e laboriosa, durante quatro anos, foi feliz, fez amigos
e criou vínculos. Líder leal, voltaria mais tarde, em 1966, para criar o
Ginásio São Carlos. Na Europa, o livro mais lido falava da fé: “Por quem os sinos dobram?”... Grato, ele
voltaria tantas vezes quantas fossem necessárias... para agradecer.
.........Quando se apagaram as luzes de quase um
lustro de realizações, iniciou o ano de 1955, exercendo, com entusiasmo, a
função de Professor do Ginásio Sarandi. Nascido para educar, dentre uma equipe
de docentes ótimos, ele era o melhor!
.........Por mérito, assumiu, em março de 1958, com
apenas 35 anos de idade, o cargo de Diretor do Ginásio Sarandi, da Escola
Normal Regina Pacis, da Escola São Roque e do Colégio Comercial Monsenhor
Scalabrini. Sentiu o peso da responsabilidade: “a economia dá a última palavra!” A Seleção Canarinho, marcada
pelo “Jeca Tatu”, tinha pela frente a Copa do Mundo da Suécia... As coisas
começaram a dar certo, quando o comando da delegação foi entregue a um
empresário devoto de Nossa Senhora! O mundo conheceu, então, Pelé, Garrincha...
.........Mas era preciso ir em frente, entrar no
futuro... Os Padres Católicos se posicionavam, com clareza e coragem. Em 1960,
um deles subiu no parlatório e criticou os gastos enormes para a construção de
Brasília! Em 1962, um sacerdote fez um dos mais brilhantes sermões que a Cidade
já viu, por ocasião da morte de uma atriz de cinema... “Ela tinha tudo! Só não tinha DEUS!”
.........O Padre Luiz era versátil. Sabia rezar
Missa em Latim, Italiano e Português. Em 1962, quando eu era Aluno da Irmã
Anita, na Escola Normal Rural Santa Gema Galgani, ele criou o Ginásio
Industrial São José. O clima era de euforia: a Seleção Brasileira voltou
vitoriosa do Chile...
.........Em 1965, o dedicado Padre foi meu
Professor de Geografia, Inglês, Diretor e Tesoureiro... Era entusiasmado,
seguro e coerente. Elogiava os Americanos por trabalharem muito... e, à noite,
irem ao Cinema. Após o jantar, quando havia filme bom no Cine Guarany, os
Padres embarcavam numa Kombi e iam “crescer em cultura”... A música italiana
vivia dias de glória! Os artistas cantavam canções que vinham do fundo do
coração... ( “Al di la”... “Muito além
das estrelas... está você...” ).
.........Ainda em 1965, obteve recursos do
Programa Aliança para o Progresso e instalou a Gráfica Guarany Ltda. Com a
auto-estima elevada, conseguiu recursos vultosos com uma Nação Amiga. Construiu
o Ginásio Industrial São José, para meninos e meninas. Eu e meus colegas de
aula estávamos presentes na solenidade de inauguração. Diante das
autoridades regionais, o Padre Líder elogiou a Alemanha: “... foi destruída
pela Guerra. Em poucos anos, com união e trabalho, se reconstruiu e, agora,
ajuda o Brasil!”
.........Ele era um Padre de bom coração. Fazia
caridade. Pensava nos pobres... Foi ele quem fundou o Patronato, em 1966! Em
nossa Pátria verde e amarela, o Futebol reflete no humor do Povo... Eu reprovei
em Álgebra. Fiquei traumatizado! Chorei junto com a “pátria de chuteiras”: sem o
Garrincha, a Seleção fracassou na
Inglaterra!
.........Do “Império Romano”, o bom menino trouxe
valores morais. Humilde, percorria as salas de aula para cobrar as
mensalidades... Nós alunos, esquecidos ou ingratos, quase nunca tínhamos
dinheiro. Será que sabíamos a importância da Educação? Hoje, até entendo o
valor do “x”. Mas tenho dificuldade para entender: por que fecharam o Colégio
Santa Gema? Por que sacrificaram os eucaliptos?
.........Trabalhador, era normal o encontrar
suado. Vitórias lhe deram autoconfiança. Dedicado, ele mesmo consertou a antena
da Rádio. Sincero, quando olhava por cima dos óculos pretos, o Estudante sabia
que ouviria algumas verdades. Era defendido por docentes e discentes. Estudou a
Lei. Escreveu o Regimento da Escola Normal Regina Pacis. Empreendedor nato, era
um compósito de vontade, fé e orgulho. Trouxe da Itália uma pedra angular: o
valor da Educação. Dentre caminhos e descaminhos, escolheu ensinar. Edificou
ambiente sadio, juvenil, agradável...
.........Quando entrei, pela primeira vez, na Sala
do Diretor, tive uma surpresa: esperava encontrar luxo e privilégio, num local
amplo e confortável. Encontrei o retrato da Simplicidade. Mas não era isso que
ele ensinava? Alguns cidadãos faziam de tudo para serem vistos nas luzes da
ribalta. O Diretor do Ginásio trabalhava nos bastidores. Tinha visão de futuro.
Integrou a Pia Sociedade dos Padres Carlistas, mantenedora de Escolas.
.........Por algum motivo, os caminhos se
cruzavam. Em 65, após a grande nevasca, no Dia da Pátria, o Padre me viu
“batendo um pé meio muito”. Em 66, olhou-me sobre os óculos, vencido pela
Matemática. Em 67, por criticar o Ginásio, falou com meu Pai. Em 68, diante de
aula monótona, indisposto, apaixonado, pedi para ir embora... Ele quis chamar o
Médico. Quando a crise chegou, busquei bolsas de estudo no Palácio Farroupilha,
sem falar com o Diretor. Na hora do jantar, o Pai me ensinou: “Mais vale
acender uma vela... do que maldizer a escuridão!”
.........Quando 1970 chegou, trouxe lágrimas
junto... Fiquei emocionado ao ver os formandos de 69 lutando pela vida. A Turma
se espalhou pelo Brasil... Poucos tiveram condições de enfrentar o “Porto”. O
Ari, filho do Alemão Albano, não conseguia emprego, nem Colégio. Os
Comerciantes, amigos do meu Pai, não me davam trabalho. O Deputado Ivo Sprandel
conseguiu uma vaga, num Colégio Público, à noite...
.........Em março, o dinheiro acabou. “Senza soldi!” Quando eu estava escrevendo
uma carta para casa, no balcão do Hotel dos Sarandienses, um conterrâneo
contou-nos: “O Padre Luiz está baixado no Hospital Beneficência Portuguesa!”
.........Eu e o Colega de Aula Ari Withauper, sem
perda tempo, subimos morro acima. “Um bom menino precisa saber agradecer,
dividir, perdoar...” Ficamos trancados na portaria. Eu disse que era filho do
Fridolino. O Padre Luiz estava sozinho! Num quarto de frente do 2º andar,
amplo, silente... Estava lúcido, não sentia dor. Não falou nada sobre a doença.
Lembrava-se de cada um dos estudantes. Gostou muito da nossa visita, mas estava
desanimado... ( “Giorni senza domani”
).Estava partindo para uma grande batalha. A oração era a arma. O Grande
Diretor ainda tinha o terço.
.........Quando junho chegou, a Copa do Mundo no
México tinha sabor amargo. Os exames
confirmaram cruel patologia. A medicina dava passos lentos. Naquele inverno, o
Minuano assobiava, assustava... até que, no dia 22 de agosto, levou o Grande Padre
Luiz, meu querido Diretor, aos 46 anos de idade!
Alguns
homens vivem.
Outros
passam pela vida.
Alguns
caminham para Deus.
Alguns
homens morrem.
Outros
viram lenda.
Alguns
entram no Paraíso...
.........LUIGI GIOVANNI VIGNA era um Padre que
amava a Itália, mas que, de tanto sentir orgulho dos Alunos que educou, descobriu
que amava o Brasil...
Anexo:
(Foto do Governador Walter Peracchi Barcelos inaugurando o Ginásio Industrial São José - Acervo: Professor Rogério Machado) |