domingo, 26 de novembro de 2017

Era um Padre que Amava a Itália


.........Luigi Giovanni Vigna nasceu em 10 de outubro de 1923, no Norte da Itália. Ali fez os estudos iniciais. Em 1934, ingressou no Seminário dos Padres Carlistas. Rezou a Primeira Missa em 1947, aos 24 anos de idade.

.........Ao silenciarem os canhões da 2ª Guerra Mundial, os ponteiros do relógio cobravam decisões... Onde ensinar o Evangelho? Decidiu labutar na América, ensinar no Brasil. “Andare via lontano...” Inicialmente, exerceu o apostolado em Nova Bréscia, Dois Lageados e Guaporé, assistindo aos imigrantes italianos...

.........Os anos 50 trouxeram grandes mudanças. O Bispo o designou, em 1950, para o cargo de Vigário da Paróquia de Rondinha-RS. Naquela Terra religiosa e laboriosa, durante quatro anos, foi feliz, fez amigos e criou vínculos. Líder leal, voltaria mais tarde, em 1966, para criar o Ginásio São Carlos. Na Europa, o livro mais lido falava da fé: “Por quem os sinos dobram?”... Grato, ele voltaria tantas vezes quantas fossem necessárias... para agradecer.

.........Quando se apagaram as luzes de quase um lustro de realizações, iniciou o ano de 1955, exercendo, com entusiasmo, a função de Professor do Ginásio Sarandi. Nascido para educar, dentre uma equipe de docentes ótimos, ele era o melhor!

.........Por mérito, assumiu, em março de 1958, com apenas 35 anos de idade, o cargo de Diretor do Ginásio Sarandi, da Escola Normal Regina Pacis, da Escola São Roque e do Colégio Comercial Monsenhor Scalabrini. Sentiu o peso da responsabilidade: “a economia dá a última palavra!” A Seleção Canarinho, marcada pelo “Jeca Tatu”, tinha pela frente a Copa do Mundo da Suécia... As coisas começaram a dar certo, quando o comando da delegação foi entregue a um empresário devoto de Nossa Senhora! O mundo conheceu, então, Pelé, Garrincha...

.........Mas era preciso ir em frente, entrar no futuro... Os Padres Católicos se posicionavam, com clareza e coragem. Em 1960, um deles subiu no parlatório e criticou os gastos enormes para a construção de Brasília! Em 1962, um sacerdote fez um dos mais brilhantes sermões que a Cidade já viu, por ocasião da morte de uma atriz de cinema... “Ela tinha tudo! Só não tinha DEUS!”

.........O Padre Luiz era versátil. Sabia rezar Missa em Latim, Italiano e Português. Em 1962, quando eu era Aluno da Irmã Anita, na Escola Normal Rural Santa Gema Galgani, ele criou o Ginásio Industrial São José. O clima era de euforia: a Seleção Brasileira voltou vitoriosa do Chile...

.........Em 1965, o dedicado Padre foi meu Professor de Geografia, Inglês, Diretor e Tesoureiro... Era entusiasmado, seguro e coerente. Elogiava os Americanos por trabalharem muito... e, à noite, irem ao Cinema. Após o jantar, quando havia filme bom no Cine Guarany, os Padres embarcavam numa Kombi e iam “crescer em cultura”... A música italiana vivia dias de glória! Os artistas cantavam canções que vinham do fundo do coração... ( “Al di la”... “Muito além das estrelas... está você...” ).

.........Ainda em 1965, obteve recursos do Programa Aliança para o Progresso e instalou a Gráfica Guarany Ltda. Com a auto-estima elevada, conseguiu recursos vultosos com uma Nação Amiga. Construiu o Ginásio Industrial São José, para meninos e meninas. Eu e meus colegas de aula estávamos presentes na solenidade de inauguração. Diante das autoridades regionais, o Padre Líder elogiou a Alemanha: “... foi destruída pela Guerra. Em poucos anos, com união e trabalho, se reconstruiu e, agora, ajuda o Brasil!”
      
.........Ele era um Padre de bom coração. Fazia caridade. Pensava nos pobres... Foi ele quem fundou o Patronato, em 1966! Em nossa Pátria verde e amarela, o Futebol reflete no humor do Povo... Eu reprovei em Álgebra. Fiquei traumatizado! Chorei junto com a “pátria de chuteiras”: sem o Garrincha, a Seleção  fracassou na Inglaterra!

.........Do “Império Romano”, o bom menino trouxe valores morais. Humilde, percorria as salas de aula para cobrar as mensalidades... Nós alunos, esquecidos ou ingratos, quase nunca tínhamos dinheiro. Será que sabíamos a importância da Educação? Hoje, até entendo o valor do “x”. Mas tenho dificuldade para entender: por que fecharam o Colégio Santa Gema? Por que sacrificaram os eucaliptos?

.........Trabalhador, era normal o encontrar suado. Vitórias lhe deram autoconfiança. Dedicado, ele mesmo consertou a antena da Rádio. Sincero, quando olhava por cima dos óculos pretos, o Estudante sabia que ouviria algumas verdades. Era defendido por docentes e discentes. Estudou a Lei. Escreveu o Regimento da Escola Normal Regina Pacis. Empreendedor nato, era um compósito de vontade, fé e orgulho. Trouxe da Itália uma pedra angular: o valor da Educação. Dentre caminhos e descaminhos, escolheu ensinar. Edificou ambiente sadio, juvenil, agradável...

.........Quando entrei, pela primeira vez, na Sala do Diretor, tive uma surpresa: esperava encontrar luxo e privilégio, num local amplo e confortável. Encontrei o retrato da Simplicidade. Mas não era isso que ele ensinava? Alguns cidadãos faziam de tudo para serem vistos nas luzes da ribalta. O Diretor do Ginásio trabalhava nos bastidores. Tinha visão de futuro. Integrou a Pia Sociedade dos Padres Carlistas, mantenedora de Escolas.

.........Por algum motivo, os caminhos se cruzavam. Em 65, após a grande nevasca, no Dia da Pátria, o Padre me viu “batendo um pé meio muito”. Em 66, olhou-me sobre os óculos, vencido pela Matemática. Em 67, por criticar o Ginásio, falou com meu Pai. Em 68, diante de aula monótona, indisposto, apaixonado, pedi para ir embora... Ele quis chamar o Médico. Quando a crise chegou, busquei bolsas de estudo no Palácio Farroupilha, sem falar com o Diretor. Na hora do jantar, o Pai me ensinou: “Mais vale acender uma vela... do que maldizer a escuridão!”

.........Quando 1970 chegou, trouxe lágrimas junto... Fiquei emocionado ao ver os formandos de 69 lutando pela vida. A Turma se espalhou pelo Brasil... Poucos tiveram condições de enfrentar o “Porto”. O Ari, filho do Alemão Albano, não conseguia emprego, nem Colégio. Os Comerciantes, amigos do meu Pai, não me davam trabalho. O Deputado Ivo Sprandel conseguiu uma vaga, num Colégio Público, à noite...

.........Em março, o dinheiro acabou. “Senza soldi!” Quando eu estava escrevendo uma carta para casa, no balcão do Hotel dos Sarandienses, um conterrâneo contou-nos: “O Padre Luiz está baixado no Hospital Beneficência Portuguesa!”

.........Eu e o Colega de Aula Ari Withauper, sem perda tempo, subimos morro acima. “Um bom menino precisa saber agradecer, dividir, perdoar...” Ficamos trancados na portaria. Eu disse que era filho do Fridolino. O Padre Luiz estava sozinho! Num quarto de frente do 2º andar, amplo, silente... Estava lúcido, não sentia dor. Não falou nada sobre a doença. Lembrava-se de cada um dos estudantes. Gostou muito da nossa visita, mas estava desanimado... ( “Giorni senza domani” ).Estava partindo para uma grande batalha. A oração era a arma. O Grande Diretor ainda tinha o terço.

.........Quando junho chegou, a Copa do Mundo no México tinha  sabor amargo. Os exames confirmaram cruel patologia. A medicina dava passos lentos. Naquele inverno, o Minuano assobiava, assustava... até que, no dia 22 de agosto, levou o Grande Padre Luiz, meu querido Diretor, aos 46 anos de idade!

       Alguns homens vivem.
       Outros passam pela vida.
       Alguns caminham para Deus.
       Alguns homens morrem.
       Outros viram lenda.
       Alguns entram no Paraíso...

.........LUIGI GIOVANNI VIGNA era um Padre que amava a Itália, mas que, de tanto sentir orgulho dos Alunos que educou, descobriu que amava o Brasil...

P S: Hoje, a Escola Sarandi é orgulho municipal, patrimônio da Educação. Brilha entre as melhores do Brasil!

Anexo:
(Foto do Governador Walter Peracchi Barcelos inaugurando o Ginásio
Industrial São José - Acervo: Professor Rogério Machado)

domingo, 19 de novembro de 2017

Domingo no Parque


      Ao chegar no Parque mais importante da Capital Gaúcha, parei para ver o trenzinho, cheio de crianças felizes. Embarcado no 2º vagão, havia um cachorro de raças misturadas. Estava adorando o passeio. Não precisaria dizer que a auto-estima dele estava lá nas nuvens... O empresário, um idealista, investiu R$ 300.000,00! Valeu à pena! Há, nesta vida, coisas que não sabemos medir em moedas. Aquele trenzinho musical tem a marca do Parque, que outrora era uma chácara do Dr Borges de Medeiros. Não se vê ninguém triste. Como não tenho tempo para ir à Nova York, aqui é o meu Parque Central...

Sob as primeiras árvores, uma Patrulha da Brigada Militar estava resolvendo um conflito, entre alcoolizados. Um homem magro  queria agredir, com uma faca, uma morena. Um crime passional era iminente. O Cabo apontou uma arma de fogo para o homem furioso e, com energia, declarou: “LARGA A FACA!” O bêbado largou a faca no chão. Os Soldados colocaram algemas nele. Levaram-no para a viatura e para o Palácio da Polícia. Os criminosos são sempre os mesmos. Alguns já tiveram várias passagens pela Polícia. A Brigada Militar perde muito tempo com o retrabalho. A impunidade vigora. O Tenente, para fazer uma operação, tem que ter autorização do Juiz. O bandido atua livremente, em duplas ou trios!

E as armas brancas? Por que, durante as revistas, não são apreendidas? Porque ficam escondidas pelo Parque! São perigosas? Sim! Nem sempre é possível salvar a pessoa ferida. Há situações dramáticas em que o Hospital fica longe...

Passada a tensão inicial, pois poderia ter havido balas perdidas, vivi momentos de emoção e esperança. Parei, sem querer, diante de um evento religioso. Três moças, de pé, na parte alta do gramado, tocavam violão e cantavam músicas sacras. Por volta de 50 moças estavam sentadas no gramado. Assistindo a apresentação e comendo bolo. Duas meninas afáveis percorriam o local com bandejas, servindo pedaços de bolo. Uma delas parou na minha frente: “O senhor quer um pedaço?” A tentação era grande. Respondi: “Não. Obrigado. Na verdade não posso. Bolo engorda. A sogra controla o meu peso...”.

Não basta ver os fatos. Temos que ler nas entrelinhas. Aquelas gurias meigas e disciplinadas provaram que é possível construir um mundo pacífico, alegre e agradável. Elas têm DEUS no coração. A falta de DEUS deixa um grande vazio na vida dos materialistas. Elas confirmam a leitura da Bíblia, feita pelo Sacerdote: “A árvore boa dá bons frutos!” O mundo das drogas produz crime, sangue, solidão, lágrimas, perda da Liberdade...

Surpreso com a descoberta, esqueci-me de perguntar o nome da religião. Mas eu não gosto de ficar parado. Continuei caminhando. Encontrei dois homens caídos. Um deles estava torto, debaixo de um banco. Apagou. Não deu tempo para escolher o local para deitar. Como caiu, ficou. Uma testemunha disse que ele está bebendo todos os dias! São vidas que se apagam ao entardecer...

O outro era o Sr Antônio. Estava com um ferimento no lado direito da  testa. Deve ter havido um pouso forçado. Avisei aos amigos dele. Um vendedor de refrigerantes esclareceu: “Ele está abandonado pelos filhos. Não precisa avisar à Brigada. Daqui a pouco, a cachaça evapora e ele se levanta...!” Para vencer a bebida, o apoio da Família é fundamental. Mas o dependente químico tem que fazer a sua parte... O Sr Antônio não se ajuda!

Um vendedor de alguma coisa parou na minha frente: “Velho, quer comprar um baseado?” Respondi: “Não! Se eu fumar um baseado, o Exército desmorona!” Próximo ao gramado central, uma Voluntária de ONG estava oferecendo 4 filhotes de cães para adoção. Um mais bonito do que o outro! Engraçados, brincalhões... Até escurecer, com certeza, eles terão um novo lar... Tenho destacado-me pelo espírito crítico. Mas, reconheço, que o Gaúcho é um cidadão de boa vontade. É patriota, trata bem os animais, colabora, participa, ajuda, carrega no peito um coração verde e amarelo... O morador da capital, por sua vez, sempre apressado, ao empunhar volantes modernos, esquece a gentileza, em algum lugar do passado... Quem puder, salve-se!

Passei por uma senhora de 94 anos. Caminha todos os dias, sem bengala. Ela é um exemplo para todos nós. Principalmente para quem tem estilo de vida sedentário ( fator de risco ).

Um militar da Reserva me contou que a Brigada Militar enfrentou, na semana passada, dois bandidos, próximo ao lago maior. O que estava desarmado foi preso. Era perigoso. O que estava armado fugiu. Continua solto por aí... É violento! O perigo continua...

Saiu, do meio do bosque, uma jovem bem humorada. Estava estudando para o ENEM. Quer ser Veterinária. Estava sozinha. Não era a única! Ostentava o celular. Conversamos sobre os livros. Ela quer ler o “Coração de Soldado”. Valoriza os animais. Não conhecia algumas regras de segurança... Decidiu convidar alguém para caminhar com ela. Escolher os locais e horários. Esconder o aparelho. Não reagir, em caso de assalto. Os bandidos operam em duplas ou trios. São mais fortes do que os estudantes. Andam sempre armados. Não respeitam as câmeras de segurança... São violentos. Desprezam a vida... Vendem objetos para comprar drogas. Os traficantes dirigem carros importados...

Havia mais de duas mil pessoas no Parque! No meio daquele povo todo, alguém me chamou: “Coronel!”... Era o Cigano. Disse, entristecido: “A Alemoa vai voltar para Santa Catarina: levaram o cachorro dela!” Respondi: “O Thor era como um filho... Ela está sozinha no mundo!”.

Eu parei, pensativo... Por quê? Um Parque de contrastes, num Brasil de contrastes...Havia, perto de mim, duas motos ROCAN, da Brigada Militar. Escutei mensagem pelo sistema de rádio: “Sargento, temos um problema na Avenida João Pessoa!” Com presteza, um grande aparato policial se deslocou para lá... Algumas áreas do Parque já estavam escuras. Envolto pelos colegas, um jovem universitário estava caído, pálido, ferido por arma branca, segurando a mão da Namorada. Um colega de aula disse que o amigo, apenas, segurou a mochila... O drogado entendeu que houve uma reação... Oriundos de uma Cidade da Região Metropolitana, conheceram, numa mesma jornada, o “inferno” e o “paraíso”... Sirenes, luzes, perícias, repórteres, motos, ambulâncias, viaturas, Força Nacional... até os sinos bateram... Os Soldados da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros são merecedores do nosso aplauso. Heróis, 24 horas por dia! Mas, a guerra estará perdida, se não educarmos a criança... se não mudarmos  o coração do homem.


domingo, 12 de novembro de 2017

Ao Sucesso!

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........Eu estava tentando ir. O frio chegou. Os ventos da doença balançam nossas vidas. A economia patina. A inflação pune o povo. Os “laçaços da pobreza“ abrem feridas... Fiz um gol de bicicleta, ninguém aplaudiu. Parece que procuram defeitos. Com muito sacrifício, consegui escrever um livro. Ganhei um prêmio: a indiferença! Esqueceram que o livro é nobre. Meu joelho esquerdo piorou. Já gastei dois tubos de pomada. Meus dentes escurecem. Marquei dentista. Não pude ir. A agenda me castiga. Estou sendo discriminado. Carrego uma doença que trago do berço. Mas estou medicado. Mesmo sem os remédios, fiz cursos e passei. Inclusive para General! Ajudei milhares de jovens! Isto atrapalha os meus críticos. A minha humildade é considerada fraqueza. Meu coração de guri é considerado ingênuo. Agradeço tudo que recebo. Não recebo gratidão por tudo que ofereço. Quando ofereço o meu perdão, consideram-me pusilânime. Minha bondade provoca-me prejuízo. Meu olho direito começa a doer. Estamos construindo pessoas não confiáveis! Este mundo que aí está não tem “oxigênio” para o coração humano ser feliz. Vários já me lograram. Vários tentam me lograr. Parece que, sobre a Cidade, paira uma nuvem de ingratidão. São as “asas da tristeza”.“O infeliz não consegue agradecer”. Trabalhei imensamente. Valorizei as pessoas. Incentivei os jovens. Amei sem maldade. Deram-me um punhado de promessas. Tão doloridas! Nunca cumpridas! Façam isso para os prepotentes. Nunca para quem fala com os pobres. Nunca para quem ajuda os humildes. Jamais riam do sentimento de um Poeta. Este é nobre e sensível! Respeitem o coração do Escritor. DEUS deu-lhe a sensibilidade... a bondade... a nobreza. Por que prometer? O importante é fazer! Não nos esqueçamos: o mundo dá voltas...

.........Para todos nós, é bem mais fácil seguir em frente sem as patologias. Ninguém pede para ficar doente! Para mim e para o senhor, é bem mais fácil trabalhar sem as feridas abertas pela ingratidão! Eu não divulgo informações confidenciais de outras pessoas. Não abro cartas destinadas a outras pessoas. É uma questão de educação. Não critico ninguém pelas costas. Eu respeito meus irmãos. Espero que me respeitem. Nem tudo o que é escrito é para ser publicado. Todos nós devemos respeitar a imagem das pessoas. Quem não respeita irá acertar as contas com DEUS!

.........Tenho certeza de que não sou o único homem do mundo que sofre a dor da saudade... a espera de um perdão. O homem, justamente por não ser Divino, precisa do perdão para ser feliz. Todo perdão é poderoso. Todo sonho traz progresso. Todo amor é nobre.

.........Na 2a Guerra Mundial, ao transpor um largo rio na ITÁLIA, os Paraquedistas Brasileiros foram surpreendidos por um bombardeio implacável do EXÉRCITO ALEMÃO. Um oficial exclamou, surpreso: ”Olha, General! Os Paraquedistas estão indo em frente!“ O Comandante do Teatro de Operações respondeu: “COMO ERA DE SE ESPERAR”!

.........Portanto, querido leitor, nos bombardeios da vida, com saúde ou não, com gratidão ou não, com perdão ou não, seguindo o exemplo dos gloriosos Paraquedistas, vamos prosseguir...a nossa caminhada... Agora, sim, com a Paz de DEUS no coração... rumo ao sucesso!

Um Coroinha Pequeno Demais



.........Os ANOS 60 foram parecidos. O Brasileiro entrou nos “ANOS DOURADOS” de mãos dadas com DEUS. No SARANDI, com menos de cinco mil almas, chegavam jovens vindos dos seminários e dos quartéis do EXÉRCITO. Contavam histórias incríveis. As vocações despertavam. Alguns moços iam estudar em outras cidades, estados, países... Um deles foi trabalhar em NOVA YORK. Há Sarandienses nos quatro cantos do mundo. É difícil, até, contar quantos doutores. A personalidade e a inteligência dos PAPAS (PIO 12 e JOÃO 23) davam à Igreja Católica protagonismo mundial.
.........Os jovens eram puros, leais, fiéis... Ninguém lograva ninguém. A pureza da juventude aparecia nas canções. Na música italiana: “ANDARE VIA LONTANO / CERCARE UN ALTRO MONDO /  CIAO, AMORE, CIAO” (2º lugar no Festival da Canção da ITÁLIA ). Na música brasileira: “JÁ QUE TERMINAMOS / SÓ RESTA, AGORA, O ADEUS FINAL / TE AMAR DEMAIS / SER UM BOM RAPAZ / FOI O MEU MAL...”.  A ITÁLIA e o BRASIL viviam a Era do Pecado. Todos sentiam remorso. Todos tinham medo de DEUS. Aos sábados à tarde, íamos nos confessar na Igreja Matriz. A Primeira Missa acontecia no Cinema. E no mundo real: no SARANDI, na BOA VISTA, no MONTENEGRO, no CARAZINHO, no PARECI... Hoje, fazemos de conta que não existe pecado. Mas estamos fazendo pecados, às vezes, até bem mais graves... com outros nomes.
.........Os líderes deram-nos corda. Os fatos deram-nos sonhos. Era moda ser Escoteiro ou Lobinho. Sob o comando do idealista BENITO PAPINI. Quem não era Escoteiro era Coroinha. Uma turma por ano era levada ao Seminário. Ao vencer a Copa do Mundo no CHILE, com PELÉ e GARRINCHA, o Brasil foi se firmando como o “PAÍS DO FUTEBOL”. Os principais times da região (HARMONIA, OURO VERDE, ITAPAGÉ, IPIRANGA, UNIÃO, GLÓRIA, INDEPENDENTE, PALMEIRENSE, ATLÉTICO...) possuíam atletas em várias categorias (Titular, Segundo, Juvenil e Infantil).
.........O meu irmão, CLÓVIS (“LETO”), era Escoteiro e Coroinha. A foto dos Coroinhas de 60 plange! Pequenos episódios mudam o itinerário das pessoas. Quando o  Chefe dos Escoteiros aumentou a mensalidade, o PAI (FRIDOLINO) retirou o meu irmão do Escotismo. Para sempre! Eu nem cheguei a assumir como Lobinho. A época era de inflação crescente. Os comerciantes não conseguiam repor os estoques. Na minha família, a situação era a seguinte: o PAI queria que os dois guris fossem Padres. O CLÓVIS foi para o Seminário de TAPERA. Eu me alistei como Coroinha, na Paróquia Nossa Senhora de LOURDES. Naquele saudoso ano de “62”, o Vigário era o Padre ERNESTO.
.........Eu gostava de ajudar na Igreja. O ambiente era bom. Éramos bem tratados. Após às missas, os Coroinhas ganhavam alguns Cruzeiros. O que faltava era um pequeno Curso para preparar os guris para a função. Não havia Coroinha menina, devido  à cultura da época. Os cargos mais importantes eram reservados aos homens.
.........No meio da semana, morreu um homem importante. Os Coroinhas foram chamados. Só apareceu um, o mais pequeno. Formou-se uma multidão. Com o Padre ERNESTO na frente, seguimos, no meio da tarde, em coluna dupla, pela Avenida EXPEDICIONÁRIO. Eu me sentia orgulhoso. Havia largado o bodoque por algumas horas. Estava participando da vida da Cidade. Com o traje de Coroinha, me sentia o máximo!  Na frente do  BERTOCHI (“TITUM”), falaram comigo: “QUICO, quem morreu?”. Pensei um pouco e respondi: “O TOAZZA!” (É que havia muitos moradores com este sobrenome...).
.........Quando chegamos no encontro das avenidas, o Padre me disse que havia esquecido do material. Falou para eu ir correndo até a Casa Canônica e buscar o incenso... Saí correndo no sentido contrário ao da procissão. Olhavam-me com surpresa. Eu até imaginava o que aquelas pessoas, a maioria de origem italiana, comentava: “Por que o filho do FRIDOLINO está correndo morro a cima, com a fatiota de Sacristão, se a procissão caminha morro a baixo?”... “Será que ele piorou?”.
.........Ao chegar na Casa Canônica, parei de correr, repentinamente. Cometi uma falha grave! Eu deveria ter parado aos poucos. Senti falta de ar. Do pulmão para cima, tudo ardia. A traquéia, faringe, laringe, esôfago... os “caninhos do pulmão”. Para resumir: pensei que eu ia morrer. Apareceu uma senhora para me ajudar: “O que que tu qué, piá?”. Com a garganta funcionando a 10%, respondi: “NÃO CONSIGO SUSPIRAR!”. (nós falávamos errado; e escrevíamos como falávamos).
.........Após alguns minutos, pedi o material (Um aparelho de fazer fumaça). Perguntei-lhe se, em todos os enterros, o Coroinha tinha que vir buscar alguma coisa. Ela respondeu: “Não. Esta foi a primeira vez que o Padre esqueceu.” Agradeci. Voltei correndo atrás da procissão. Consegui entregar o incenso, ao Padre ERNESTO, antes da entrada do Cemitério. Como dizem os soldados: “Missão cumprida!” A sepultura ficava perto do Estádio PEDRO DEMARCO. Os discursos em homenagem ao falecido coincidiram com o treino da equipe titular do HARMONIA. Houve momentos em que as frases se intercalaram: - “Foi um bom homem!” – “SOLTA A BOLA, FOMINHA!” – “Ajudou a construir o nosso SARANDI!” – “LEVA A BOLA PRA CASA!” – “Foi um chefe de família exemplar!” – “CHUTA, ROGÉRIO!”... Parece engraçado. Mas, para mim, foi uma tarde triste...
.........No domingo seguinte, na minha segunda Missa, faltou o Sacristão da Sineta. Fui escalado. Recebi algumas orientações, ”em cima da hora”. Os cientistas trabalham com afinco, ainda hoje, para entender a memória do homem. Às vezes, ela funciona. Às vezes, não funciona. Eu era perfeccionista. Não queria errar nada. Porém, naquele dia, não toquei a sineta corretamente. Passei vergonha. Fiquei com o orgulho ferido. Foi um trauma?
.........O senhor leitor deve estar pensando: “Será que estas coisas pequenas são importantes?”. Na minha opinião, são! Eu era pequeno e imaturo. Mas era sério. Foi por causa do incenso e da sineta que abandonei, para sempre, a carreira religiosa. Mas devo reconhecer que a chama da religiosidade... nunca se apagou no meu peito! No que tange às vocações, assisti ao trabalho de um Padre Italiano. Algo havia que lhe dava mau humor. Deu um tapa no rosto de um guri que não parava quieto. Do púlpito, condenou a imoralidade. Nem sempre foi compreendido. Recebeu fotografia de mulher sedutora. O que ele mais queria era formar uma família. Um dia, para fugir do cerco da tristeza, deixou um bilhete, no idioma italiano, e foi embora para sempre. Em elegante caligrafia, proclamou: “SCAPPO DA UNA VITA CHE NON HO MAI VOLUTO ABBRACCIARE!.” (Em Português: “FUJO DE UMA VIDA QUE NUNCA QUIS ABRAÇAR!”). Em defesa daquele ex-sacerdote: que jogue a primeira pedra quem jamais caiu numa armadilha das vocações!
.........Escritores de todo o mundo já registraram a semelhança entre o rio e o homem. As águas não param. Desviam as pedras do caminho. E voltam para o mar... E o homem? O homem desvia de um incenso. Foge de uma sineta. Tropeça numa fotografia... mas sempre volta para DEUS.

.........Por vezes, quando reflito sobre as tremendas consequências, que resultam das pequenas coisas... Fico tentado a pensar... que não há pequenas coisas.” (BRUCE BARTON).

Coração em Movimento


.........Quando eu tinha sete anos, não ajudava os pobres. Não dava esmolas. Num dia de dezembro de 60, eu brincava na área dos fundos da nossa casa de SARANDI – RS. Cuidava do meu cãozinho preto  (“MIPI”) e do meu gato cinzento (“VITÓRIA RÉGIA”). Surgiu um guri, com a minha idade, pobre e magro. Pediu pão. Estava com fome. Eu, concentrado nas minhas fantasias, disse que não. O pobre menino ficou mais triste do que já estava. Desceu a escada devagar, cabisbaixo ... Ele devia estar pensando: “Se nem os ricos ajudam a nossa família...quem irá ajudar?” E olha que a Cidade já vivia a magia de mais um Natal. Larguei meus amiguinhos. Fiquei de pé. Lá do alto, contemplei a saudosa Rua TIRADENTES. Senti no ar um clima de tristeza. O senhor DAMÁSIO, a esposa e cinco filhos ( uma escadinha ) caminhavam na direção da Estação Rodoviária. Eram sete vidas pobres, magras, famintas, discriminadas... O chefe não conseguia emprego porque, além de miserável, tinha o “hábito” de ingerir bebida alcoólica. E era traído pela cor, meio branco, meio negro. Viviam ao desamparo da Lei e da cultura da época.

.........Fui punido por um remorso forte. Insuportável. Até aquele momento, remorso era, para mim, apenas, mais uma palavra que havia sido ensinada pela competente Irmã VERÔNICA, do Colégio SANTA GEMA. Arrependido, eu não parava mais de chorar. Quando a Mãe ( JOVILDE ) chegou, entendeu todo o meu sofrimento. Sensível e prática, entregou-me alguns pães. Fui atrás daquela família pobre. Encontrei-a em frente à Estação Rodoviária. O guri me reconheceu. Emocionado, com os pés descalços, sem camisa e sem os dentes da frente, entreguei os cinco pães. Senti um grande alívio. Tirei um peso dos ombros. O Pai ( FRIDOLINO ) gostou da minha atitude. Um poeta carioca, no auge da boemia, escreveu um belo verso: “Sempre fica um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.” Eu entreguei os pães. Descobri o prazer de ajudar os humildes. A nobreza de dividir a alegria. Alguns adultos subestimam os pequenos. Dizem que não entendem as coisas do coração. Mas, então, por que a Nossa Senhora aparece para as crianças?
  
.........O coração não para. Exige decisões. Foi feito para dividir. É a sede do sentimento. É habitado pela emoção. Clama por mudanças. A vida quer dar passos. Todos para a frente. Quem compôs o Hino da EUROPA? A gestão? A técnica? Não! Quem compôs a Nona Sinfonia de BEETHOVEN ... foi um coração emocionado!  Quando cresci, fui estudar na Capital. Vi, então, pela última vez, próximo à Rodoviária ... alguns integrantes da família do DAMÁSIO. Que caminho o destino preparou para aqueles pequenos inocentes? Que as cicatrizes da fome desapareçam nas brumas do tempo!

.........Hoje, ao caminhar no Parque, encontrei uma senhora falando ao telefone. Gritou, desesperada, várias vezes: “VOCÊ NÃO MUDA!” Se ele não mudar o comportamento, o Natal dela será triste. O grande presente que ela quer é a mudança dele. Não é um simples objeto. O preparo para o Natal pede um passo em frente. É uma grande oportunidade para mudar. Para melhor.

.........Na noite de Natal, quando a bondade contagiar as nossas vidas, quando a emoção roubar as nossas palavras... não fuja das luzes da Cidade: elas precisam iluminar um coração de guri, liberto das forças do mal! Não são pessoas desconhecidas que se preocupam com o senhor! Quem clama pela sua mudança são, justamente, aquelas que lhe amam demais!              

.........Sim. É possível. Às vezes, bastam, apenas, cinco pães. Outrora, bastaram cinco pães e dois peixes. Hoje, talvez, falte, apenas, um pouco de força de vontade. Ou disciplina! Prepare um grande presente de Natal: mude! Não fique estático. Não saboreie o imperfeito. Não esconda uma alma generosa. Ponha o coração em movimento. Adquira um sapato novo. Compre um traje elegante. Mude a indumentária. Mude o estilo de vida. Esta tem que valer à pena. Mas mude, também, a alma. Mude o coração. Mude o mundo. 

Questão de Patriotismo


........O objetivo deste trabalho é apresentar a situação da leitura no Brasil, alguns obstáculos e algumas sugestões. O futuro do Brasil depende da Educação. E o futuro desta depende da leitura. Ambas libertam o cidadão. A Educação e a leitura abrem portas. Quem lê educa-se. O livro deve ser tratado com seriedade e entusiasmo. A leitura desenvolve a imaginação. O escritor José Bento Monteiro Lobato (1882 – 1948) defendia, em suas viagens: “ Uma Nação se faz com homens e livros.” Nós, militares, por formação, entendemos que a leitura é uma questão de patriotismo. O futuro da Pátria está em jogo! A leitura de bons livros trará prosperidade ao Povo Brasileiro!


.........Apresentarei, a seguir, os dados disponíveis. Nos últimos anos, a média de leitura do Brasileiro é de dois livros ( lidos até o fim ) por ano. Considerada baixa pelos especialistas. A metade da população é leitora ( Leu, ao menos, um livro nos últimos três meses ). As mulheres estão lendo mais do que os homens ( 53% do total contra 43% do total ). 75% da população nunca entrou numa biblioteca. Fonte: pesquisa realizada, em 2012, pela Retratos da Leitura no Brasil.

.........O Brasil tem mais de 6.000 bibliotecas públicas. Uma para cada 33.000 habitantes ( A ONU recomenda uma para cada 10.000 cidadãos ). Este índice não tem melhorado com o passar do tempo. Algumas cidades do interior não possuem bibliotecas. Dezenas de bibliotecas que aparecem nos estudos oficiais estão fechadas! Dezenas delas não têm profissional habilitado (Bibliotecário). Muitas não possuem condições adequadas ( locais prazerosos, acervo atual, ventilação ... ). Não motivam as pessoas a frequentá-las. Segundo o Instituto Pró-Livro, 50% das pessoas ( com mais de cinco anos ) não praticam o hábito da leitura. Alegam falta de tempo. As bibliotecas, de modo geral, não organizam eventos (Rodas de Leitura, Horas do Conto ...).

.........A qualidade de algumas obras é discutível. Os Professores recebem livros que, nem sempre, são por eles aprovados. O cidadão não é incentivado a adquirir o hábito da leitura. Os Europeus já estão lendo nove livros por ano. Nossos vizinhos Chilenos, 5,4. Temos bons exemplos a seguir. Por aqui, as livrarias dão desconto irrisório aos Professores ( 10% ). Durante o tempo livre, apenas 28% dos brasileiros leem ( O lazer preferido é ver TV ). Nas competições internacionais de leitura, organizadas pela UNESCO, o Brasil tem ocupado os últimos lugares. O que estamos esperando para reagir? Não basta o exemplo e o brilho dos garbosos Alunos dos Colégios Militares? Não estaria faltando um pouco de força de vontade.

.........Milhões de adultos não tiveram o privilégio de formar um bom hábito de leitura. Lentos, não entendem, não sabem fazer. Será que conseguem imaginar o progresso que chegaria com a leitura? Ninguém enriquece sem o conhecimento. A Cultura chega na frente. A prosperidade vem depois.  Quem fundou a Academia Brasileira de Letras? Quem quer conversar, hoje, com o genial MACHADO DE ASSIS poderá ler qualquer uma das obras que ele escreveu...

.........A leitura tem o poder de libertar o homem do analfabetismo funcional. O baixo índice de leitura prejudica a educação e o IDH do Brasil. Ler melhora a Educação. A leitura é uma fonte de saber. Nela nascem os sonhos, os projetos, a esperança ... Os gauchos já estão lendo, aproximadamente, cinco livros por ano (incluindo os didáticos). Entre os que têm Curso Superior, o número é de oito livros. Os Americanos leem cinco livros por ano ( fora da Escola ). Os Franceses onze. Os estudantes americanos têm meia hora de leitura por dia (obrigatória). No Brasil, os cidadãos mais ricos e cultos leem mais do que os outros brasileiros.

.........O livro é um bem econômico de grande valor: cem milhões de brasileiros já estão lendo livros. A leitura no Brasil é liderada pelas pessoas que têm nível superior e renda acima de dez salários. Os humildes, que deveriam ler, não estão lendo!

.........Quais são, afinal, os obstáculos? Falta de ação de comando dos líderes, comodismo, o preço dos livros, falta de hábito, cultura atrasada, baixos níveis de compreensão de textos, reduzido número de livros didáticos, faltam livrarias em 70% dos municípios, faltam duas mil livrarias no País, falta incentivo para a abertura de livrarias, as escolas ( de modo geral ) não estão conseguindo formar leitores ( O índice de leitura cai depois que o cidadão sai da escola ), falta de investimento em Educação e bibliotecas, leitura lenta ( 16% dos entrevistados ), 130 milhões de brasileiros não entram nas bibliotecas ...

.........Diante de missão tão nobre e complexa, o que nós patriotas podemos fazer? Conscientizar todos os líderes da sociedade para participarem desta luta patriótica. Avulta de importância o trabalho dos Pais, dos Empresários, dos Padres, dos Militares, dos Prefeitos, dos Líderes de Bairros, dos Escoteiros, dos Jornalistas ... Os livros deverão ser lidos até o fim. Produzir mais livros de bolso ( preço menor ). Implantar uma competição anual (“Capital Gaucha do Livro”) – Competição salutar. Seguir os bons exemplos: na SUÉCIA e na DINAMARCA, os habitantes leem 15 livros por ano! No CANADÁ e na FINLÂNDIA, o hábito de leitura vem de casa. O Finlandês lê 21 livros por ano. A CORÉIA DO SUL fez uma revolução educacional baseada na leitura. Hoje, tem uma das indústrias mais modernas do mundo. Cada um de nós deve estar sempre lendo um livro. Devemos ler um após o outro. Não há mais tempo a perder. Custe o que custar: os livros têm que chegar nas casas dos brasileiros mais pobres! A nossa união poderá retirar o Brasil desta situação humilhante!

.........A leitura é o caminho...do sonho, da prosperidade...Ela pode nos dar um futuro melhor. Todos somos responsáveis! Eu vou fazer a minha parte. Amanhã de manhã, após a caminhada, começarei a ler outra obra. Que falta que faz um DUQUE DE CAXIAS! Se ele ainda estivesse galopando pelas coxilhas da Província, certamente diria: “SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS!”.  

As Janelas do Orfanato


.........Foi num final de inverno, que nasceram, numa cidade do interior, duas gauchinhas. Alegria em dobro. Preocupação, também.  Elas eram filhas de um casal de moradores de rua, selecionadores de papel. Quatro pessoas envoltas num círculo de miséria. Situação desfavorável à educação das crianças, agravada por uma síndrome.

.........Um líder propôs, aos Pais, que ambas fossem morar no Orfanato. Até melhorar a situação. Para evitar que as gêmeas sofressem como eles, vivendo na rua, o Pai concordou. Mas, só depois que as crianças fossem batizadas. Na Igreja Matriz, receberam belos nomes: MARIA FERNANDA e MARIA VITÓRIA.

.........Como é bonito quando um Povo valoriza o Orfanato! Quando investe numa Instituição de Caridade! Quando sabe o valor da APAE! As meninas foram crescendo com alimentação saudável. Com educação cuidadosa. Com bons exemplos. Faltava, apenas, uma família amorosa, uma casa bem bonita, um pouco de esperança.

.........A Irmã Diretora sabia que “a família é a célula mãe da sociedade”. Trabalhava para que as Alunas fossem adotadas ou contratadas. Na semana do Natal, levou as pequenas para conviver com famílias de boa vontade. Ao realizarem exame médico, as gêmeas foram contra-indicadas para adoção.

.........A Diretora ficou triste. Estava ansiosa para dar uma oportunidade a elas, agora com três anos. Seguiu em frente e exclamou: “Que os Anjos resolvam!” Tinha a esperança de que uma alma boa compreendesse a realidade delas ... Lembrou-se do Papa FRANCISCO: “... nenhuma criança sem lar ...”

.........A MARIA FERNANDA foi passar o Natal na casa da GABRIELA. A Dona da residência estava de cama, com depressão.  Mas, ao ver a criança, gostou muito dela: era alegre, engraçada, brincalhona ... O coração de Mãe falou mais alto. Recomeçou a vida. A pequenina não tinha nada para oferecer, mas, sem querer, deu uma razão para viver.

.........A patroa apresentou um plano para adotar a guria. Algumas filhas foram contra. A síndrome ... era desconhecida! Mas a Mãe da GABRIELA estava determinada. Otimista. Naquela família religiosa, um argumento foi decisivo: a MARIA FERNANDA tem o direito de viver! O Sol nasce para os especiais, para os pobres, para os pássaros ... O Sol nasce para todos!

.........Foi adotada, em fim, por uma equipe madura. Ela une a família. Interage com todos. Alegra a casa. Vaidosa, faz poses para  fotografias. Faz de tudo um pouco, embora devagar. Na Missa da noite, orgulhosa, leu uma Carta do SÃO PAULO ... Em setembro, foi realizada uma emocionante festa de aniversário: 15 anos! Com orações e sorrisos, ela encontrou uma família amorosa. Olhares perdidos nas janelas do Orfanato ficaram na lembrança ...

.........O médico que previu vida curta para as gêmeas compareceu. Disse que a MARIA FERNANDA tinha muita vontade de viver. E que foi feita a vontade de DEUS ... O BRASIL não precisa de super-homens. Precisa de homens felizes. Em atenção a corações humildes, para DEUS tudo é possível ...

.........A MARIA VITÓRIA passou o Natal em lar abastado. Ficou encantada. Recebeu pouca atenção. Estavam se preparando para viajar. Não houve interesse em adotar a gauchinha. Por causa de uma síndrome, foi discriminada sem saber. Buscam olhos azuis. Que não garantem a nobreza de caráter de um homem ... Para ela, foi triste saber que havia dois quartos sobrando naquela casa! Não é a primeira vez, que a vida fica esquecida num canto. A criança conheceu a elegância, mas não o amor!

.........Numa Instituição quase centenária, a MARIA VITÓRIA, sofrendo saudade da Irmã gêmea, era vista, trajando azul, brincando no gramado da frente, olhando, ansiosa, o portão da Avenida. Quem sabe sofrer? Quem sabe esperar?

.........Mas era um coração que não sabia esperar ... Esperando ser escolhida por uma família bem bonita, vestindo rosa claro, ainda pequena, morreu de tristeza ... numa janela do Orfanato ...

.........( Baseado em fatos reais )

Camisas Perdidas

.........O objetivo deste trabalho é apresentar ensinamentos que brotaram da análise das brigas de outrora. A causa é nobre: deixar para os jovens uma Cidade melhor. Em alguns domingos à tarde, não havia o que fazer, em minha terra natal. Os rolos de filme não vinham de CARAZINHO. Não havia matinê! O ônibus do ITAPAGÉ, de FREDERICO WESTPHALEN, quebrava na estrada de chão. Não havia jogo, no Campo do HARMONIA!  Acompanhava, então, o Pai (FRIDOLINO), o senhor ARDUINO GIOVANINI, o senhor TOBIAS BACHI ... ao Bar do MATTEI. Jogavam cartas com entusiasmo. Principalmente, o “3 – 7” ...

.........Eu estava junto ao balcão. Tomava gasosa do HERMES MACCARI e comia “mandolato” da BOA VISTA. Foram longos domingos de amizade e paz. Até que um dia, um jogador de cartas, de origem italiana, cometeu um ato de desonestidade ... “Tiavou não sei o quê!” Começou uma “discutissão” das brabas! Espalhou-se pelas quatro mesas do Bar. Todos ficaram de pé. Foram discutindo e saindo do Bar. Na esquina da Avenida EXPEDICIONÁRIO com a Rua JÚLIO MAILHOS, não passava nenhum auto! Havia mais de duzentas pessoas discutindo ou apartando a briga! O boné de um Italiano voou longe. Graças a DEUS, não chegou haver luta corporal. Eram Pais de Família, honestos, trabalhadores ... Alguns deles receberam a honraria máxima do Município: “Cidadão Sarandiense” ...

.........Aquela turma de boné e suspensório, no jogo de cartas ou na vida, cultuava a Honestidade. Sem esta, o mundo perdia o brilho! Eram felizes com pouco. Eu me emociono, quando me lembro daquele episódio: a briga não começou em respeito à presença de uma criança ... As ondas sonoras da ZYU 36 atendiam o pedido de uma loira de blusa amarela: “PROFESSOR APAIXONADO”, com NILTON CÉSAR ... Havia coisas bem mais importantes... Palavras são como flexas: podem ferir! Brigas são como portas: podem fechar ... para sempre!

.........Numa noite de verão, eu me deslocava pela Rua TIRADENTES. Queria comprar pastel na Rodoviária do senhor ALVES. Estava havendo uma grande confusão. Informei ao Pai, amigo de brincadeiras e perigos ... Ele me disse para não apartar a briga: os que apartam, às vezes, acabam morrendo. Alguns homens estavam tentando segurar o Motorista da Patrola. Movido pela curiosidade, cheguei mais perto. O furioso homem, seguro pelos braços, jogou os pés contra o rosto do cidadão que havia lhe magoado. Uma multidão era testemunha de mais um escândalo daquele competente profissional. Dependente químico sem nenhum tratamento, já não escondia o tremor das mãos ... Não havia a cultura de internar nem de tratar. Numa época em que não havia prontuários, nem esperança. Eu ainda era pequeno, mas assisti, com tristeza, o naufrágio de uma família inteira... provocado por um “hábito” que parecia inofensivo. O BRASIL salva, apenas, 30% dos alcoólatras! Ser inteligente é não começar ...

.........Quando o doutor JONES ZANCHET, filho do MASSIMO, era o Presidente do HARMONIA, fui ao Clube, à noite, para comprar sonhos. O PAULO ROBERTO BLANK, locutor da Rádio SARANDI, fazia brincadeiras, junto ao balcão. Começou uma briga entre dois torcedores. Com caipirinha nas veias, um queria acabar com o outro. No auge da fúria, faltou luz na Cidade. Ninguém via nada! Havia o risco de alguém ser atingido por uma cadeirada perdida. Ciente do perigo, fui me proteger na sala do Presidente. Fiquei na porta aguardando os fatos. O ecônomo não tinha nem lanterna. Contar com a sorte fazia parte da nossa cultura.  Seguiram-se momentos de suspense... O brigão, que se achava mais esperto, cometeu um erro estratégico: acendeu um fósforo! Tomou uma bofetada cinematográfica! Os palitos de fósforo voaram! A situação piorou: sem luz, sem fósforo, sem lanterna, com um ferido ... Quando a luz voltou, o Clube já era outro. Os homens também! O senhor ILDO MANFRO colocou na Eletrola um novo "Long Play" (LP): “ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLING STONES” ... Ao chegar em meu lar sagrado, a Mãe ( JOVILDE ) me perguntou sobre os sonhos...  A causa do conflito foi a personalidade forte dos envolvidos. O orgulho provoca discórdia. A humildade é marca dos grandes homens!

.........Nos anos 50 e 60, não havia briga de torcidas em SARANDI. Fato elogiável! Futebol é arte e alegria. Violência nunca foi Futebol.  A briga mais longa ocorreu na época do Ginásio. Durante um jogo de futebol, realizado num gramado que havia do lado de cima do Ginásio Sarandi, um zagueiro marcava com rigor um centroavante. Começaram discutir. Trocaram socos e pontapés, por mais de meia hora. Não houve perdedor. Nenhum deles caiu. Não cansaram. Não aceitaram ser apartados. Os colegas de aula ficaram admirados pela coragem e resistência dos contendores. Na verdade, a gente pensa que conhece os irmãos ... As camisas ficaram imprestáveis! Ainda hoje, é difícil ensinar aos estudantes “SABER PERDER”. Um queria, apenas, fazer gol. O outro não queria deixar. Ambos estavam certos. Mas a deslealdade não deveria ter entrado em campo! O homem de caráter joga limpo!

.........Num baile realizado no antigo Salão do Ipiranga, o Soldado PAIANI foi atingido por um tiro de revólver nas costelas. Ele era um Brigadiano muito benquisto na Cidade. Ainda na mesma noite, fui, com alguns amigos, ao Hospital Santo Antônio, do doutor MÁRIO AZAMBUJA. Estávamos muito preocupados. Entrei na Sala de Cirurgia. O bravo Militar me recebeu sorridente. Estava feliz por estar vivo. Inclinado numa cama, sem camisa, mostrando, no lado direito do peito, o furo da bala ... Passou entre as costelas. O projetil atravessou “fora e fora”, mas, segundo a Enfermeira, não atingiu nada importante ... O ADEMAR ( “GAUCHINHO” ), filho de um outro Brigadiano, disse que o amigo PAIANI estava fora de perigo ... Já tinha tomado uma aspirina! A camisa do sobrevivente não dava mais para usar. Mas seria guardada de lembrança... Bons tempos! Se um Carioca toma um balaço desses, desmorona na hora! (Uma causa importante daquele episódio: falta de uma Cultura de Segurança. As autoridades têm o dever de impedir que os cidadãos entrem armados nos bailes! Por quê entrar com armas nos bailes, nos estádios, nos cinemas ...?). Se beber, não dirija, não atire! A bebida alcoólica contribuiu ... para estragar a noite ...

.........Meus jovens! O Povo Sarandiense sempre foi religioso e pacífico. Minha terra natal nunca foi “SARANDI DO OESTE!” Era um lugar de fraternidade sincera. Guris pobres brincavam junto com guris ricos. Os médicos sabiam os nomes dos pobres. Atendiam e curavam, sem cobrar, sem papelada ... Tudo era para todos.

.........Quando fui estudar na Academia Militar das Agulhas Negras ( AMAN ), em 1974, nos primeiros dias, dois cadetes brigaram. Eram de regiões e culturas diferentes. O então Capitão CUPERTINO, Comandante da 2ª Companhia, fez uma formatura para explorar o episódio. Transmitiu orientação e experiência. Concluiu sua eloquente fala, dizendo: “A MELHOR BRIGA NÃO VALE A CAMISA!” ( A PAZ é um Objetivo Nacional Permanente ).

A Cidade e o Menino


Recordar emociona num segundo.
Minha bicicleta de três rodas!
Conquistava o mundo.
A bola de couro número dois!
Que foi embora depois...

No Natal de não sei quando,
a  bondosa Mãe me deu um presente:
sapato novo, bonito ...
No meio daquela gente,
um dia me fez chorar,
por não saber o cadarço atar.

Às vezes, da valorosa Mãe apanhando,
por deitar as poucas melenas.
Não raro, sujo, ao lar voltando,
num constante vai-e-vém.
Tantas vezes, minhas pernas pequenas
foram vencidas...
nos degraus do armazém.

A Mãe, trabalhadora exemplar,
fazendo doce novo:
merengue, sagu ou pudim ...
Quase sempre para mim!
O Pai, lendo o Correio do Povo,
citando provérbios sem fim ...
Quanta honestidade ele tinha!
Uniu a Família, aos pés da Capelinha ...

Na parede do Cine Guarany,
o ninho das andorinhas ...
livres, alegres, rasantes ...
sempre voltavam para me ver.
Nos bares da vida, apaixonados  errantes ...
Prêmios nos refrigerantes ...
Nada é como antes!

Ao tomar chimarrão, numa tarde fagueira,
o Pai ensinou pérolas para a vida ...
Versos com beleza, emoção de primeira ...
Uma cobra verde constrangida,
atrapalhada, caiu da bergamoteira ...

Um pouco de tudo eu queria saber.
Mas para onde correr
nem sempre sabia.
O Gran Ringli Circus desfilando na Avenida.
O caminhão de Montenegro carregado de melancia.
Uma briga de facas no Catumbi ...
Com  insensata ferida,
o Sarandiense VERCI ...
tombava sem vida ...
Por que tinha que ser assim? 

O passar dos anos também levou
aquela manhã eufórica
em que, sorrindo, a Mãe me chamou ...
para ver a grande nevasca...
Um rádio de mesa espalhava canções.
O fogão à lenha assava pinhões.
Na janela, apaixonado, um guri canta e  chora...
E a neve  caindo lá fora ...

Caminhando para Colégio distante do lar abençoado
com minha pasta de couro marron,
aprendi que o belo é limitado ...
Encharcado de mel, o sanduíche meu 
ensinou  agradecer as coisas pequenas
que a vida me deu ...
Vivendo perto de DEUS, descobri a honestidade
e  valores sem fim.
Num domingo, na missa da Matriz,
o admirável Padre ERVINO 
ensinou que o sagrado sino
sempre batia por mim ...

Meu cachorrinho preto, manso, engraçado,
pelo Pai, MIPI foi batizado.
Numa tarde de verão,
distraído pela distração,
perdi o mimoso cãozinho sim!
Num mundo sem começo,
num potreiro sem fim ...

O que a Cidade quer do menino?
Ela quer a felicidade no caminho ...
O que o menino quer da Cidade?
Que encontre o cachorrinho ...   

Quando eu não tinha os dentes da frente,
meu gato era preto e branco,
de pelo macio, reluzente,
que a Mãe chamava de ZEU ...
Na porta do meu quarto,
de saudade quase morreu,
quando a Águia me levou
para um Porto distante,
que nunca foi meu ... 

Lembranças douradas,
de inesquecíveis jornadas ...
Da sombra do umbu,
na beira do Rio Bonito.
Do guarda-noturno, o apito ...
Do cheiro das uvas maduras...
Dos pirilampos das noites escuras ...
Não aprendi a esquecer ...

Da tábua da esperança e do pinheiro,
do tijolo da bondade e da olaria,
vi crescer uma Cidade,
vi nascer um novo dia ...
Com as mãos dadas a amizade,
a paz e a valentia ... 

Meu pequeno SARANDI,
ainda ontem, chorei por ti!
Gramados de emocionantes torneios ... 
Povo religioso e colaborador,
compra todos números de sorteios ...

Meninas sinceras e lindas,
no clarão do luar,
serenatas  infindas ...
Meu querido lugar
da esperança, do trigo, do milho,
do Baile do Harmonia, do sonho, do brilho ...
Em dia de festa, os Cometas do JOÃOSITO cantor...
Em noite de estrelas, um disco-voador ...

Um mundo maravilhoso me deram os Pais,
os passarinhos, o bodoque, os animais ...
a bola, as bolitas, as águas...
Os desonestos me deram as mágoas ...
Tentando sobreviver a pequenas partidas,
aprendi cicatrizar as grandes feridas ...
Não precisavam me dizer
que a JOVILDE pouco estudo tinha ...
Ela nunca deixou de ser...
a nossa Rainha!

Não quero fazer agouro:
nem moeda de ouro
compra de volta da vida a aurora...
Mas não chore, nesta hora,
meninada de outrora:
lembrança é tesouro!

Recordar emociona num segundo.
Minha bicicleta de três rodas!
Navegava pela Cidade.
Conquistava o mundo.
A bola de couro número dois ...
Punhado de dias felizes!
De uma felicidade
que foi embora depois ...

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