domingo, 27 de junho de 2021

 O ÔNIBUS QUE PARAVA DEMAIS -

       Nas férias de julho de 1970, numa noite muito fria, eu fiz uma viagem de Porto Alegre a Sarandi, com a empresa Águia Branca. Naquela época, era comum os Sarandienses dizerem que viajavam “com o Sabadin”. Eu não conhecia os motoristas. Naquela ocasião, conheci o novo Auxiliar do Motorista. Era um gordinho izibido. A maior preocupação dele era mostrar que nasceu ou morava na Capital. Ele arrumava qualquer motivo para dizer: “Dez minutos di parada!”. Talvez por vaidade ou para arrumar uma namorada... E, assim, fomos parando em todas as localidades. O ônibus fazia uma baita volta por Encantado, Arroio do Meio, Arvorezinha, Ilópolis etc... Paramos até para trocar um pneu!

       É óbvio que os passageiros reclamavam: “CHEGA DE PARADA!” “TOCA DIRETO!” “ESTAMOS COM PRESSA!”. Do meu lado, junto à janela, viajava uma Freira, muito atenciosa. Ela comia uma maçã. Comeu várias. Ela me contou que conhecia a Irmã Verônica, minha primeira Professora, mas que não sabia aonde ela estava. Que pena!

Seria emocionante revê-la...

       Havia, no ônibus, na parte posterior, estudantes Sarandienses. Eles abriam as janelas e fingiam que estavam dormindo. O ônibus virava uma geladeira! As reclamações voltavam: “FECHEM AS JANELAS!” “ESTÁ MUITO FRIO!”. Mas não havia a menor condição de as janelas ficarem fechadas. Eles devem ter almoçado lá no Zancanella. Este é bom socialmente. Deve ter servido uma refeição bastante nutritiva... feijão com cebola e ovos! A Freira disse que eles comeram alguma coisa estragada.

       O gordinho resolveu tomar uma providência: “Atenção, senhores passageiros, dez minutos di parada!” Na verdade, em cada parada, bastavam poucos minutos, apenas. O ônibus deveria parar também em menos locais. Perto de Soledade, o ônibus parou na frente de uma loja que tinha dançarinas dentro... Eu disse que deveriam trocar outro pneu. A Irmã exclamou: “Acho que vão trocar o óleo!” A viagem estava com várias horas de atraso. Deram a culpa para o gordinho izibido. Em Carazinho, na garagem, trocamos de ônibus. Lá se foi mais meia hora! Finalmente, o ônibus novo, ou quase novo, seguiu a viagem. Um detalhe chamou a atenção dos passageiros: o gordinho desapareceu.


Nenhum comentário: