sábado, 1 de maio de 2021

 - COISAS DE GURI -

.........Nos anos 50 e 60, na minha terra natal (SARANDI-RS), a maioria dos guris possuía: bodoques, gaiolas, alçapão, varas de pescar, canivete, escapulário, espingardinha de rolha, espingarda de pressão (chumbinho), revólver de espoleta, bolas, brinquedos de madeira, carrinho de lomba, caixa de bolitas, bicicleta, gato, cachorro, eletrola e discos de vinil...

      Eram objetos e brinquedos que colaboraram com nosso amadurecimento. Marcaram fases da nossa infância. Uns deixaram saudade. Outros, muita saudade. A época dos passarinhos foi muito importante. Não era proibido caçar. Não havia a palavra ecologia. Os pássaros eram abundantes. Para cada pássaro caçado era feito um risco no cabo da forquilha do bodoque. As tesourinhas, quando pousavam nos arames das cercas, formavam fileiras de dezenas! Quando os caquis estavam maduros, eu ía caçar saíra (verde-azuladas). Fiquei triste um dia, quando caçava no potreiro do Damiani. Acertei um pássaro que, ferido, caiu no Rio Bonito. Mas, o dia mais triste foi aquele em que o Ítio (Carlos Luiz Piccini) matou uma pomba. Ela caiu aos nossos pés com a cabeça ferida. A companheira dela veio junto gritando e chorando como a perguntar por que fizeram isso. Chorei por um pássaro! Perdi a fome. À noite, a Mãe fazia passarinhada.

.........Fiquei alegre quando o meu alçapão capturou um sangue-de-boi. Era belo, todo vermelho, o mais bonito das gaiolas. Outro de muita beleza era o canário macho (amarelo). Fiquei triste quando encontrei o sangue-de-boi no chão da gaiola, sem vida. Não sei o motivo. O pássaro mais belo de todos era a saíra-sete-cores. Vi-o apenas uma vez, numa laranjeira do pomar do Pedro Piccini. O bem-te-vi (de peito amarelo) estava por toda parte! Cresci ao som do canto estridente do joão-de-barro. Após a Missa, íamos ver os pássaros do viveiro dos Padres. Vi, também só uma vez, um pássaro laranja. Não sei o nome. Conviver com os pássaros me fez compreender o sofrimento do cativeiro, o valor da liberdade e a beleza da fauna.

      O Rio Bonito era um patrimônio da Cidade. No verão, aos sábados à tarde, íamos pescar. Levávamos Q-Suco (refresco) e bolacha. Sentávamos na grama, à sombra do umbu. Os cardumes pulavam na água. Pescadores atravessavam de ambos os lados do rio. Havia vida! O peixe maior era o jundiá. Era mais do que lazer. Era uma lição de amor à natureza. Às vezes, o Pai ia junto. No jantar, a Mãe servia peixe frito.

.........A fase dos brinquedos foi inesquecível. Nós fabricávamos brinquedos de madeira e de barro. Às vezes, comprava. As armas eram influência do cinema. Sempre havia uma bola. Às vezes, de couro; às vezes, de plástico ou borracha. Quando jogava bolitas, não queria nem almoçar. O meu carrinho de lomba me deu muitas emoções e alguns sustos. Atropelei o latão de lixo da esquina. E um fiscal da prefeitura. Quando eu saía, meu cão (Mipi) me esperava na porta do quarto. O escapulário era influência dos padres e freiras. Era bento, uma proteção. A eletrola e os discos de vinil marcaram o fim da infância e o começo da juventude.

C  F  V O G T

c f v o g t @ y a h o o . c o m . b r

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