Bom dia, Amigo Leitor! Ao admirar as canções e poesias gaúchas, percebi
que a bela cultura do Rio Grande do Sul está se perdendo. Vocabulário que
atravessou décadas da História é ignorado parcialmente. O cidadão que não conhece o sentido
das palavras perde muito em emoção e cultura. Com objetivo de colaborar no entendimento
dos termos usados pelos escritores, apresento, após a poesia de hoje, o
significado das palavras menos empregadas. Lembro, ainda, que nem todos têm o
dicionário. Ninguém sabe tudo! Vamos crescer juntos! Desejo leitura agradável e
emocionante. C F VOGT.
MEU
RANCHO!
Nasci
no meio do campo,
Na
costa do banhadal,
Dentro
dum rancho barreado,
De
chão duro e desigual,
Meu
berço foi um pelego
Sobre
um couro de bagual!
Bebi
leite na mangueira
Numa
guampa remachada
E
a cavalo num tição
Me
aquentei de madrugada
Enquanto
o vento assobiava
Nos
campos brancos de geada!
Brinquei
com gado de osso,
Na
sombra do velho umbu
E
assim volteando amargo
E
o churrasco meio cru,
Fui
crescendo e me orgulhando
De
ter nascido um chiru!
Depois
de andar gauderiando
Por
muita querência estranha
Hoje
vivo no meu rancho,
Na
humildade da campanha,
Junto
a chinoca querida
E
o cusco que me acompanha!
Na
estaca, em frente do Rancho,
Dorme
o pingo, meu amigo,
Companheiro
que eu adoro,
Prenda
guasca que bendigo
Pois
alegrias e penas
Sempre
reparte comigo!
É
meu vizinho de porta
Um
casal de quero-quero,
Por
isso, embora índio pobre,
Bem rico me considero:
Tenho
china, pingo e cusco
Do
mundo nada mais quero!
E
quando de noite a lua
Vem
destapando o meu rancho
Agarro
na gaita velha
Que
guardo erguida num gancho
E
dando rédeas ao peito
Num
vanerão me desmancho!
E
o meu verso é como o vento
Que
vai dobrando a flexilha
E
floreia compadresco
O
hino desta coxilha
Entre
os buracos de bala
Do
pavilhão farroupilha!
É
mesmo que o bombeador
Dos
piquetes da vanguarda
Que
vem abrindo caminho
Pras
tropas da retaguarda
E
enquanto a cordeona chora
Meu
cusco fica de guarda!
E
ali pela solidão,
Onde
o meu canto escaramuça,
Parece
que a noite velha
Cheia
de mágoas soluça
E
a própria lua pampeana
No
Santa-Fé se debruça!
Mas
pra deixar o sossego
Do
meu rancho macanudo
Basta
só a voz dum clarim:
Com
china e cusco me mudo
Na
defesa do Rio Grande
Que
adoro acima de tudo!
( JAYME CAETANO BRAUN )
_____________
VOCABULÁRIO
-
Mangueira: grande curral de arame, pedra, madeira, junto à casa da estância,
onde se encerra o gado...
-
Tição: pessoa de côr negra.
-
Chiru: índio, caboclo, moreno carregado...
-
Cusco: cão pequeno, de raça comum, guaipeca...
-
Pingo: cavalo bom, vistoso, fogoso, bonito, corredor...
-
Guasca: tira ou correia de couro cru que tem muita utilidade nos misteres do
campo...
-
China: mulher campeira, indígena...
-
Vanera: dança e canto popular originário de ritmo cubano, adaptado para a
gaita-ponto...
-
Vanerão: vanera em solo de gaita, alegre, vivo...
-
Flexilha: variedade de grama ou capim, de boa qualidade, para a criação de
gado...
-
Bombear: olhar, observar, espionar...
-
Bombeador: quem bombeia...
-
Escaramuça: movimento repentino de rédea, que obriga o cavalo a efetuar
diversas evoluções...
-
Macanudo: muito bom, excelente, notável, respeitável...
(DICIONÁRIO GAÚCHO
BRASILEIRO, de Batista Bossle).
Nenhum comentário:
Postar um comentário