sábado, 17 de fevereiro de 2018

Fuga do Martelo

.........Em Brasília, lutei com persistência contra a corrupção nos combustíveis. Diante de inimigos ocultos e interesses conflitantes, obtive poucos resultados. Eu não sabia que o Brasil era assim! Triste, voltei ao Rio Grande altivo, rico de valores e tradições.

.........Em Porto Alegre, fui residir na Rua São Manoel, em lar com pouca estrutura. Não havia silêncio, nem luz, nem chaves... Por isso que Militar ganha bem! Num inverno rigoroso, a luz veio no quinto dia. A imobiliária cobra como se fosse Avenida Paulista! Tive uma surpresa com as chaves.

.........Fui fazer cópias das chaves  no Bairro Santana. Enquanto o profissional fazia o trabalho, chegou um cliente vindo, talvez, de uma galáxia vizinha. Com a cabeça cheia de graxa e teia de aranha. Um mistério bem misterioso. Fiquei em dúvida: perguntar ou não ... Os nativos não gostam de perguntas. Quando perguntei a um jovem “di Porto Alegre” se poderia baixar o som, por pouco não houve uma grande pancadaria... O rádio dele tocava só propaganda! Tive que ler um livro de crônicas no bairro dos bacanas. O silêncio e os pássaros são amigos do Pensador.

.........Mas, considerei que deveria fazer de tudo para não ser acometido por moléstia similar. Sem prata na guaiaca, sem sorte no amor e com graxa no cabelo, seria bem mais difícil pegar guria. Não custa perguntar. Para evitar uma tragédia, indaguei com a polidez que me é peculiar. Afinal, o Escritor tem que conhecer os problemas do Povo. Perguntei em tom amigável: O QUE HOUVE COM O TEU CABELO?

.........Bah! Me arrependi na hora. O Cidadão não gostou. Ficou vermelho. Disse que pisei nele. Que era coisa da minha cabeça. Foi ficando furioso. Começou sair fumaça pelas orelhas. O Chaveiro tentou amenizar: “Está na moda colocar óleo Palmolive no cabelo!” Sobre o balcão, havia um martelo. O Cliente olhou para a ferramenta. Pensei: será que vai pegar o martelo? Eu estava confiando no seu espírito democrático... O furioso cidadão pegou o martelo com energia. Medo eu não tinha. Nem coragem. Eu só não gostava de tomar martelada.

.........Meu espírito militar falou mais alto: decidi atacar para a retaguarda. Subi a Vicente Da Fontoura correndo a 90 Km por hora. O homem do martelo gritou: “TRAIDOR!” Veio atrás de mim a 90 Km por hora. Fiquei com a impressão de que ele queria acabar comigo. No bom sentido. O Teixeirinha conhecia bem a gauchada:”... mas se alguém me pisar no pala... meu revólver fala... “

.........Numa esquina, passei por duas Soldadas da Brigada Militar. Eram belas, elegantes e educadas.  Uma Nação se constrói, também, com bons exemplos! Elogiaram o meu preparo. Não perceberam o pânico.
 

.........Corri na direção do Arroio Dilúvio. Aquele que já era para ser um ponto turístico piscoso. Não havia ponte. Fiquei com uma dúvida gaudéria: se atravessar, livro-me do perseguidor, mas poderei chegar do outro lado com doença de rato, tétano, hepatite e chikungúnia. Com um pouco de azar, poderei, ainda, ser multado por crime ambiental.

.........Dobrei para a esquerda. Corri para a próxima ponte. Passei por um vendedor de gatos. O homem do cabelo estranho parou na beira do Arroio. Não gostou do que viu.  Com muita raiva, jogou o martelo na água “mineral”. O “carpinteiro” ouvia vozes, via personagens... Parou para ver a gataiada. Na Avenida Ipiranga, tive que diminuir o ritmo. Mendigos dormiam na calçada. Parece que o pessoal da Assistência Social não se lembra deles... Todos têm cães. Para acabar com a pobreza, nenhum patriota deve dormir de dia.“ À Pátria tudo se dá, nada se pede!” Que saudade do governo forte! O Brasil é mais feliz sob pulso firme!

.........Meu perseguidor implacável foi atacado pela cachorrada. Não desistiu. Entrou numa ferragem. Mistério. Com o “melãozinho” funcionando em baixa voltagem, eu não conseguia pensar direito. Entrei na Rua da Igreja, atual Duque de Caxias. Entramos! O cheiroso era um baita atleta! Lembrei-me do poderoso Santo Antônio. Ele atendia à minha Família na hora. Eu precisava que me ajudasse de novo.

.........Cruzei por algumas senhoras. Estavam maravilhadas com a roupa de um jovem. Mostrava, parcialmente, uma peça íntima colorida. Aparecia um pedaço do cofrinho. Que bonito! O homem do cabelo com graxa parou. Interessou-se. Distraiu-se. Gostou de alguma coisa. O trânsito estava parado. Aproveitei a confusão. Entrei na Catedral. Que alívio!


.........Tratei de sumir. Passei por uma porta na parede do lado direito. O senhor Bispo fazia uma palestra. Ele me reconheceu: “Olá, Claudio! Tu também vais fazer o Curso?” Respondi: com certeza! Ele continuou: “O Henry ainda está no Seminário?” Respondi: de que Henry o senhor está falando? Enquanto o Bispo pensava, tocou o sino. Acabou a Palestra... A Freira aproveitou para fazer uma pergunta: “mais alguém vai fazer o Curso de Marcenaria?”

.........Saí da Catedral no meio da multidão, para não ser reconhecido. Fiquei mais calmo ao ver que a segurança era de peso: uma dupla de Soldados (tradicional Pedro e Paulo). Fortes e bem equipados. Avistei, do outro lado da Rua, o meu furioso perseguidor, entrando na Assembléia Legislativa. Levava na mão direita um martelo novo... Que perigo! Espero que os Deputados não perguntem nada.


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