.........Em
Brasília, lutei com persistência contra a corrupção nos combustíveis. Diante de
inimigos ocultos e interesses conflitantes, obtive poucos resultados. Eu não
sabia que o Brasil era assim! Triste, voltei ao Rio Grande altivo, rico de
valores e tradições.
.........Em
Porto Alegre, fui residir na Rua São Manoel, em lar com pouca estrutura. Não
havia silêncio, nem luz, nem chaves... Por isso que Militar ganha bem! Num
inverno rigoroso, a luz veio no quinto dia. A imobiliária cobra como se fosse
Avenida Paulista! Tive uma surpresa com as chaves.
.........Fui
fazer cópias das chaves no Bairro
Santana. Enquanto o profissional fazia o trabalho, chegou um cliente vindo, talvez,
de uma galáxia vizinha. Com a cabeça cheia de graxa e teia de aranha. Um
mistério bem misterioso. Fiquei em dúvida: perguntar ou não ... Os nativos não
gostam de perguntas. Quando perguntei a um jovem “di Porto Alegre” se poderia
baixar o som, por pouco não houve uma grande pancadaria... O rádio dele tocava
só propaganda! Tive que ler um livro de crônicas no bairro dos bacanas. O
silêncio e os pássaros são amigos do Pensador.
.........Mas,
considerei que deveria fazer de tudo para não ser acometido por moléstia
similar. Sem prata na guaiaca, sem sorte no amor e com graxa no cabelo, seria
bem mais difícil pegar guria. Não custa perguntar. Para evitar uma tragédia,
indaguei com a polidez que me é peculiar. Afinal, o Escritor tem que conhecer
os problemas do Povo. Perguntei em tom amigável: O QUE HOUVE COM O TEU CABELO?
.........Bah!
Me arrependi na hora. O Cidadão não gostou. Ficou vermelho. Disse que pisei
nele. Que era coisa da minha cabeça. Foi ficando furioso. Começou sair fumaça
pelas orelhas. O Chaveiro tentou amenizar: “Está na moda colocar óleo Palmolive
no cabelo!” Sobre o balcão, havia um martelo. O Cliente olhou para a
ferramenta. Pensei: será que vai pegar o martelo? Eu estava confiando no seu
espírito democrático... O furioso cidadão pegou o martelo com energia. Medo eu
não tinha. Nem coragem. Eu só não gostava de tomar martelada.
.........Meu
espírito militar falou mais alto: decidi atacar para a retaguarda. Subi a
Vicente Da Fontoura correndo a 90 Km por hora. O homem do martelo gritou:
“TRAIDOR!” Veio atrás de mim a 90 Km por hora. Fiquei com a impressão de que
ele queria acabar comigo. No bom sentido. O Teixeirinha conhecia bem a
gauchada:”... mas se alguém me pisar no pala... meu revólver fala... “
.........Numa
esquina, passei por duas Soldadas da Brigada Militar. Eram belas, elegantes e
educadas. Uma Nação se constrói, também,
com bons exemplos! Elogiaram o meu preparo. Não perceberam o pânico.
.........Corri
na direção do Arroio Dilúvio. Aquele que já era para ser um ponto turístico
piscoso. Não havia ponte. Fiquei com uma dúvida gaudéria: se atravessar, livro-me
do perseguidor, mas poderei chegar do outro lado com doença de rato, tétano,
hepatite e chikungúnia. Com um pouco de azar, poderei, ainda, ser multado por
crime ambiental.
.........Dobrei
para a esquerda. Corri para a próxima ponte. Passei por um vendedor de gatos. O
homem do cabelo estranho parou na beira do Arroio. Não gostou do que viu. Com muita raiva, jogou o martelo na água
“mineral”. O “carpinteiro” ouvia vozes, via personagens... Parou para ver a
gataiada. Na Avenida Ipiranga, tive que diminuir o ritmo. Mendigos dormiam na
calçada. Parece que o pessoal da Assistência Social não se lembra deles... Todos
têm cães. Para acabar com a pobreza, nenhum patriota deve dormir de dia.“ À
Pátria tudo se dá, nada se pede!” Que saudade do governo forte! O Brasil é mais
feliz sob pulso firme!
.........Meu
perseguidor implacável foi atacado pela cachorrada. Não desistiu. Entrou numa
ferragem. Mistério. Com o “melãozinho” funcionando em baixa voltagem, eu não
conseguia pensar direito. Entrei na Rua da Igreja, atual Duque de Caxias.
Entramos! O cheiroso era um baita atleta! Lembrei-me do poderoso Santo Antônio.
Ele atendia à minha Família na hora. Eu precisava que me ajudasse de novo.
.........Cruzei
por algumas senhoras. Estavam maravilhadas com a roupa de um jovem. Mostrava,
parcialmente, uma peça íntima colorida. Aparecia um pedaço do cofrinho. Que
bonito! O homem do cabelo com graxa parou. Interessou-se. Distraiu-se. Gostou
de alguma coisa. O trânsito estava parado. Aproveitei a confusão. Entrei na
Catedral. Que alívio!
.........Tratei
de sumir. Passei por uma porta na parede do lado direito. O senhor Bispo fazia
uma palestra. Ele me reconheceu: “Olá, Claudio! Tu também vais fazer o Curso?”
Respondi: com certeza! Ele continuou: “O Henry ainda está no Seminário?”
Respondi: de que Henry o senhor está falando? Enquanto o Bispo pensava, tocou o
sino. Acabou a Palestra... A Freira aproveitou para fazer uma pergunta: “mais
alguém vai fazer o Curso de Marcenaria?”
.........Saí
da Catedral no meio da multidão, para não ser reconhecido. Fiquei mais calmo ao
ver que a segurança era de peso: uma dupla de Soldados (tradicional Pedro e
Paulo). Fortes e bem equipados. Avistei, do outro lado da Rua, o meu furioso
perseguidor, entrando na Assembléia Legislativa. Levava na mão direita um
martelo novo... Que perigo! Espero que os Deputados não perguntem nada.
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