.........Visitei, há poucos dias, um Hospital de PORTO ALEGRE. Vou
ser sincero: é tudo meio deprimente. Retrato de um mundo preto e branco.
Mas devo ser justo: houve elogiável progresso. Tive a oportunidade de fazer
mais um amigo: o senhor LAUDELINO. Por que este homem de 78 anos conquistou a
minha admiração? Ele está doente. Perde a memória, progressivamente. Ele
visita, todos os dias, a esposa. Esta foi internada, pela quinta vez, com
depressão. Em casa, não ingere os medicamentos corretamente. A patologia volta.
Eles não possuem renda para contratar enfermeira.
.........O senhor LAUDELINO chega ao Hospital antes do horário da
visita. Apesar de tudo, é um homem bem humorado. Todos gostam dele. Alegra o
ambiente. Conversa animadamente com os outros visitantes. É agradável e
educado. Conta piadas. Ao conversar comigo, perdeu-se. Esqueceu as frases
anteriores. Quando uma enfermeira perguntou o nome da esposa, respondeu: “Não
sei. Esqueci.”
.........Contou que havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral
(AVC). Que sua memória já não era boa. De casa para o Hospital, o senhor
LAUDELINO leva roupas limpas e mimos. Durante a visita (uma hora), compra, para
ela, refrigerante e chocolate. Sempre atencioso e carinhoso. Ela gosta de tomar
mate. Mas ele não leva. Não consegue mais preparar o chimarrão, devido à
gravidade da doença.
.........Do Hospital para casa, leva roupas para serem lavadas. Por
ele mesmo! Na semana passada, ao retornar para o lar, o LAUDELINO se perdeu...
numa Cidade cada vez mais cheia, menos humana! Foi parar longe de casa. Ele não
se lembrava em qual parada deveria descer do ônibus... Enquanto tomava um
chimarrão (que eu levei), a esposa dele me contou que fica imaginando as
enormes dificuldades que o esposo passa, morando, temporariamente, sozinho.
Sente pena dele. Sabe o valor que ele tem! Admira-o por a visitar assiduamente.
Sem se preocupar em esconder a forte emoção que sentia, disse que o LAUDELINO,
com a sua alegria contagiante, ameniza a dor que ela sente... nas agruras do
inverno da vida...
.........Alguns pacientes não têm cura. Residem no Hospital. Outros
não recebem visitas. Foram esquecidos... justamente por quem deveria amá-los! O
grande LAUDELINO, por sua vez, dedica-se, responsavelmente, para fazer a
“eterna namorada” feliz. Quando tantos nunca recebem visita, o LAUDELINO, de
mãos dadas com a saudade matadeira, defafia uma doença
implacável...
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