.........Viver bem em PORTO ALEGRE exige planejar a solução de problemas. Por
exemplo: resolver apenas um por dia. Ou dois: um de manhã e um de tarde. Se o
cidadão tentar resolver três problemas ou mais, irá sofrer muito. Ontem, eu
estava entusiasmado. Decidi acelerar e colocar a agenda em dia. No meio da
tarde, antes do lanche, fui a uma empresa que expede livros, revistas, cartas... Eu estava com muita pressa. Queria, ainda, ir em vários lugares. Logo que
saí da garagem, minha agenda começou a fracassar. Moradores de uma Vila
trancaram a Avenida. Parece que queriam uma lata de tinta... Alguns enxergam
uma Cidade democrática. Qualquer um pode trancar qualquer rua! Parece que a
Constituição Federal não é ensinada nas Escolas. Milhares de pessoas presas no
trânsito, sem poder voltar para casa... com o direito de ir e vir desrespeitado... Sinceramente, eu não consigo ver democracia nisso. Nem educação. Nem
cidadania.
.........Deixei o auto num posto de gasolina. Fui correndo pelas ruas, com o
envelope do dia. Era ainda cedo para desistir. No caminho, há uma sinaleira.
Fica muito tempo verde para as máquinas. E alguns segundos para os humanos.
Quando ela abre para estes, “salve-se quem puder!” Cai pacote, sacola, pipoca...
Algumas mães quase arrancam os braços dos filhos! Eu deixei o boné cair, no
meio da Avenida. Voltei para pegar. Foi um erro! Por pouco não amassei a
lataria de uma viatura. Vários motoristas citaram a senhora minha genitora...
Se eu fosse o Xerife, planejaria uma Capital... para os humanos.
.........Ao chegar na agência, fiquei alegre ao perceber que não havia fila. Isso
acontece uma vez por ano! Minha alegria durou pouco. Nenhum Colaborador me
chamava.
.........Devia haver um motivo muito forte. E havia! Uma caixa misteriosa, quadrada, de 50 cm de lado, estava sobre o balcão. Todos estavam trabalhando para expedir a caixa. Faz parte da profissão. Conversavam sem parar sobre a Comadre. A gerente indagou ao Cliente: “Como vai a Comadre? Ela melhorou?” Recebeu como resposta: “Ela piorou. Está no Hospital.” “E as filhas dela, onde estão?” O rapaz respondeu: “Longe, viajando.” Um colaborador quis saber se a obra já estava pronta. O Cliente opinou: “Não vai dar tempo para terminar o livro...“
.........Devia haver um motivo muito forte. E havia! Uma caixa misteriosa, quadrada, de 50 cm de lado, estava sobre o balcão. Todos estavam trabalhando para expedir a caixa. Faz parte da profissão. Conversavam sem parar sobre a Comadre. A gerente indagou ao Cliente: “Como vai a Comadre? Ela melhorou?” Recebeu como resposta: “Ela piorou. Está no Hospital.” “E as filhas dela, onde estão?” O rapaz respondeu: “Longe, viajando.” Um colaborador quis saber se a obra já estava pronta. O Cliente opinou: “Não vai dar tempo para terminar o livro...“
.........Eu, meio curioso, já não via mais o tempo passar. Formou-se longa fila.
Uma idosa, que estava atrás de mim, com jeito de italiana, tipo braba, indagou:
“Por que eles não mandam a caixa?” Eu respondi: “Desde que cheguei, eles viram
a caixa, carimbam, desviram, colocam fita, viram, escrevem, colocam mais fita,
perguntam sobre a Comadre... “Ela continuou: “Mas o que será que tem dentro?”
Eu respondi: “Mandaram chamar um Padre para benzer a caixa.” A idosa não se
conteve: “PORCA PIPA!” É incrível: conseguiram quebrar o carimbo! A Gerente
mandou buscar outro. Por um lado é engraçado. Por outro lado é triste. Decidi
desabafar com a amiga da fila: “No Quartel, os militares, quando trabalham,
conversam, apenas, assuntos de serviço. Evita acidentes. Aumenta a
produtividade. Não existe carreira militar sem disciplina... e método de
trabalho.” Ela acrescentou: “Olha só quanta gente na fila! Poderiam estar
fazendo tanta coisa!” Os Colaboradores nos ouviram. Não gostaram.
.........A moça dos olhos azuis prosseguiu: “O senhor tem algum amigo no núcleo
duro do Governo?” Respondi: “Mas nem quero! Se o general descobre algum Militar
envolvido com política... manda jogar no mar!” Continuou: “O senhor faz
Caridade?” Respondi: “Quando a sogra autoriza!” Naquela altura, eu tinha certeza de que seria
preso... Não é pessimismo. É intuição. Sendo filmado por oito câmeras... E olha
que, em princípio, eu me auto declaro do bem. Eu só quero mandar uma revista! E
estou louco de pressa! Parece que a Colaboradora Misteriosa leu o meu
pensamento: “O que o senhor está remetendo neste envelope?” Procurei esclarecer
logo: “Uma Revista Verde Oliva, editada pelo EXÉRCITO de Brasília!” Ela
continuou: “Quem é o destinatário?” Respondi: “É um Veterano de Guerra!”
.........Eu já estava começando a entender aquele episódio... de inteligência emocional. Mas eu queria uma prova!
Disse para a jovem, de singular beleza: “Nós estamos falando, há meia hora,
sobre a Comadre. Eu trabalho como Escritor. Preciso muito saber... quem é ela!”
Foi com lágrimas nos olhos, que a jovem me contou um segredo: “A Comadre é uma
brilhante Professora. Ensinou-me a escrever. Está doente. Houve metástase. O
mal se espalhou. Fez um pedido: quer ver, nos últimos dias, as fotografias dos
filhos... e dos Alunos que educou. Talvez ainda dê tempo! Os álbuns estão
naquela caixa... que o Padre benzeu. O filho dela quer mandar razões para
viver. Os ex-alunos querem mandar um milagre!
.........Hoje de manhã, chegou uma carta da Professora. Preste atenção! Ela quer
ensinar a viver, até o fim:
‘Procure
alguém que coloque DEUS na sua vida.
Você pode
até viver sem Ele,
mas andará
de mãos dadas com um grande vazio.
Procure
alguém que coloque a música no seu caminho.
Você pode
até viver sem ela,
Mas vai se
arrepender depois...’ ”
.........A Colaboradora da Agência continuou: “O senhor está sempre com pressa.
Não percebe que a pressa tem limite. Quando o homem perde a batalha da vida, a
pressa perde o sentido. Quando a Professora veio aqui, o senhor não falou com
ela. Quem sabe se colocar no lugar do outro encontra motivos para perdoar. O
senhor vê uma caixa sobre o balcão. Eu vejo razões para viver. O senhor vê um
livro. Eu vejo um novo amanhã. O senhor vê uma revista. Eu vejo a esperança. O
senhor vê uma carta. Eu vejo uma história de amor. O senhor vê uma Comadre. Eu
vejo a melhor Professora da minha vida. O senhor espera ser atendido logo. Os
alunos da Professora esperam por um
milagre!
.........Os nomes e agradecimentos são importantes. Quem foi que disse que o
ingrato não receberá ingratidão? Se precisar chorar, chore de emoção, como eu
chorei nesta tarde... Mas nunca mais chore as dores da ingratidão. Ela é uma
arma. Usada por infelizes. A Madre Tereza de Calcutá ensinou: ‘No fundo, é tudo
entre eu e Deus!’ ”
.........Alegre por ouvir palavras tão belas, exclamei, já no caminho da porta de
vidro: “Você tem razão! Nunca vi tanta nobreza! Amanhã, voltarei!”
.........–
“Para mandar um livro?”
.........–
“Não! Para ver o mundo com os teus olhos!”