sábado, 27 de janeiro de 2018

O Mundo dos Teus Olhos


.........Viver bem em PORTO ALEGRE exige planejar a solução de problemas. Por exemplo: resolver apenas um por dia. Ou dois: um de manhã e um de tarde. Se o cidadão tentar resolver três problemas ou mais, irá sofrer muito. Ontem, eu estava entusiasmado. Decidi acelerar e colocar a agenda em dia. No meio da tarde, antes do lanche, fui a uma empresa que expede livros, revistas, cartas... Eu estava com muita pressa. Queria, ainda, ir em vários lugares. Logo que saí da garagem, minha agenda começou a fracassar. Moradores de uma Vila trancaram a Avenida. Parece que queriam uma lata de tinta... Alguns enxergam uma Cidade democrática. Qualquer um pode trancar qualquer rua! Parece que a Constituição Federal não é ensinada nas Escolas. Milhares de pessoas presas no trânsito, sem poder voltar para casa... com o direito de ir e vir desrespeitado... Sinceramente, eu não consigo ver democracia nisso. Nem educação. Nem cidadania.

.........Deixei o auto num posto de gasolina. Fui correndo pelas ruas, com o envelope do dia. Era ainda cedo para desistir. No caminho, há uma sinaleira. Fica muito tempo verde para as máquinas. E alguns segundos para os humanos. Quando ela abre para estes, “salve-se quem puder!” Cai pacote, sacola, pipoca... Algumas mães quase arrancam os braços dos filhos! Eu deixei o boné cair, no meio da Avenida. Voltei para pegar. Foi um erro! Por pouco não amassei a lataria de uma viatura. Vários motoristas citaram a senhora minha genitora... Se eu fosse o Xerife, planejaria uma Capital... para os humanos.

.........Ao chegar na agência, fiquei alegre ao perceber que não havia fila. Isso acontece uma vez por ano! Minha alegria durou pouco. Nenhum Colaborador me chamava.

.........Devia haver um motivo muito forte. E havia! Uma caixa misteriosa, quadrada, de 50 cm de lado, estava sobre o balcão. Todos estavam trabalhando para expedir a caixa. Faz parte da profissão. Conversavam sem parar sobre a Comadre. A gerente indagou ao Cliente: “Como vai a Comadre? Ela melhorou?” Recebeu como resposta: “Ela piorou. Está no Hospital.” “E as filhas dela, onde estão?” O rapaz respondeu: “Longe, viajando.” Um colaborador quis saber se a obra já estava pronta. O Cliente opinou: “Não vai dar tempo para terminar o livro...“ 

.........Eu, meio curioso, já não via mais o tempo passar. Formou-se longa fila. Uma idosa, que estava atrás de mim, com jeito de italiana, tipo braba, indagou: “Por que eles não mandam a caixa?” Eu respondi: “Desde que cheguei, eles viram a caixa, carimbam, desviram, colocam fita, viram, escrevem, colocam mais fita, perguntam sobre a Comadre... “Ela continuou: “Mas o que será que tem dentro?” Eu respondi: “Mandaram chamar um Padre para benzer a caixa.” A idosa não se conteve: “PORCA PIPA!” É incrível: conseguiram quebrar o carimbo! A Gerente mandou buscar outro. Por um lado é engraçado. Por outro lado é triste. Decidi desabafar com a amiga da fila: “No Quartel, os militares, quando trabalham, conversam, apenas, assuntos de serviço. Evita acidentes. Aumenta a produtividade. Não existe carreira militar sem disciplina... e método de trabalho.” Ela acrescentou: “Olha só quanta gente na fila! Poderiam estar fazendo tanta coisa!” Os Colaboradores nos ouviram. Não gostaram.


.........Uma Colaboradora de olhos azuis me chamou. Fez-me algumas perguntas. “Por que o senhor está nesta fila dos Clientes Especiais?” Respondi: “Eu sou SENIOR!” Ela comentou: “A nossa Agência não trabalha com a categoria SENIOR!... O senhor se auto declara idoso?” Fiz a minha defesa: “DEUS me livre! Sou um jovem de espírito!” A moça continuou: “O senhor tem alguma patologia?” Respondi: “Tenho. Artrose no joelho. Necessito de bengala para andar.” A moça indagou: “Mas eu não vi a bengala. Onde ela está?” Esclareci: “Minha sogra colocou a bengala na mala, por engano. Voltará só no Natal!” A Colaboradora era muito interessada: “Por que não foi na UPA?” Respondi: “Eu fui. Mas não havia médico dentro. Não era época de eleições!” Continuou a fazer o meu prontuário: “O senhor fez prótese?” Respondi: “Sim. Piorei. A prótese estava vencida!” Continuou: “Falou com o Ouvidor?” Eu respondi: “Sim! Ele estava com cera no ouvido!”

.........A moça dos olhos azuis prosseguiu: “O senhor tem algum amigo no núcleo duro do Governo?” Respondi: “Mas nem quero! Se o general descobre algum Militar envolvido com política... manda jogar no mar!” Continuou: “O senhor faz Caridade?” Respondi: “Quando a sogra autoriza!”  Naquela altura, eu tinha certeza de que seria preso... Não é pessimismo. É intuição. Sendo filmado por oito câmeras... E olha que, em princípio, eu me auto declaro do bem. Eu só quero mandar uma revista! E estou louco de pressa! Parece que a Colaboradora Misteriosa leu o meu pensamento: “O que o senhor está remetendo neste envelope?” Procurei esclarecer logo: “Uma Revista Verde Oliva, editada pelo EXÉRCITO de Brasília!” Ela continuou: “Quem é o destinatário?” Respondi: “É um Veterano de Guerra!”

.........Eu já estava começando a entender aquele episódio... de inteligência emocional. Mas eu queria uma prova! Disse para a jovem, de singular beleza: “Nós estamos falando, há meia hora, sobre a Comadre. Eu trabalho como Escritor. Preciso muito saber... quem é ela!” Foi com lágrimas nos olhos, que a jovem me contou um segredo: “A Comadre é uma brilhante Professora. Ensinou-me a escrever. Está doente. Houve metástase. O mal se espalhou. Fez um pedido: quer ver, nos últimos dias, as fotografias dos filhos... e dos Alunos que educou. Talvez ainda dê tempo! Os álbuns estão naquela caixa... que o Padre benzeu. O filho dela quer mandar razões para viver. Os ex-alunos querem mandar um milagre!

.........Hoje de manhã, chegou uma carta da Professora. Preste atenção! Ela quer ensinar a viver, até o fim:

Procure alguém que coloque DEUS na sua vida.
Você pode até viver sem Ele,
mas andará de mãos dadas com um grande vazio.
Procure alguém que coloque a música no seu caminho.
Você pode até viver sem ela,
Mas vai se arrepender depois...’

.........A Colaboradora da Agência continuou: “O senhor está sempre com pressa. Não percebe que a pressa tem limite. Quando o homem perde a batalha da vida, a pressa perde o sentido. Quando a Professora veio aqui, o senhor não falou com ela. Quem sabe se colocar no lugar do outro encontra motivos para perdoar. O senhor vê uma caixa sobre o balcão. Eu vejo razões para viver. O senhor vê um livro. Eu vejo um novo amanhã. O senhor vê uma revista. Eu vejo a esperança. O senhor vê uma carta. Eu vejo uma história de amor. O senhor vê uma Comadre. Eu vejo a melhor Professora da minha vida. O senhor espera ser atendido logo. Os alunos da Professora  esperam por um milagre!

.........Os nomes e agradecimentos são importantes. Quem foi que disse que o ingrato não receberá ingratidão? Se precisar chorar, chore de emoção, como eu chorei nesta tarde... Mas nunca mais chore as dores da ingratidão. Ela é uma arma. Usada por infelizes. A Madre Tereza de Calcutá ensinou: ‘No fundo, é tudo entre eu e Deus!’ ”

.........Alegre por ouvir palavras tão belas, exclamei, já no caminho da porta de vidro: “Você tem razão! Nunca vi tanta nobreza! Amanhã, voltarei!”
.........– “Para mandar um livro?”
.........– “Não! Para ver o mundo com os teus olhos!”

sábado, 20 de janeiro de 2018

Lição de Amor

.........Visitei, há poucos dias, um Hospital de PORTO ALEGRE. Vou ser sincero: é tudo meio deprimente.  Retrato de um mundo preto e branco. Mas devo ser justo: houve elogiável progresso. Tive a oportunidade de fazer mais um amigo: o senhor LAUDELINO. Por que este homem de 78 anos conquistou a minha admiração? Ele está doente. Perde a memória, progressivamente. Ele visita, todos os dias, a esposa. Esta foi internada, pela quinta vez, com depressão. Em casa, não ingere os medicamentos corretamente. A patologia volta. Eles não possuem renda para contratar enfermeira.       
            
.........O senhor LAUDELINO chega ao Hospital antes do horário da visita. Apesar de tudo, é um homem bem humorado. Todos gostam dele. Alegra o ambiente. Conversa animadamente com os outros visitantes. É agradável e educado. Conta piadas. Ao conversar comigo, perdeu-se. Esqueceu as frases anteriores. Quando uma enfermeira perguntou o nome da esposa, respondeu: “Não sei. Esqueci.”
          
.........Contou que havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Que sua memória já não era boa. De casa para o Hospital, o senhor LAUDELINO leva roupas limpas e mimos. Durante a visita (uma hora), compra, para ela, refrigerante e chocolate. Sempre atencioso e carinhoso. Ela gosta de tomar mate. Mas ele não leva. Não consegue mais preparar o chimarrão, devido à gravidade da doença.

.........Do Hospital para casa, leva roupas para serem lavadas. Por ele mesmo! Na semana passada, ao retornar para o lar, o LAUDELINO se perdeu... numa Cidade cada vez mais cheia, menos humana! Foi parar longe de casa. Ele não se lembrava em qual parada deveria descer do ônibus... Enquanto tomava um chimarrão (que eu levei), a esposa dele me contou que fica imaginando as enormes dificuldades que o esposo passa, morando, temporariamente, sozinho. Sente pena dele. Sabe o valor que ele tem! Admira-o por a visitar assiduamente. Sem se preocupar em esconder a forte emoção que sentia, disse que o LAUDELINO, com a sua alegria contagiante, ameniza a dor que ela sente... nas agruras do inverno da vida...

.........Alguns pacientes não têm cura. Residem no Hospital. Outros não recebem visitas. Foram esquecidos... justamente por quem deveria amá-los! O grande LAUDELINO, por sua vez, dedica-se, responsavelmente, para fazer a “eterna namorada” feliz. Quando tantos nunca recebem visita, o LAUDELINO, de mãos dadas com a saudade matadeira, defafia uma doença implacável...      

.........O bom humor deste cidadão exemplar não esconde o drama: até quando o LAUDELINO terá forças? O futuro está nas mãos de DEUS. Mas, hoje, ele protagoniza a vitória do amor. Quando for chamado ao Paraíso, deixará, com certeza, uma grande lição: O AMOR VENCE A DOENÇA. Na luta pela vida... em busca da felicidade ... O AMOR É A MAIS PODEROSA DAS ARMAS!  

sábado, 13 de janeiro de 2018

Comandante de Fé Robusta


.........Num sábado de manhã, quando eu caminhava pelo Parque Farroupilha de Porto Alegre, parei diante dos monumentos dos patronos. Queria ver a pintura. Havia um jovem universitário em frente ao busto do Patrono do Exército. Ele me perguntou: “E este: quem é? O que ele fez de importante?” Eu respondi: “Ele foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos! Eu poderia dar uma aula sobre ele, o único Duque da História do Brasil, mas preciso me exercitar. Se o Amigo quiser, poderei trazer um resumo, no próximo sábado!” – “Sim! Eu quero! Vou fazer um TCC sobre O Brasileiro Luiz!”

.........Luiz Alves de Lima e Silva nasceu em 25 de agosto de 1803 na Fazenda Taquaruçu, em Caxias-RJ. Era filho do General Francisco de Lima e Siva, o Barão de Barra Grande e neto do Marechal-de-Campo José Joaquim de Lima e Silva, Comendador da Ordem de Avis. Recebeu, da Família e do Império, Educação esmerada, alicerçada em valores morais. Ele foi o Cadete mais ilustre da Academia Real Militar, criada em 1811. Instituição que, com o tempo, a ordem e o progresso se transformou na gloriosa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Luiz Alves, no posto de tenente, foi o porta-bandeira do Batalhão do Imperador.

.........Para envergar os mais altos cargos militares e políticos do Império, O Soldado Luiz teve que sacrificar quase tudo: o lazer, o conforto, a segurança, a família... Colocando a Pátria acima de tudo, na Batalha de Santa Luzia, em 1842, empregou dois irmãos, sendo um deles o caçula.

.........A farda, numa época de prestígio, escondia longas marchas a cavalo, acampamentos rústicos, a saudade de casa, manhãs frias, onde o Caxias era o primeiro a levantar. O exemplo do Comandante era naturalmente seguido. Conhecedor da Logística e das almas, organizou um Exército Pacificador.

.........Respeitado por amigos e inimigos, participou de seis campanhas militares. Venceu todas! Como líder de batalha, explorou, com inteligência, os princípios de guerra que conheceu na Academia Real Militar. Uma espécie de Napoleão Brasileiro, era inútil tentar  surpreender o Condestável, o Escravo da Pátria.

.........Em 1842, o então Barão de Caxias emocionou a Capital da Província de São Pedro. Assumiu o Comando político e militar e, no terceiro dia, visitou os feridos da Revolução Farroupilha. Sensível, incorporou os negros ao Exército Imperial. Religioso autêntico, era devoto da Nossa Senhora da Conceição. Nas campanhas, conduzia, sempre, um altar móvel com a imagem da Santa, que sua querida Mãe ensinou amar.

.........Em 1845, pacificou a Família Brasileira, em Ponche Verde-RS.

.........Em 18 de junho de 1862, uma doença levou o seu único filho homem (Luiz), homônimo, aos 14 anos de idade, quando Aluno do Colégio Dom Pedro II. Era o fim de um sonho, de um projeto, de uma esperança... O Pai Soldado ficou inconsolável, com a chegada de lágrima que o tempo não sabia secar... De onde tirar forças? Talvez outro Comandante pudesse ocupar o seu lugar. Mas não foi isso que o destino quis.

.........Em 1863, Caxias adaptou a doutrina do Exército de Portugal à doutrina do Exército Brasileiro, colaborando para a vitória na Guerra do Paraguai.

.........Foi justamente ele quem escreveu uma das mais belas páginas da História do  Brasil. Na Guerra do Paraguai, em terreno desfavorável, numa situação dramática, em Itororó, arrastou o Exército Brasileiro, ao bradar com energia, com a destra empunhando espada invicta: “Sigam-me os que forem brasileiros!”

.........Antes de findar a Guerra da Tríplice Aliança, contra Solano Lopez, o Duque, ao chegar ao Porto do Rio de Janeiro, não escondeu os olhos marejados: nem todos entenderam a sua decisão de Estadista de não invadir Assunção. O Estrategista nunca esquece a Paz que se quer depois.

.........O General Luiz Alves de Lima e Silva era sadio e enérgico. Soldado por vocação, prestou mais de 60 anos de relevantes serviços ao Brasil. Em seu Coração de Soldado, vigoraram virtudes admiráveis: Bravura, Coragem, Abnegação, Honra, Devotamento, Solidariedade, Integridade, Fé Robusta...

.........Em seu Testamento, o Pacificador revelou Humildade: “Logo que eu falecer deve o meu testamenteiro fazer saber ao Quartel General, e ao ministro da Guerra que dispenso as honras fúnebres que me pertencem como Marechal do Exército e que só desejo que me mandem seis soldados, escolhidos dos mais antigos, e melhor conduta, dos corpos da Guarnição, pra pegar as argolas do meu caixão...” Ao fazer uso da palavra, no Senado do Império, surpreendeu a vaidade: “A minha espada não tem partido! Tirem-me meus generais, mas não me deixem sem meus Capelães!”

.........O hábil organizador de vitórias empreendeu a última batalha em 07 de maio de 1880, aos 76 anos de idade, na Fazenda Santa Mônica, Valença – RJ. Seu corpo foi transportado por Soldados de bom comportamento. Encontra-se, com os restos mortais da esposa, a Duquesa de Caxias, Ana Luiza Carneiro Viana, no Pantheon situado em frente ao Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro-RJ. O Exército preservou o altar portátil, usado por Caxias para assistir missas em campanha. Encontra-se no Mosteiro de Santo Antônio, no Largo da Carioca, Rio-RJ. Por um Decreto de 1932, o Marechal foi consagrado Patrono do Exército Brasileiro.

.........Oradores emocionados, nos quatro cantos da Pátria, buscaram delinear os contornos do Grande Estrategista:

- O Pacificador
- O Maior Soldado do Brasil
- O Filho Querido da Vitória
- O Duque de Ferro e da Vitória
- General Invicto
- O Wellington Brasileiro...
- E o Povo, carinhosamente, batiza de Caxias o Cidadão de exemplar desempenho.

.........No momento em que o Povo Brasileiro precisa dar um passo estratégico, é mister volver os olhos para um coração sincero, coberto de glórias. A personalidade de fé robusta do Pacificador foi decisiva nas negociações de paz. Evitou derramamento de sangue. Manteve o Brasil unido, católico e pacífico. Era um negociador honrado e confiável. A História virou mais uma página. O exemplo do Patrono do Exército  aponta para um novo amanhecer.


EXÉRCITO BRASILEIRO
Braço Forte - Mão Amiga

(Agradeço a colaboração do Sr Coronel Cláudio Moreira Bento, do Sr Coronel Juvencio Saldanha Lemos e do Sr Coronel Luiz Ernani Caminha Giorgis).

sábado, 6 de janeiro de 2018

A Casa Bonita


.........Fiquei sabendo que uma residência elegante foi desocupada, colocada à venda. Fui lá ver o imóvel. Localização privilegiada: próxima ao Shopping... Um gentil colaborador de imobiliária mostrou-me, calmamente, a confortável casa. Senti tristeza no ar...

.........Nela, uma senhora e um cão pequeno residiram por muitos anos. Vi coisas de valor afetivo, móveis de alta qualidade... Louças, retratos, com pessoas de diferentes idades, em vários lugares. Porcelanas, pratarias, talheres, livros, mesas, cadeiras, tudo de classe. Vestidos da alta costura. Sapatos: muito além do necessário! Em poucos minutos, surpreso, exclamei: “Ela não levou nada!” Pensei: deve estar na Europa...  “Para onde ela foi?” O profissional respondeu: “Empreendeu a última viagem!”

.........Que triste! Tantos objetos de bom gosto! Próspera, ela foi chamada no meio do caminho. Não pôde levar as porcelanas. Nem as fotografias de quem amou... A casa ficou repleta de bens. Provavelmente, ela doaria alguns, mas não deu tempo... A Cidade competitiva não enxerga a caridade, só os defeitos... Quem hoje caminha sabe o que vai levar?

.........Objetos demais prejudicam a funcionalidade, provocam perda de tempo e acidentes. Cansam as pessoas... Que lições podemos tirar? Planejar? Definir objetivos? Alguns bens não podem ser vendidos? Objetos não podem ser doados? Por que a energia tem que ficar parada? Não é um gesto nobre doar um livro já lido? É inteligente sacrificar tudo... para acumular bens materiais? Por que não cultuar a bondade? Para onde o egoísmo levará o homem? Quantas oportunidades perdidas! De colocar sorriso num rosto triste! De alegrar o coração das crianças da Praça! De tomar chimarrão com alguém... de orientar um jovem... Não é só o livro que deve circular... É a energia, a liderança, o otimismo, a bondade, um gesto de bom humor... a presença de um cidadão verdadeiramente humano! Um homem sincero em quem o humilde possa confiar... Grandes personagens da História pensaram nos outros, fizeram caridade, “sem que a mão esquerda soubesse o que a direita fazia...”

.........Amigo Leitor, diga-me uma coisa: o que podemos levar ao Paraíso? No domingo passado, um Padre me disse: “Nós só podemos levar para o Céu o bem que fazemos na Terra!” Os corações de pedra quedam-se diante da beleza de um  ensinamento do PAPA SÃO BASÍLIO: “Ao faminto pertence o pão que conservas. Ao nu, o manto que manténs guardado. Ao descalço, os sapatos que estragam em tua casa. Ao necessitado, o dinheiro que escondeste.”