Capítulo 2: A HONESTIDADE - O Dia em que o Capitão Chorou.........
.........Na Capital do BRASIL, o ar está seco. A Dengue já é quase uma epidemia. No Batalhão da Guarda, os disciplinados militares começam, com entusiasmo, mais uma sessão de Treinamento Físico Militar. Na Companhia de Comando, a orgulhosa “Águia do Planalto”, começa um drama dramático, como diria o saudoso ODORICO. A Honestidade, um dos maiores pilares das Forças Armadas, aparentemente começa a desmoronar.
.........Neste momento, o Cabo DORMÊNCIO, oriundo de DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL, entra na sala do Sargenteante. Onde desempenha, há vários anos, a função de Cabo do Boletim. Coloca sobre a mesa alguns pertences: carteira, molho de chaves, telefone, remédios... Senta, cochila e ronca, visivelmente exausto. O Recruta FURTIVO (Paulista), que faltou à Educação Física, aparece de repente e pede ao Sargento GARCIA numerário emprestado. Alega querer fazer um lanche na cantina do Batalhão. (Não havia o que comer em casa!) E comprar algumas coisas que a Mãe pediu. “Hoje não! Quando sair o soldo. Estou indo pra Física!”, responde o graduado.
.........O Recruta FURTIVO GATTO aproxima-se, lentamente, dos objetos que o Cabo DORMÊNCIO BELICHE deixou sobre a mesa. O Comandante da Companhia, Capitão BONDOSO, é um dos descendentes diretos do Cadete Mais Ilustre da História do Brasil, o DUQUE DE CAXIAS! Ele merece um desgosto desses? O cérebro humano tem o poder de mandar parar tudo. E pensar. Escutar. Antes de sair por aí jogando pedras e crucificando um irmão, por que não acompanhar as reflexões do Analista de Riscos do Batalhão?
.........Oficial de Inteligência: “A situação apresenta várias possibilidades. O jovem poderá apanhar algo do Cabo, que está doente, com Dengue. Responderá sindicância. Será excluído do EXÉRCITO. Poderá, apenas, manusear os objetos. Falta de educação! Motivo de punição! Perderia a vaga no Curso de Formação de Cabo. Poderá, ainda, seguir em frente... E o que dizer em casa? Não existe nenhum Pai no mundo que não lamente, profundamente, ao receber uma notícia, segundo a qual seu filho amado furtou alguma coisa no Quartel! O Recruta está com fome. Eu também já passei fome. Está em dificuldades e longe de casa. Também passei por isso. Nada furtei. Esse menino vem de família boa (OLIVEIRA). Conheço o Pai dele. É um grande homem. No Parque da Cidade é conhecido como ANDRÉ. Tem boa formação. É voluntário para servir ao EXÉRCITO. Acredito nele. É honesto. É um líder. Poderá fazer uma carreira brilhante! A probabilidade do Soldado ANDRÉ furtar alguma coisa é... ZERO POR CENTO! A honestidade já fez morada no coração dele, um CORAÇÃO DE SOLDADO...”
.........Para surpresa geral, o Cabo do Boletim desmaia. O Soldado ANDRÉ percebe. Age. Chama o Comandante, o Capitão de Infantaria BONDOSO. Ambos transportam o doente para a Enfermaria. Não há tempo a perder. Pode ser algo grave...
.........Ao retornar ao Posto de Comando (PC), o Capitão chama o Comandante do 1º Pelotão (Tenente OSÓRIO EMÍLIO). Ordena-lhe: “O Soldado ANDRÉ, que na lista apareceu como FURTIVO, talvez por uma brincadeira de mau gosto, teve uma atitude elogiável. Ajudou a salvar o Cabo DORMÊNCIO, nesta manhã. Mude o número dele (para 001). O seu nome de guerra passará a ser: ANDRÉ OLIVEIRA. A família dele já deu vários presidentes. Reúna o Pelotão. Elogie o Soldado ANDRÉ. Ele merece. Capriche na educação desse menino. Vai ser o meu braço direito.”
.........A seguir, indaga ao Sargento GARCIA por que o nome do ANDRÉ estava errado na relação. O Sargenteante responde: “Vírus no computador.” “E bactéria no Cabo!”, acrescenta o Capitão.
.........Uma comitiva de religiosos visita os quartéis do Setor Militar Urbano (SMU). Profundamente atencioso e místico, o Comandante solicita o parecer deles sobre o episódio de hoje. O Rabino JACÓ, com sua tradicional humildade, faz uma locução profunda: “Boa tarde! Feliz Dia do Soldado! Eu e meus colegas ficamos emocionados com a Formatura e com o Teatro, criativo e de muito bom gosto. É gratificante participar desta integração oportunizada pelo EXÉRCITO. No caso em que o jovem estava sob suspeita, devo ser prudente. As pessoas devem ser tratadas como inocentes, até a sentença do Juiz. Devemos considerar a pessoa de quem erra. As obras dela servem de fator para a redução da pena. Há casos em que pessoas boas cometem falhas, em função da ingestão de medicamentos. Às vezes, demais, às vezes, de menos. Ou até mesmo em horários errados, sem disciplina. Segundo a Bíblia, não devo julgar para não ser julgado. Errar é humano. Perdoar é Divino. Dê às pessoas, sempre, uma segunda chance. Elas renascerão das cinzas. O que vale, para DEUS, é daqui para frente... Muito obrigado!”
.........Análise dos Fatos – Quando um Soldado revela falta de caráter, denigre a imagem da Companhia. O Comandante chora de desgosto. Afinal de contas, luta, diuturnamente, pela grandeza de uma organização que aprendeu a amar, desde o primeiro dia, quando passou pelo portão principal. Mas, no fundo, sabe que os oficiais e sargentos não tiveram culpa. O caráter de um homem forma-se na infância. Se, na educação de uma pessoa, a família falhou... a catequese falhou... a escola falhou... caberá ao Tenente trabalhar, com a mente e o coração. E, se possível, de vez em quando, fazer um milagre... Hoje, o Capitão chorou. Mas foi de emoção. O subordinado nada furtou. Teve oportunidade. Portou-se com honestidade. Todos se emocionaram. O universo torceu por ele. O mundo gosta de pessoas honestas. E abre suas portas... para que sigam em frente...
.........Ensinamentos – Um coração juvenil só pode ser verde-oliva se, nele, a honestidade fizer morada. “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim. Não, não. Porque o que passa disto é de procedência maligna.” (São Mateus). “A ninguém queirais extorquir coisa alguma; nem deis denúncia falsa; e contentai-vos com o vosso soldo.” (São Lucas).