quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Fridolino de Sarandi

.........Nascido em 25 de fevereiro de 1910, na Linha São BENEDICTO, Districto de HARMONIA, no MONTENEGRO, “Colônia Velha", RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.

.........Daquela singela casa de madeira amarela (que ainda hoje existe), onde o seu quarto era o menor, por ser o caçula da família, trouxe do berço a ausência da mão direita. Descendente de imigrantes alemães católicos, oriundos da estratégica Cidade de KOBLENZ, debruçada na foz do Rio Mosel, ALEMANHA.

.........Ainda pequeno, antes de “ir na aula”, assistiu com tristeza o tétano levar o primogênito, FERNANDO, aos nove anos de idade, ferido por uma foice de cortar pasto... Trauma que o acompanhou pelo resto da vida. Como que destinado a ser um grande homem, foi em frente...

.........Educado por líderes e Irmãos Maristas, era o primeiro na Escola. Estudante dedicado, de boa memória, tornou-se poliglota. Nunca virava uma página do livro, sem que antes soubesse o significado de todas as palavras. Escutava com interesse a Mãe, HELENA ADAMS, que lhe transmitia conhecimentos auferidos de Revistas Cristãs... no idioma alemão. Autodidata, dono de mente brilhante, foi o “primeiro na vida”... Apoiado, desde a primeira hora, por FREDERICO MENZ, fundou, em HARMONIA, a COOPERATIVA DOS SUINOCULTORES DO CAÍ SUPERIOR, hoje uma potência econômica...

.........Guardalivro (atual Contador), comerciante, empresário, vereador, Presidente do Ipiranga (1954), humilde, honesto, gentil, religioso, católico, devoto de SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA, íntegro, trabalhador incansável, um Cidadão Sarandiense, cultuador da simplicidade...

.........Ficava triste, quando pessoas destituídas de sensibilidade zombavam da mão... que a natureza não lhe deu. Sonhava ser Padre. Não foi possível. Não possuía as duas mãos. Ajudava os pobres. Ajudava mesmo! Não fazia alarde. Rezava em seu quarto de portas fechadas. Como ensinou JESUS, o Príncipe da Paz... Colaborou com dezenas de festas em honra a SANTO ANTÔNIO, da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. Sua redação era fluente. A letra, altiva... Perfeccionista.  Parecia viver a um passo do paraíso... Cabeça de santo. Coração de guri. Numa das voltas que o Mundo deu, com o Beato Padre JOÃO BATISTA REUS conviveu... no PARECI NOVO, no Seminário SÃO JOSÉ, que seu Pai, o Carpinteiro REINALDO  FERNANDO, ajudou a edificar, ao final do Século XIX. Tudo tão perto de DEUS...
     
.........Responsável, solícito, atendia aos fregueses correndo da loja para o armazém. Às vezes, para os caminhões. De convivência agradável, sempre tinha algo a contar. Confiável, desfrutava de grande prestígio na região do SARANDI. Era convidado para vários eventos no mesmo dia. Inteligente, ensinou os colonos. Próspero, ajudou a financiar a Cidade. Generoso, perdoou os devedores. Trouxe o progresso...

.........Sentimental, chorava com facilidade. Um dia, quando eu tinha 7 anos, perdi o martelo... mais uma vez... Ele mandou me chamar para ser responsabilizado. Quando me apresentei (para apanhar), na calçada dos fundos, ele emocionou-se e, com a voz embargada, liberou-me para brincar... Bater num filho era algo impensável...

.........Alegre, no verão, às “quatro da tarde”, liderava a reunião dos filhos, amigos e balconistas da loja, para saborear as melancias graúdas, vindas do Vale do Caí, à sombra da bergamoteira, no alto do pátio.

.........Sua vitalidade era fora do comum. Para agilizar o trabalho, carregava sacos de suprimentos de 30, 60 quilos. À noite, após o REPÓRTER  ESSO da RÁDIO FARROUPILHA, quando se recolhia, exausto, para o quarto sagrado, arrastava os chinelos pelo assoalho, tamanho havia sido o esforço ao longo do dia... Trajava o suspensório inseparável. Comprado no ARMARINHO LEÃO, do PORTO ALEGRE. Sobre uma camisa listrada. Levava no bolso da calça cinza um canivete... que só faltava falar. O lápis, na orelha. Uma caneca de aço inoxidável na mão, com a água ao ponto de cair...

.........Incorruptível, saúde de ferro, vontade inabalável, era, enfim, um profissional exemplar. De coração nobre, bondoso... Tratava-me, sempre, por um posto acima. Promovia-me antes do que o EXÉRCITO. No fundo, eu sabia que quem deveria ser promovido era ele... Fujo de um rótulo que nunca quis receber: ingrato.

.........Ao volver os olhos para tudo que aconteceu, torna-se impossível deixar de reconhecer o valor da Educação... Num mundo que gira... da crueldade à ingratidão, ele foi... o amigo mais leal!

.........Algumas pessoas, talvez, não compreendam esta homenagem plangente. Certamente é porque não sabem quantas vezes meus olhos melancólicos procuraram meu Pai na missa das nove... nem quantas vezes chorei de saudade, ao lado das coisas que ele deixou... 
  
C F VOGT  

post – scriptum
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A simplicidade é o último degrau da sabedoria”. (Victor Hugo)

Anexo: Carteira de Trabalho de Fridolino Frederico Vogt, em 1938.
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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O CINEMA DA NOSSA INFÂNCIA.


.........Bom dia, Amigo Leitor! O objetivo da redação de hoje é reavivar a recordação de momentos marcantes que o mundo do Cinema nos proporcionou. Para tanto, citarei o nome dos atores imortais e, às vezes, o nome de filmes que nunca foram esquecidos.

.........O Cine Teatro Guarany começou a funcionar em 1949. Um dos sócios da empresa estava sempre presente: senhor Dândalo Leite Bígio. Observava a meninada, sorrindo com o canto da boca. O Cinema não dava lucro. O pagamento  era assistir,  no  matinê de domingo à tarde, mais de duzentas crianças baterem os pés no chão... torcendo para que o Mocinho salvasse  a Mocinha... ou então que o Zorro  escapasse do Sgt Garcia! Levantava poeira!


.........Para compreender a importância do Cine Guarany, naquela época, é preciso conhecer a Alma da Cidade. Um Sistema de Instituições nos dava a alegria de viver: O Clube Harmonia, O Estádio Pedro de Marco, O E C Ipiranga, a Rádio Sarandi, a Igreja Matriz... e o Cinema! Tudo sob o pontual apito do Frigorífico!

.........Uma hora antes de começar cada sessão, o alto falante tocava a ópera "O Guarany", de Carlos Gomes. Em seguida, outras canções da moda. A mais tocada era: “Eu também quero ir... minha saudade... quando chego na ladeira, tenho medo de cair... Leva Eu... (Nilo Amaro e seus cantores...). A bombonière era uma tentação. Vendia balas para todos os gostos. Algumas em latinhas. Eram inimigas dos dentes... e dos bolsos! Eu observava, atentamente, os cartazes dos próximos filmes. Alguns títulos eram marcados pela beleza: Os Girassois da Rússia, Candelabro Italiano, General Custer, Os 10 Mandamentos, E o vento levou, Cassino Royale...

.........Nós gostávamos mais dos filmes com trilha sonora baseada em belas canções: Dr Givago (Tema de Lara), Candelabro...(Al di la), Dolaro bucatto (com Giuliano Gema), Dio come ti amo (com a Rita Pavone), Non sono degno di te (com Gianni Morandi), In Ginochio da te (com G Morandi), Sem Destino (“Todo mundo está falando, falam de mim eu sei...”).


.........Por morar perto do Cinema, Eu não perdia nenhum filme. Assistia a todos, inclusive os que passavam no meio da semana. Destarte, conheci o Ronald Golias e o Mazzaropi (Jeca Tatu). Este, conquistou a simpatia do Povo, por ser um trabalhador muito dedicado. Filmava todos os dias... A equipe dele não tinha descanso!



.........Na década de 60, foi lançado um álbum de figuras dos artistas. Assim, nós podíamos conhecer melhor o Cinema, a vida, o destino... como o do protagonista do filme Juventude Transviada, James Dean, que nos deixou aos 24 anos de idade! Como o da loira Marilyn Monroe, que partiu, aos 36, no auge da fama (“Os homens preferem as loiras”, “Quanto mais quente melhor”, “O pecado mora ao lado”, “Os desajustados”...)! A maioria dos atores, porém, rompeu a barreira dos 90 anos, para alegria dos amantes do Cinema. Nas salas de aula do Ginásio Sarandi, os professores comentavam os filmes. Nós crescíamos em conhecimento e amadurecimento.


.........Os filmes sobre a conquista do oeste norte americano eram os preferidos pelos jovens e crianças. Chegavam na Cidade, em rolos de filmes trazidos, às vezes, pelos ônibus da Águia Branca. Eram seriados diversos: Billy The Kid, Kit Karson, Roy Rogers, A Marca do Zorro, Tarzan – O Rei da Selva... e O Gordo e o Magro (imbatíveis!). Para o senhor ter uma ideia: o Magro não precisava falar nada... bastava ser filmado com aquela cara de “zonzo”.... 350 guris e gurias riam sem parar!




.........Enquanto a tela apresentava o mundo mágico do Cinema, namorados bem juntinhos de mãos dadas... esperavam uma cena romântica, um sinal verde. Naquelas cadeiras que, hoje, só existem na lembrança, alguns meninos seguraram, pela primeira vez, as mãos de  suas namoradas... Muitos de nós gostávamos de lindas meninas, mas não tínhamos coragem de contar... Nem quando passava programa duplo! Elas compareciam bem arrumadas e perfumadas.


........A seguir, apresentarei alguns nomes de atores e filmes premiados: Walt Disney (a piazada dizia Valdisnei!), Charlton Heston, Kirk Douglas, O Mensageiro Trapalhão (Jerry Lewis), O Professor Aloprado (J Lewis), Casablanca, Cidadão Kane, Jeanne Moreau, Gary Cooper, Montgomery Clift, Catherine Deneuve, Sophia Loren, Teixeirinha (Coração de Luto), Marcelino Pão e Vinho, Moisés, Bem-Hur, Gregory Peck (A Luz é para Todos), Clint Eastwood (Por um punhado de dólares), Bravura Indômita (A protagonista era uma menina!), Guerra e Paz, Lawrence da Arábia, Olimpíadas de Tóquio...



.........Os guris do meu grupo eram: Darci, Ademir, Gauchinho, Bananinha, Tonho, Tique, Junho, Pedro Roberto, Roni e os jogadores do juvenil do Harmonia. O Cine Guarany  nos proporcionou, com idealismo, enormes benefícios: sociabilidade, conhecimento, visão, exemplos, ideias novas, inteligência emocional, saúde do  cérebro, despertar de vocações, entusiasmo... Havia, ainda, um elogiável elo cultural na Cidade: o convênio entre o Cinema  e o Ginásio. Os alunos eram estimulados a estudar, competindo por um “ingresso permanente”, para assistir, de graça, a todos os filmes da semana!

.........Em sinal de gratidão, reconhecemos o trabalho dos sócios e colaboradores do Cinema de Sarandi: senhores Dândalo, Carlos Ruschel, Bortolo de Marco, Carlos Ribeiro, Luis Carlos Baccin, Olinto Baccin, Ivone Cé, Telmo Linhares, Marieta Ávila...


.........Uma Cidade, que mantém um Cinema funcionando, nada tem a perder! A Cidade que não tem Cinema perde muito! Deixo, para refletir, uma frase do Cineasta Italiano Federico Felini: “O cinema é o modo divino de contar a vida.” Obrigado, Cine Guarany!