sexta-feira, 22 de junho de 2018





3. A COMPETÊNCIA


UM HOSPITAL LONGE DEMAIS

.........Na Capital do BRASIL, contrastes se apresentam sem pedir licença. Helicópteros modernos, adquiridos no exterior, cruzam o céu. Nordestinos paupérrimos, com nomes pouco familiares, desembarcam, agora como outrora. Nascidos para votar. Trazidos para votar. Que maldade! No encantador Lago PARANOÁ, lanchas caras deslizam alegres... Uma rádio do Distrito Federal transmite a voz carismática do Missionário R R SOARES... Terá que fazer muitos milagres! Nos gabinetes acarpetados, poderosos exoneram denunciantes. Aplicam do outro lado do mar recursos que deveriam ser aplicados aqui. A prostituição cresce sem parar... no Pistão Sul, nas asas da Cidade... A desigualdade de renda é revoltante. Por quê? Não somos todos brasileiros?  BRASÍLIA está pronta. Falta o homem.
.........Corações verde-olivas, magoados e humilhados, tentam recomeçar. O Batalhão da Guarda prepara-se para receber uma autoridade da EUROPA. Na Companhia Comando, a “Águia do Planalto”, a vida recomeça. No coração dos jovens, bate a saudade e a paixão... Ao Soldado ESTROVALDO só resta cantar:

            CARTAS JÁ NÃO ADIANTAM MAIS

             QUERO OUVIR A SUA VOZ

             VOU TELEFONAR DIZENDO    

            QUE ESTOU QUASE MORRENDO

 DE SAUDADE DE VOCÊ...”

.........O Sargento de Dia, apressado, entra no pátio da Subunidade: “Dá licença, jovem! Fica aí borboleteando... Capitão, o URI baixou ao Hospital das Forças Desarmadas (HFD)!” O Capitão BONDOSO, preocupado, quis saber o motivo. O Sargento ARQUIMEDES respondeu: “Desmaiou na Instrução do Aspirante JOÃO FREDERICO!” “Quero falar urgente com o JOÃO!”, exclamou o Comandante. O Aspirante atendeu ao chamado com presteza. Explicou ao Capitão: “Eu estava ensinando o consumo da nova ração operacional. O URI caiu. Pensou que o álcool gelatinoso era uma espécie de sobremesa...” O Soldado cantor exclamou: “ELE COMEU O FOGAREIRO!” Compreensivo, o Capitão orientou o subordinado: ”Aspirante JOÃO FREDERICO, acompanhe o caso. Temos que salvar esse guri. Daqui a pouco, irei ao Hospital. Mantenha-me informado. Vá à luta. Não perca tempo.”
.........O Comandante da Companhia Comando, de volta ao PC, meio triste e cansado, tenta se distrair lendo a Revista “VEJA QUE HORROR”, editada na CEILÂNDIA.  A leitura foi interrompida pelo Sargento CRACOLDO, Comandante da Guarda: “Capitão, serviço com alteração! O Soldado HESTRU disparou o fuzil. O tiro atingiu o pé do Recruta ANTON. Mandei o motorista da ambulância, Soldado JOÃO BATISTA, levá-lo ao Hospital. Ao manobrar, uma roda da viatura passou por cima da bicicleta do Recruta URI. No caminho, a ambulância furou um pneu. Para complicar tudo, a viatura 'se atolou-se'. Ou seja: atolou as rodas da frente e as de trás! O motorista, com a mão lesionada, não conseguiu trocar o pneu. A Tenente examinou o pé do ANTON. A bala atingiu, apenas, o coturno. Voltaram à pé, da Asa Oeste até o Batalhão. O JOÃO BATISTA ficou cuidando a viatura. Não consegue caminhar. Está com problema no nervo 'asiático'.”
.........Pensativo, sem saber por onde começar, o Comandante tratou, inicialmente, de responder ao subordinado e amigo: “Obrigado, CRACOLDO! A tua memória é boa. Como vão as leituras? Que livro tu estás lendo?” O Comandante da Guarda respondeu: “No momento, não estou lendo nada. Na verdade, estou desmotivado. Fiz concurso. Não fui selecionado. Descobriram que houve venda de vagas...” O Capitão continuou: “Tudo bem. Treine redação. Procure melhorar o estilo. Agora, amigo, chame o Tenente OSÓRIO EMÍLIO. Reassuma o Comando da Guarda do Quartel.”
.........Em poucos minutos, o oficial subalterno se apresentou e recebeu a orientação do Capitão BONDOSO: “OSÓRIO, a ambulância fez algumas barberagens. Um Soldado disparou o fuzil. Instaure uma sindicância. Não podemos perder estas oportunidades de melhoria. Coloque toda a Companhia em forma. Preciso falar com os antigos e os recrutas. Nós vamos melhorar. É o meu dever. A imperícia não pode passar em branco. A incompetência prejudica a todos!”
.........Antes de começar a falar, o Capitão esperou o silêncio total. No uso da palavra, ele sempre foi hábil e caprichoso. Admirado por seus seguidores, não mediu palavras: “Meus comandados! Houve, na manhã de hoje, um disparo acidental de arma e manobras imperfeitas de viatura. Percebi erros de Português. Os militares que me conhecem há mais tempo sabem que estou triste. Numa primeira fase, tomei algumas decisões para evitar que a imperícia volte. Todos nós, juntos, em fases posteriores, iremos aperfeiçoar as decisões. Não quero assustar ninguém, mas os erros de hoje poderiam ter tido consequências trágicas...”
.........O Soldado ESTROVALDO, espontâneo e ansioso, não se conteve: “O que o senhor quer que a gente faça, Capitão?” O Comandante continuou: “Acompanhe, jovem cantor, as decisões. Em caso de dúvidas, explicarei no final. Primeira – Foi instaurada uma sindicância. Segunda – Todos os soldados repetirão a Instrução de Armamento. Terceira – Os motoristas farão Curso de Reciclagem. Quarta – Uma Professora do Colégio Militar ministrará aulas de Português. Quinta – Vou coordenar um Sistema de Livros. Objetivo: incentivar a leitura, a redação e o aperfeiçoamento. Sexta – Realização de Concursos de Redação, com bons prêmios. Sétima – Faremos Palestras de Motivação. Oitava – Ofereceremos Cursos de Habilitação. Objetivo: quem sair do EXÉRCITO já terá um ofício. Nona – Aplicaremos Testes Vocacionais para todos. Tenham todos uma boa tarde! Não se esqueçam: estamos diante de uma grande oportunidade... de renascer! Até amanhã! Águia do Planalto, fora de forma, marche!”
.........O Capitão BONDOSO, primeiro de turma da AMAN, em sua caminhada, encontra o motorista da ambulância seminova, o Soldado JOÃO BATISTA. Indaga-lhe: “O que houve, JOÃO? Por que a viatura não chegou ao seu destino?” O motorista respondeu: “O Hospital fica longe demais!”          

ANÁLISE DOS FATOS

.........O risco é constante na vida castrense. O perigo é companheiro do militar. Este vive entre a vitória e o fracasso. Segundos de imperícia colocam tudo a perder. O Comandante sabe disso. Ficou magoado com a incompetência desta manhã. Tomou decisões firmes e claras para começar a resolver um problema crônico. Competência é capacidade. É a primeira qualidade que o Soldado observa no Comandante. Nem todos os homens são competentes. Mas, não há líder incompetente. A competência é atributo atingível. Pelo aperfeiçoamento da cultura, da capacidade profissional, do preparo físico e da arte de lidar com as pessoas.        

CONCLUSÃO

.........O Bom Soldado cultua a competência. Esta reduz os riscos de acidente. Aumenta as chances de vitória.     

.........“Todos os homens são bons, mas não para todas as coisas.” ( VICTOR HUGO ).

.........“A competência sem autoridade é tão impotente como a autoridade sem competência.” ( GUSTAVE LE BON ).

.........“O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.” (WILLIAM GEORGE WARD).









sexta-feira, 8 de junho de 2018

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2. A HONESTIDADE
     
O DIA EM QUE O CAPITÃO CHOROU
     
.........Na Capital do BRASIL, o ar está seco. A Dengue já é quase uma epidemia. No Batalhão da Guarda, os disciplinados militares começam, com entusiasmo, mais uma sessão de Treinamento Físico Militar. Na Companhia de Comando, a orgulhosa “Águia do Planalto”, começa um "drama dramático", como diria o saudoso ODORICO. A Honestidade, um dos maiores pilares das Forças Armadas, aparentemente começa a desmoronar.
.........Neste momento, o Cabo DORMÊNCIO, oriundo de DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL, entra na sala do Sargenteante. Onde desempenha, há vários anos, a função de Cabo do Boletim. Coloca sobre a mesa alguns pertences: carteira, molho de chaves, telefone, remédios... Senta, cochila e ronca, visivelmente exausto. O Recruta FURTIVO (Paulista), que faltou à Educação Física, aparece de repente e pede ao Sargento GARCIA numerário emprestado. Alega querer fazer um lanche na cantina do Batalhão (não havia o que comer em casa!) e comprar algumas coisas que a Mãe pediu. “Hoje não! Quando sair o soldo. Estou indo pra Física!”, responde o graduado.
.........O Recruta FURTIVO GATTO aproxima-se, lentamente, dos objetos que o Cabo DORMÊNCIO BELICHE deixou sobre a mesa. O Comandante da Companhia, Capitão BONDOSO, é um dos descendentes diretos do Cadete Mais Ilustre da História do Brasil, o DUQUE DE CAXIAS! Ele merece um desgosto desses? O cérebro humano tem o poder de mandar parar tudo. E pensar. Escutar. Antes de sair por aí jogando pedras e crucificando um irmão, por que não acompanhar as reflexões do Analista de Riscos do Batalhão?
.........Oficial de Inteligência: “A situação apresenta várias possibilidades. O jovem poderá apanhar algo do Cabo, que está doente, com Dengue. Responderá sindicância. Será excluído do EXÉRCITO. Poderá, apenas, manusear os objetos. Falta de educação! Motivo de punição! Perderia a vaga no Curso de Formação de Cabo. Poderá, ainda, seguir em frente... E o que dizer em casa? Não existe nenhum Pai no mundo que não lamente, profundamente, ao receber uma notícia, segundo a qual seu filho amado furtou alguma coisa no Quartel!  O Recruta está com fome. Eu também já passei fome. Está com dificuldades e longe de casa. Também passei por isso. Nada furtei. Esse menino vem de família boa (OLIVEIRA). Conheço o Pai dele. É um grande homem. No Parque da Cidade é conhecido como ANDRÉ. Tem boa formação. É voluntário para servir ao EXÉRCITO. Acredito nele. É honesto. É um líder. Poderá fazer uma carreira brilhante! A probabilidade do Soldado ANDRÉ furtar alguma coisa é... ZERO POR CENTO! A Honestidade já fez morada no coração dele, um CORAÇÃO DE SOLDADO...”
.........Para surpresa geral, o Cabo do Boletim desmaia. O Soldado ANDRÉ percebe. Age. Chama o Comandante, o Capitão de Infantaria, BONDOSO. Ambos transportam o doente para a Enfermaria. Não há tempo a perder. Pode ser algo grave...
.........Ao retornar ao Posto de Comando (PC), o Capitão chama o Comandante do 1º Pelotão (Tenente OSÓRIO EMÍLIO). Ordena-lhe: “O Soldado ANDRÉ, que na lista apareceu como FURTIVO, talvez por uma brincadeira de mau gosto, teve uma atitude elogiável. Ajudou a salvar o Cabo DORMÊNCIO, nesta manhã.  Mude o número dele (para 001). O seu nome de guerra passará a ser: ANDRÉ OLIVEIRA. A família dele já deu vários presidentes. Reúna o Pelotão. Elogie o Soldado ANDRÉ. Ele merece. Capriche na educação desse menino. Vai ser o meu braço direito.” 
.........A seguir, indaga ao Sargento GARCIA por que o nome do ANDRÉ estava errado na relação. O Sargenteante responde: “Vírus no computador.” “E bactéria no Cabo!”, acrescenta o Capitão.                          
.........Uma comitiva de religiosos visita os quartéis do Setor Militar Urbano (SMU). Profundamente atencioso e místico, o Comandante solicita o parecer deles sobre o episódio de hoje. O Rabino JACÓ, com a sua tradicional humildade, faz uma locução profunda:  “Boa tarde! Feliz Dia do Soldado! Eu e meus colegas ficamos emocionados com a Formatura e com o Teatro, criativo e de muito bom gosto. É gratificante participar desta integração oportunizada pelo EXÉRCITO. No caso em que o jovem estava sob suspeita, devo ser prudente. As pessoas devem ser tratadas como inocentes, até a sentença do Juiz. Devemos considerar a pessoa de quem erra. As obras dela servem de fator para a redução da pena. Há casos em que pessoas boas cometem falhas, em função da ingestão de medicamentos. Às vezes, demais, às vezes, de menos. Ou até mesmo em horários errados, sem disciplina. Segundo a Bíblia, não devo julgar para não ser julgado. Errar é humano. Perdoar é Divino.  Dê às pessoas, sempre, uma segunda chance. Elas renascerão das cinzas. O que vale, para DEUS, é daqui para frente... Muito obrigado!”

.........Análise dos Fatos – Quando um Soldado revela falta de caráter, denigre a imagem da Companhia. O Comandante chora de desgosto. Afinal de contas, luta, diuturnamente, pela grandeza de uma organização que aprendeu a amar, desde o primeiro dia, quando passou pelo portão principal. Mas, no fundo, sabe que os oficiais e sargentos não tiveram culpa. O caráter de um homem forma-se na infância. Se, na educação de uma pessoa, a família falhou... a catequese falhou... a escola falhou... caberá ao Tenente trabalhar, com a mente e o coração.  E, se possível, de vez em quando, fazer um milagre...  Hoje, o Capitão chorou. Mas foi de emoção. O subordinado nada furtou. Teve oportunidade. Portou-se com Honestidade. Todos se emocionaram. O universo torceu por ele. O mundo gosta de pessoas honestas. E abre suas portas... para que sigam em frente...
  
.........Ensinamentos – Um coração juvenil só pode ser verde-oliva se, nele, a Honestidade fizer morada. “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim. Não, não. Porque o que passa disto é de procedência maligna.” (São Mateus). “A ninguém queirais extorquir coisa alguma; nem deis denúncia falsa; e contentai-vos com o vosso soldo.” (São Lucas).





"Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino."

Jucelino Kubitschek de Oliveira